25 de abr. de 2014

BRASIL IMPRODUTIVO

Não faltará quem se agaste, por aqui, com o tom um tanto derrisório da reportagem desta semana na revista britânica "The Economist" sobre a economia do Brasil. Será um erro, daqueles que se explicam quando a paixão turva o raciocínio e a objetividade.

"Você começa a perder tempo no momento em que pisa no Brasil", queixou-se à publicação o empresário texano Blake Watkins, que saiu de Nova York para abrir um restaurante fast food em São  Paulo.

Não é preciso deixar de ser patriota para reconhecer que o empresário tem razão. Basta atentar para o trânsito infernal,  a morosidade da burocracia, o custo e a qualidade incompatíveis dos serviços públicos ou privados.

A "Economist" não se limita a juízos de valor, e talvez por  isso cause tanto incômodo. O Brasil investe só 2,2% do PIB  em infraestrutura, muito abaixo da média de 5,1% no mundo  em desenvolvimento. De 278 mil patentes concedidas em 2013  pelos Estados Unidos, meras 254 foram para invenções brasileiras.

No domingo, reportagem desta Folha corroborou o descaso nacional com a inovação, mãe verdadeira do aumento sustentável de  produtividade. O Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) consome em média 10 anos e 10 meses para conceder uma  patente. No campo das telecomunicações, o prazo médio está em 14 anos e 2 meses.

Entre países desenvolvidos, esse intervalo não ultrapassa três anos: nos EUA são 2 anos e 7 meses; no Japão, 2 anos e 6 meses; na China, 1 ano e 11 meses. Não é difícil compreender por que um empreendedor descartaria o Brasil como opção para sediar um laboratório de desenvolvimento de  semicondutores, por exemplo.

A chave do atraso, como aponta com exatidão a revista britânica,  está na produtividade.

O produto anual do trabalho de um empregado brasileiro está na casa de US$ 20 mil (calculado pela metodologia de paridade de poder de compra). Nos anos 1960, era da ordem de US$ 15 mil, maior que o obtido por sul-coreanos –os quais, hoje, produzem quase US$ 70 mil. A China, que partiu de patamar muito inferior, já nos alcançou.

Não estranha, assim, que o Brasil esteja perdendo mercado para exportações chinesas até na Argentina, sua grande parceira de  Mercosul. Em 2005, a participação brasileira nas importações argentinas estava em 36,5%; no primeiro trimestre de 2014,  ficou em 24,8%. No mesmo período, a China saltou de 5,3% para 
18,4%.

Indignação, apenas, nada pode contra essas cifras acabrunhadoras. É imperativo convertê-la em brio, algo muito mais produtivo.

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