1 de mar. de 2009
Verdades e mitos sobre a Índia
Rachel Verano
Os trens, herdados da época da colonização britânica, são super eficientes
Mito. A burocracia começa na hora de comprar a passagem (fato que exige, na maioria das vezes, quase um dia inteiro) e segue com atrasos inexplicáveis e intermináveis. As ferrovias ainda não chegam a alguns lugares importantes e boa parte dos trens carece de uma mão de tinta. Mas é inegável que, sem os trens, a Índia não andaria. De maneira geral eles cumprem o seu papel. E, no final das contas, é isso o que importa.
Tem cadáver boiando no Rio Ganges
Verdade. A maior honra para um hindu é, depois de morto, ser levado para Varanasi, o maior centro de peregrinação religiosa do país (acredita-se que, ali, as pessoas se libertam do karma da reencarnação). A grande maioria dos corpos é cremada, mas há alguns casos em que eles são jogados no rio (crianças, mulheres grávidas, leprosos, mortos por envenenamento e picada de cobra etc). Em um passeio de barco de apenas uma hora eu vi dois exemplos (apesar de tudo eles estão sempre cobertos com um material que parece uma palha).
O sistema de castas ainda existe
Verdade. Infelizmente. E o pior é que você vê isso mais claramente nas castas inferiores, designadas para fazer serviços que membros de outras castas simplesmente não fazem (carregar bagagens, lavar privada ou limpar o chão, por exemplo).
A Índia é um universo high-tech
Mito. Tudo bem que o país é um pólo produtor de chips e softwares de computador, e um dos mais avançados centros de call center do mundo. Mas arrisco dizer que fora de Bangalore (o “Vale do Silício” indiano) e de partes muito específicas das maiores metrópoles, o resto é um caos. Computadores da idade da pedra com conexão dial up ainda são a realidade mais comum. Pior: muitas vezes movidos a geradores elétricos pré-históricos.
Os indianos comem com a mão
Verdade. E com uma habilidade incrível. Para eles, os talheres dão um gosto metálico à comida.
Trata-se de um dos países mais perigosos do mundo
Depende. Depois dos atentados de Bombaim, a Índia foi parar na lista dos 20 países mais perigosos do mundo segundo uma pesquisa feita na Inglaterra. Do ponto de vista do terrorismo pode até ser. De fato, nos últimos anos a média foi de três ou quatro atentados por ano. Mas no dia a dia o país é muito tranqüilo. Não me senti ameaçada em momento algum, nem quando ia ao caixa eletrônico tarde da noite numa região dominada por mendigos.
Papel higiênico é amenity de luxo
Verdade. Você chega nos hotéis e os rolos estão expostos, como jóias, em cima da cama, junto com a toalha de banho. Detalhe: são tão fininhos que geralmente no mesmo dia você tem que pedir mais.
Todo preço de serviço deve ser combinado antes
Verdade. Ou você pode ter a certeza de que pagará muito mais por qualquer coisa que seja. Os indianos parecem querer sempre tirar vantagem. Mesmo quando você pergunta antes pelo preço, ele nunca vai ser o real – munidos de uma cara de pau inacreditável, muitas vezes eles podem começar pedindo até dez vezes mais. O melhor é se informar antes sobre quanto costuma custar cada coisa.
Toda comida é apimentada
Verdade. Mesmo que você só queira um pouquinho de pimenta, peça sem. E acredite quando eles dizem que uma receita é apimentada. Nesse caso, provavelmente vai ser impossível comê-la.
Todo indiano fala inglês
Mito. O fato de o país ter sido colônia britânica até depois da Segunda Guerra não quer dizer nada. As crianças e os adolescentes geralmente se viram melhor (pois aprendem o idioma na escola), mas não é raro encontram pessoas que não passam do “hello”. O engraçado é que eles não dão o menor sinal de que não estão entendendo nada, e fazem cara de conteúdo até você terminar todo o raciocínio. De toda forma, dá para se virar numa boa, especialmente nas cidades mais turísticas.
Rachel Verano
é jornalista e vive na Europa desde 2005. Nunca acampou, detesta banheiros coletivos, comprou uma calculadora, decorou a lista das cias aéreas low-cost e não parou mais de viajar. Descobriu que dinheiro não é tudo na vida (mas o cartão de crédito às vezes ajuda).
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