4 de set. de 2012

MG: CANDIDATO A PREFEITO JÁ VEM COM TORNOZELEIRA ELETRÔNICA

TEMPO REAL - Toninho, sua tornozeleira e o monitoramento da PF: ele estava em Brasília (Cristiano Mariz/Rodrigo Oliveira)

Reportagem de VEJA desta semana mostra como o prefeito Antônio Cordeiro, acusado de desviar recursos dos cofres municipais, pede votos

Marcelo SperandioO vasto anedotário da política nacional, no igualmente farto capítulo das malfeitorias, já incluía personagens tão curiosos quanto o "homem do dólar na cueca", Silvinho Land Rover, os aloprados e o impagável "Vavá dá dois pau pra eu". Agora, um novo tipo vem juntar-se a essa galeria. Um passo à frente, por favor, Toninho Tornozeleira. A população de Coração de Jesus, município no norte de Minas Gerais, assim apelidou o seu prefeito, Antônio Cordeiro (PSDC). Candidato à reeleição, ele foi afastado do cargo por denúncias de corrupção e, desde a semana passada, é obrigado pela Justiça a andar com uma tornozeleira eletrônica - aquele acessório destinado a evitar que criminosos que escaparam por pouco da prisão escapem também do radar da polícia.

A PF descobriu, em junho, que um esquema atribuído a Toninho surrupiou 2,7 milhões de reais de verbas federais destinadas à prefeitura. O dinheiro vinha de dois convênios com o Ministério da Integração Nacional. Um contrato, de 2009, destinou 1,2 milhão de reais à reconstrução de uma ponte e à reforma de duas barragens. Outro, de 2010, no valor de 1,5 milhão de reais, previa a recuperação de 100 quilômetros de estradas vicinais. Segundo a polícia, nenhuma obra foi realizada, e o dinheiro acabou repartido entre Toninho, o contador da prefeitura (seu atual candidato a vice), o secretário municipal de Transportes e os donos das duas construtoras que venceram as licitações fraudulentas. Cada um teria amealhado 540 000 reais. Durante a investigação, servidores e empresários disseram que estavam sendo ameaçados pelo grupo do prefeito para mentir nos depoimentos e negar os desvios. A PF pediu, então, a prisão dos envolvidos. A Justiça rejeitou a solicitação, mas impôs medidas alternativas: afastou Toninho e os dois assessores dos cargos, mandou-os ficar a pelo menos 100 metros da prefeitura e proibiu o contato entre eles. Para verificar se as ordens estão sendo cumpridas, determinou que os três utilizem tornozeleiras eletrônicas - monitoradas em tempo real na tela dos computadores da PF. Se alguma condição for violada, um alerta será disparado automaticamente - e o infrator pode ir para a cadeia.

O monitoramento não tem prazo estabelecido. A Justiça decretou o uso do equipamento até o fim das investigações, ainda sem previsão de conclusão. Toninho Tornozeleira nega todas as acusações: "Sou vítima da maior perseguição política da história do Brasil". Enquanto isso, o prefeito afastado tenta reverter a decisão por conta própria. Depois de cruzar 500 quilômetros de estrada, passou a última semana inteira em Brasília, articulando com amigos e apoiadores o fim do seu "constrangimento", como ele diz. Sobre isso, afirma o delegado da PF Marcelo Freitas: "O político deveria ficar constrangido por roubar dinheiro público, não por usar uma tornozeleira". E a galeria cresce...

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