28 de jul. de 2015

POR QUE ALGUMAS PESSOAS ESPIRRAM AO OLHAR PARA A LUZ?


 Reação à luz afeta de 17% a 35% da população mundial, segundo estudos

Jason G. Goldman - Em 1991, o patologista Emyr Benbow, da Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha, pediu ao editor da principal revista científica de oftalmologia do país para encontrar um nome para um fenômeno que lhe afligia: cada vez que saía de um ambiente escuro para a luz, começava a espirrar sem parar. “Até mesmo sintomas triviais podem ser tolerados facilmente quando eles ganham um nome”, argumentou. Daí surgiu o termo “espirro fótico”.

A primeira investigação formal do reflexo foi provavelmente feita por um pesquisador francês no começo dos anos 1950. Ele descobriu que alguns pacientes espirravam quando eram submetidos a exames na retina, com um aparelho que projetava uma luz em seus olhos.

Examinando esses indivíduos, o cientista percebeu que eles reagiam da mesma maneira imediatamente depois de serem expostos à luz solar, a flashes e até a uma radiação ultravioleta.
Na mesma época, outros cientistas também começaram a estudar o fenômeno e chegaram à conclusão de que o problema atinge de 17% a 35% da população mundial.


Possível ligação nervosa entre olhos e nariz poderia explicar reflexo

Hoje já se sabe mais sobre os mecanismos biológicos por trás do espirro fótico. O reflexo também é conhecido pelo acrônimo Achoo (“atchim” em inglês e também a sigla para Reação Helioftálmica Irresistível Dominante e Autossômica). Ou seja, trata-se de uma reação ligada a um gene não ligado ao sexo e que, para se manifestar, basta ser herdado de um dos pais.

Em 2010, um grupo de geneticistas da empresa de testes genéticos 23andMe, liderada por Nicholas Eriksson, identificou dois polimorfismos de nucleotídeo único associados com o espirro estimulado pela luz, ao avaliar o genótipo de quase 10 mil pessoas.

Esses polimorfismos são alterações em letras dentro da biblioteca genética de um indivíduo. Um deles fica perto de um gene conhecido por participar de convulsões epiléticas estimuladas pela luz. Isso aumenta a possibilidade de que haja algum tipo de ligação biológica entre as duas síndromes.
Há pouquíssimos estudos laboratoriais sobre o problema, mas o médico Harold H. Morris, de Cleveland, conseguiu fazer um relato de caso, quando recebeu como paciente uma mulher de 55 anos com histórico de convulsões espontâneas ou induzidas pela luz. Ela achava que “espirrava por qualquer motivo”, mas nunca percebeu que poderia se tratar de uma resposta à luz.

Para descobrir, Morris incidiu luzes fortes em seus olhos de várias maneiras. Em um artigo no Cleveland Clinic Journal of Medicine, o médico afirma que ao expor a paciente a luzes de 15 Hz, ela espirrava. Em média, o espirro acontecia 9,9 segundos após o primeiro flash, repetindo-se pelo menos uma vez logo em seguida. “O intervalo entre espirros é de 2 a 4 segundos”, anotou Morris.

Para ele, no entanto, a frequência de onda de 15 Hz foi pura coincidência, já que não há motivos biológicos para acreditar que esse valor tenha algo particular.

Ligações nervosas
Apesar dos dados coletados pelos diferentes cientistas, ninguém ainda sabe ao certo como a estimulação óptica leva a um espirro. Uma hipótese é a de que os olhos e o nariz sejam ligados pelo nervo trigêmeo, ou o quinto nervo craniano.

O reflexo também poderia ser o resultado de um processo chamado de “generalização parassimpática”: quando um estímulo excita uma parte do sistema nervoso parassimpático, outras partes do corpo tendem a serem ativadas também. Quando uma luz forte leva as pupilas a se contraírem, isso também pode indiretamente produzir uma congestão nas membranas mucosas nasais, o que leva ao espirro.

Apesar de parecer uma situação corriqueira sem grandes consequências, os pesquisadores alertam que esse tipo de reação pode ser bastante perigosa em algumas situações. “Um exemplo é quando alguém sai de um túnel com seu carro e espirra por causa da luminosidade, sofrendo uma cegueira momentânea”, explica Benbow. Uma maneira simples de resolver o problema é usar óculos escuros, segundo os cientistas.

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