9 de abr. de 2009

“China infeliz” Livro prega supremacia chinesa e acusa Ocidente de complô


Um livro que defende mais agressividade da China em relação ao resto do mundo e que acusa um complô do Ocidente para derrubar o país chegou ao topo da lista dos mais vendidos.

Em menos de três semanas, o ultranacionalista “China infeliz” já vendeu mais de 150 mil cópias. Edições piratas são encontradas em camelôs, e o conteúdo já foi pirateado para a internet.

Com ensaios de cinco autores -três professores universitários e dois jornalistas-, “China infeliz” diz que o país precisa “liderar o mundo”, ver os Estados Unidos “como maior inimigo, pois se trata de uma disputa”, e pede que o governo invista mais em força militar e em tecnologia.

“Olhando a história da civilização humana, nós somos os mais qualificados para liderar o mundo; os ocidentais devem vir em segundo”, diz o livro.

Com o subtítulo “A grande época, grande visão e nossos desafios”, a obra alega que os chineses ainda se sentem “sufocados pelas críticas ocidentais e pelo desrespeito à nossa soberania” e defende que o país abandone seu complexo de inferioridade.

“A crise econômica deixou o Ocidente mais fraco e a China mais forte, é hora de exigirmos nosso lugar no mundo”, disse à Folha um dos autores, o jornalista Song Qiang, 43.

A China já é a terceira maior economia do planeta e deve superar o Japão, a segunda, em menos de dois anos. Mas o país ainda não está no G8, nem tem posição de peso no Banco Mundial, apesar de ter assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Os autores querem mais.

“O plano do Ocidente a longo prazo é derrubar a China. Os EUA são nosso maior inimigo, nunca compartilharão sua tecnologia conosco“, diz Song. “A China precisa investir mais em segurança, em suas Forças Armadas, investir mais na África e na América Latina, precisamos de aliados”.

Vários trechos do livro se parecem à retórica dos livros escolares chineses -”o mundo conspira contra a China”, “não se pode confiar nos estrangeiros”- e até repete obsessões do governo em mais investimentos militares e em tecnologia autóctona.

Críticas ao governo

Mas o livro também critica o governo, dizendo que parte da infelicidade chinesa se dá pela ausência de democracia e de abertura, pela corrupção generalizada e pela falta de uma defesa maior da soberania.

A obra tem causado tanta polêmica que os principais portais da internet chinesa tem fóruns diários sobre se a China está ou não infeliz.

Quem não parece feliz com o livro é o governo. A mídia estatal tem criticado duramente a obra, por “faturar em cima do nacionalismo dos mais jovens”, “ter linguagem extremista, radical” e “não promover o diálogo, necessário em tempos de crise”. “”China infeliz” pesca dinheiro dos bolsos dos jovens raivosos e dos idosos raivosos”, escreveu um colunista no estatal “Diário da Juventude Chinesa”.

“É muito irônico porque há elogios ao livro em reportagens em chinês, e críticas ao livro nos despachos em inglês”, defende-se Song. “Parece que o governo quer dizer aos ocidentais que o nacionalismo está sob controle.”

O autor vai além. “Talvez o governo prefira o nacionalismo que ele mesmo promove, pois o nosso é autônomo, sincero, patriótico”.

O sucesso da obra é mais um sinal do crescente ultranacionalismo na China - às vezes, estimulado pelo governo.

No ano passado, depois que ativistas tibetanos tumultuaram a passagem da tocha olímpica de Pequim 2008 por Paris, chineses fizeram boicote a marcas francesas e houve manifestações de milhares de pessoas nas portas dos supermercados Carrefour.

Song afirma que o combate à autonomia do Tibete é fundamental. “Os tibetanos exageram a sua situação para os jornalistas estrangeiros. Admito que eles sofreram muito com a Revolução Cultural e que o governo fez coisas erradas por lá, mas todos os chineses já sofreram nas mãos do governo”, diz.

FONTE: Folha de São Paulo

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