5 de fev. de 2009
Pirata enrolado
Numa noite nevoenta, um velho pirata se aproximou mancando de uma obscura taverna próxima às docas. Ele tinha uma perna de pau, um gancho no lugar da mão e um sebento tapa-olho. Sentou-se diante do balcão do bar logo ao lado de um rapaz e mandou vir uma cerveja. Pouco depois, o jovem e curioso mancebo educadamente interpelou o lobo do mar quanto aos motivos de ele ostentar aquela perna de pau.
O pirata fungou, pigarreou e respondeu:
— Bem, um dia eu estava de pé no convés de meu navio durante uma terrível tempestade e uma onda gigantesca me arrastou para o mar. Antes que me desse conta, um maldito tubarão surgiu dentre as vagas e arrancou a minha perna.
Impressionado mas não satisfeito, o enxerido jovem perguntou logo em seguida como foi que o pirata havia perdido a mão. Pacientemente, o flibusteiro explicou com voz cavernosa:
— Há muitos anos, estava eu lutando com meu sabre contra quatro britânicos asquerosos e um dos cretinos cortou-me a mão direita com um golpe de espada. Por sorte escapei com vida. Mais tarde, como não puderam me encontrar uma outra mão, puseram-me este pontiagudo gancho no lugar.
Meio pasmo, o intrometido rapazote, em sua incontrolável bisbilhotice, indagou sobre como o pirata havia perdido o olho direito. O pirata baixou a cabeça e respondeu grave:
— Estava de pé no convés e o mar estava calmo. Por algum motivo olhei para o alto e uma gaivota fez cocô no meu olho.
O gargajola, confuso com a resposta do pirata, rebateu:
— Mas ora, só isso? Nenhuma estória fantástica? Simplesmente um cocozinho de pássaro lhe cai no olho e o senhor perde a vista? Como é que pode?
E o pirata, com voz baixa, complementou:
— Era o meu primeiro dia usando o gancho.
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