29 de jan. de 2009
O rei Astor
Astor, poderoso rei que dominava a Pérsia e vastas planícies do Irã, que era apelidado “O Sereno” mandou chamar os três maiores sábios da Pérsia e entregou a cada um deles dois dinares de prata e disse-lhes:
Há neste palácio três salas iguais completamente vazias. Ficará, cada um de vós, encarregado de encher uma das salas, não podendo, entretanto, despender nessa tarefa quantia superior a que acabo de confiar a cada um.
O problema era realmente difícil. Cada sábio devia encher uma sala vazia, gastando apenas a insignificante quantia de dois dinares.
Partiram os sábios a fim de cumprir a missão de que haviam sido encarregados pelo caprichoso rei Astor.
Horas depois regressaram à sala do trono. O monarca, interessado pela solução do enigma, interrogou-os.
O primeiro, ao ser interrogado, assim falou:
Senhor! Gastei dois dinares, mas a sala que coube ficou completamente cheia. A minha solução foi muito prática. Comprei vários sacos de feno e com eles enchi o aposento do chão até o teto.
Muito bem! – exclamou o rei Astor, o Sereno. – A vossa solução simples e rápida foi realmente muito bem imaginada. Conheceis, a meu ver, a “parte material da vida” e sob esse aspecto, haveis de encarar todos os problemas que o homem deve enfrentar na face da terra.
A seguir, o segundo sábio, depois de saudar o rei, disse com certa ênfase:
No desempenho da tarefa que me foi cometida, gastei apenas meio dinar. Quero explicar como procedi. Comprei uma vela e acendi-a no meio da sala vazia. Agora, ó Rei, podeis observá-la. Está inteiramente cheia de luz.
Bravos! – concordou o monarca. – Descobriste uma solução brilhante para o caso! A luz simboliza a parte espiritual da vida. O vosso espírito acha-se, pelo que me é dado concluir, propenso a encarar todos os problemas da existência do ponto de vista espiritual.
Chegou, afinal, ao terceiro sábio, a vez de falar. Eis como foi resolvida por ele a singular questão.
Pensei, a princípio, ó Rei dos Quatro Cantos do Mundo, em deixar a sala entregue aos meus cuidados exatamente como se achava. Era fácil ver que a aludida sala, embora fechada, não se encontrava vazia. Apresentava-se (é evidente) cheia de ar e de trevas. Não quis, porém, ficar na cômoda indolência enquanto os meus dois colegas agiam com tanta inteligência e habilidade. Resolvi agir também. Tomei, pois, de um punhado de feno da primeira sala, queimei esse feno na vela que se achava na outra, e com a fumaça que se desprendia enchi inteiramente a terceira sala. Será inútil acrescentar que não gastei a menor parcela da quantia que me foi entregue. Como podeis verificar, a sala que me coube está cheia de fumaça.
Admirável! – exclamou o rei Astor. – Sois o maior sábio da Pérsia e talvez do mundo. Sabeis unir, com judiciosa habilidade, o material ao espiritual para atingir a perfeição.
(Do livro “O Homem Que Calculava”, de Malba Tahan)
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