13 de ago. de 2019

Entrevista com Iván Simonovis, ex-chefe Nacional de Operações da Venezuela

Iván Simonovis é ex-chefe de segurança da Prefeitura Metropolitana de Caracas. (Foto: Marcos Ommati / Diálogo)

Iván Antonio Simonovis Aranguren, 59, foi condenado a prisão por sua suposta responsabilidade nas mortes ocorridas em abril de 2002, em um incidente conhecido como o “Massacre de Puente Llaguno”, durante o fracassado golpe de Estado contra Hugo Chávez.

Anderson Gabino - Simonovis, ex-chefe de segurança da Prefeitura Metropolitana de Caracas e ex-chefe Nacional de Operações da Venezuela, foi detido quando estava prestes a viajar para os Estados Unidos e foi condenado a 30 anos de prisão.

Devido à sua saúde debilitada, mais tarde foi transferido para prisão domiciliar. No entanto, os defensores do ex-policial insistem que sua culpa nunca foi comprovada e que a sua prisão foi feita em decorrência de uma vingança política.

Em maio de 2019, apesar da vigilância reforçada em sua casa em função de um indulto assinado pelo presidente interino da Venezuela Juan Guaidó, Simonovis conseguiu empreender uma fuga cinematográfica, que envolveu a escalada de uma parede de 25 metros, o uso de um bote e de uma pequena aeronave, para chegar aos Estados Unidos.

Para falar sobre o presente e o futuro da Venezuela, Diálogo conversou com Iván Simonovis em Miami, onde tem residência temporária, além de um escritório em Washington, D.C.

Por que você decidiu fugir de sua casa, embora soubesse que a vigilância estava reforçada?
O número de policiais em frente à minha casa foi redobrado, começaram a bisbilhotar e faziam fotos minhas diárias com um jornal do dia. Eu tinha a foto, uma pulseira eletrônica, e essa é a maneira típica com a qual eles controlam as entradas e saídas da casa.

Minhas visitas eram restritas, minhas declarações eram restritas, meu uso da mídia e das redes sociais era restrito. Assim sendo, decidi que era hora de buscar uma saída e buscar minha liberdade.

Eu soube também que meu caso havia sido levantado em uma reunião com Maduro em Miraflores, porque queriam soltar alguns presos políticos e chegaram ao meu nome, e ele disse:

“Não, que esse continue onde está. Que ele morra nesse lugar”. Tudo indicava que eu jamais teria possibilidade de sair e que envelheceria sozinho dentro da minha casa; foi então que decidi fugir e sair do país.

Você teve ajuda de agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional? Isso demonstra uma ruptura entre os agentes do SEBIN e Nicolás Maduro?
É impossível que uma pessoa como eu, com o nível de importância que Iván Simonovis tem para o governo, sem qualquer tipo de documentação, saia de casa em Caracas e em seguida deixe o país, sem a ajuda de funcionários militares e policiais.

Existe uma série de funcionários de polícia e oficiais militares que são contra o que vem acontecendo no país. Há o que eu chamo de memória genética do que é a realidade, do que é a democracia, e eles simplesmente não estão satisfeitos nem contentes.

Eles passam pelas mesmas penúrias por que passam todos os demais cidadãos: falta de comida, falta de remédios, salários muito baixos, não são treinados e não estão equipados, ou seja, são condições extremamente deploráveis.

Essas pessoas me ajudaram a sair da Venezuela, com o compromisso de que, uma vez em território dos EUA, eu sondasse como articular reuniões, como eu poderia ajudar, como eu poderia passar as informações que eles mesmos estão me fornecendo, para de alguma forma agilizar a saída ou a queda do regime.

Por que, com tudo isso que você mencionou, tantos militares e policiais ainda apoiam Maduro?
Existe um ditado que diz que a dieta favorita do ditador é pão e água. É a pão e água que você será mantido. Na Venezuela existem atualmente 800 presos políticos: 600 civis e 200 militares.

Basta ver o que acabou de acontecer há alguns dias com o Capitão de Corveta da Marinha Acosta [Rafael Acosta Arévalo, que estava sob custódia das autoridades venezuelanas por sua suposta participação em uma conspiração contra Nicolás Maduro e que aparentemente foi torturado até a morte na prisão], para que você veja até onde esses senhores são capazes de chegar.

Ou seja, absolutamente nada lhes importa. Todas essas estratégias que eles utilizam são práticas que já existem há 60, 70 anos, e deram resultados em Cuba, deram resultados em outros lugares, porque isso faz parte de um estudo que tenho a certeza de que eles fizeram.

Todos na Venezuela têm medo de conversar entre si, ou seja, já lhes mandaram uma mensagem subliminar de que não se pode confiar em absolutamente ninguém. Às vezes eu falava com cinco funcionários e dos cinco nenhum deles confiava nos demais. Eles me diziam “não confie nele” e, no entanto, eles confiavam em mim.

Falando de segurança, qual é o principal problema da Venezuela atualmente?
A guerrilha colombiana em geral, o ELN e as FARC, que não são um problema apenas para a Venezuela, mas para todos os países vizinhos e também para os Estados Unidos. Eles estão protegidos, estão sob o manto protetor do governo do ditador Maduro.

O Hezbolá é outro grande problema. Eles têm empresas e fazem coisas que parecem legais na Venezuela, mas isso é só fachada; as coisas que eles financiam são para fazer atividades ilegais fora da Venezuela.

Isso não é uma ameaça para a América Latina, não é uma ameaça para os Estados Unidos; é uma ameaça para o mundo. É como a terra de ninguém, é como o ISIS [Estado Islâmico, em inglês] na Síria e como todos esses grupos que andam pelas terras de ninguém, planejando e praticando atos sem que ninguém lhes toque.

O que podem fazer os países que vêm sendo mais afetados com a imigração em massa de venezuelanos, como Brasil, Colômbia, Equador e Panamá?
Eu diria que se deve fazer algo exatamente como foi feito durante a II Guerra Mundial. O que fazer para deter Hitler? Naquela ocasião, se aliaram até aqueles que ninguém imaginaria que poderiam se aliar, como os russos e os americanos.

Mas, houve uma coalizão de países que tiveram a resoluta determinação de deter Hitler e sua máquina assassina. E como isso foi feito? Houve uma coalizão que entrou em um acordo e determinou o dia; eles se prepararam, se uniram, treinaram juntos e invadiram os países que deveriam invadir através da Normandia, para poderem retomar a França e recuperar tudo o que [Hitler] havia feito.

Ou seja, na minha opinião, esse é um ponto que é mais político do que o da minha expertise. É uma decisão política do Equador, Colômbia, Brasil, Panamá, países das Antilhas no Mar do Caribe, que se vêm afetados como todos os demais.

Em primeiro lugar, no lado econômico, porque quando 500.000 pessoas passam pelas suas fronteiras, ocorre um desequilíbrio econômico muito grande, mais ainda para esses países que não são ricos.

Por outro lado, é público e notório que nos países do sul existem criminosos venezuelanos que já não podiam continuar operando na Venezuela, porque, segundo eles, “aqui não há mais nada para roubar”, e foram para outros países.

No Peru, no Equador, na Colômbia, há quadrilhas criminosas assassinando e assaltando bancos, joalherias… então, são dois problemas que essas pessoas têm. O que você faz quando um câncer tem metástase? É preciso fazer uma limpeza completa e letal.

Assim, eu diria que o mundo precisa tomar uma posição e dizer: “vamos fechar a Venezuela completamente e vamos fazer algo com hora e data marcadas. Vocês têm dois dias, três dias, um mês para deter isso, caso contrário nós vamos entrar e tirar todos de lá”.

Como será o futuro da Venezuela?
Há 30 anos, ninguém jamais imaginaria que a Colômbia se tornasse a potência que é hoje. É um país próspero, um país com pessoas cultas, um país com tecnologia.

E não é um país rico, porque a Colômbia não é um país rico. Nós temos a nosso favor a possibilidade de sair da crise principal em um tempo prudencial, razoável, muito curto.

Em três anos a Venezuela estará fora disso. Após há um processo de educação, que durará cerca de 20 anos. Entretanto, é preciso que se faça, é preciso recuperar os princípios, a moral. Tudo isso deve envolver a sociedade, as polícias, os políticos, tudo.

Creio que isso é algo que se pode fazer, sempre e quando existirem os líderes necessários, os bons líderes, e que o cidadão venezuelano entenda verdadeiramente que roubar, que ser o esperto, não leva a nada. É uma questão de cultura. E essa cultura deve ser trabalhada; ela é plausível, sempre e quando for posta em prática.

Com informações da Revista Diálogo, por: Marcos Omatti

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