23 de fev. de 2009

Senador Paim lançado pré-candidado a Presidente


A força do anti-candidato Paim



Paulo Moreira Leite
Sáb, 21/02/09
por Época

Acho que o senador Paulo Paim (PT-RS) vai dar mais trabalho ao PT do que ele próprio acredita.

Paim foi lançado pré-candidato a presidente da República por lideranças do movimento negro, do movimento sindical e dos aposentados. Gaúcho, Paim tem uma base forte no Rio Grande do Sul, que lhe deu 2,5 milhões de votos como senador em 2002.

Negro, sua capacidade de conquistar votos onde não se imagina já fez dele um campeão de apoio em cidades italianas e alemãs, aquelas que pareciam sob encomenda para candidatos louros, de pele branca.

Político cuja astúcia nem sempre é compreendida pelos adversários - que subestimam a competência de quem tem berço popular com uma teimosia de quem ainda não prestou atenção em Lula - Paim se declara candidato a senador sempre que se toca em 2010. Confirma o voto em Dilma Roussef antes que lhe perguntem. Não é jogo duplo.

Paim é da mesma geração de sindicalistas que produziu Lula, uma turma que não costuma ir para o sacrifício nem tem vocação para gestos heróicos. Detesta brigas inúteis, não sobe em palanque sem necessidade.

Tem chances imensas numa disputa pelo Senado e, caso seja reeleito, ficará onde se encontra até 2018, quando estará com 66 anos. Bastam 5 minutos de conversa para entender que esse horizonte é melhor do que qualquer sonho ocorrido quando, no regime militar, ele pedia votos para sua chapa da oposição metalúrgica.

O problema de Paim é que ao lado dele os problemas eleitorais de Dilma se tornam mais visíveis. Deixando de lado a questão da competência, a ministra tem a benção do chefe, o que lhe garante os amores sinceros e os fingidos do aparelho, além de abrir portas nos salões onde poucos são chamados a entrar.

Mas é um típico produto de gabinete, que combatia atrás de uma escrivaninha mesmo quando participava da luta armada.

Paim tem o passado de quem lutava para fazer o salário mínimo chegar a US$ 100 e ouvia os sabidos da matemática econômica dizerem que o país iria acabar. (Hoje, o mínimo passou de US$ 200).

Paim é levado a sério por muitos aposentados num país onde um presidente da República chegou a chamá-los de vagabundos.

O senador alinhavou cláusulas que reunem os direitos dos brasileiros negros quando se achava que isso era hip-hop do Harlem. Na hora em que os mais espertos acordaram, as cotas tinham virado um debate pouco inteligente. Ninguém prestou atenção em Paim nessa discussão: ao contrário da deputada do DEM que quer criar uma reserva de mercado em função da cor da pele, e que pretende garantir vagas na lei e na marra, Paim defende cotas como sugestão, como possibilidade - não como uma imposição.

Com toda essa biografia, ele não é candidato a presidente, mas a símbolo - numa época em que isso faz falta.

Essa é a marca do anti-candidato Paulo Paim.

http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite/2009/02/21/a-forca-do-anti-candidato-paim/#comments

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