por Vilson Antonio Romero
Joana I, bela e inteligente, no século XIV, rainha de Nápoles, era considerada protetora cultural de poetas e intelectuais. Casada com seu primo Andrew, irmão de Luís I, rei da Hungria, ficou viúva algum tempo depois ao assassinarem o marido em uma conspiração com a participação da própria Joana.
Enraivecido, o irmão da vítima invadiu Nápoles em 1348 perseguindo Joana, que fugiu para a localidade de Avignon, na França. Num palácio onde já haviam morado sete papas, ela se instalou e passou a interferir em tudo na cidade. Resolveu até estabelecer regras para os bordéis de Avignon, determinando que cada prostíbulo teria uma porta por onde qualquer pessoa poderia entrar. A partir disso, cada bordel ficou conhecido como “paço da mãe Joana”, considerada a dona da cidade.
Mais tarde, Joana vendeu a cidade em troca da inocência pela participação na morte do ex-marido. Em 1382, foi assassinada por seu sobrinho e herdeiro, Carlos de Anjou.
Nesta terra de palmeiras e sabiás, a palavra "paço" se transformou em termo mais popular, “casa”, passando a expressão a ser “casa da mãe Joana”. Respeitadas e reverenciadas todas as Joanas, avós, mães, filhas que honesta e dignamente vivem nestas plagas, o que vem a ser a “casa da mãe Joana”?
A maioria já sabe: lugar, ambiente onde impera a bagunça, desordem, o descontrole, no qual ninguém e todos mandam, num entra e sai constante, sem regras, medidas e normas.
Na Internet, com este nome, encontramos uma casa de samba carioca na Lapa, um filme de Hugo Carvana, com Paulo Betti, em 2008, um livro do professor Reinaldo Pimenta, entre inúmeras outras citações. E, não exagerando muito, esta poderia ser a alcunha da Casa Revisora do Congresso Nacional, pela situação hoje vigente.
Só neste ano, foram revelados os escândalos das farras das passagens, onde inclusive cotas de senadores falecidos eram utilizadas por familiares, amigos, conhecidos e outros.
Depois, todos se assombraram com as quase duas centenas de diretorias, inclusive a de “check-in”.
Agora, o escancaramento dos 663 “atos secretos” que permitiram usurparem recursos públicos em favor de apaniguados e “parentes”, com ligação ou não com os parlamentares e, em especial, com o presidente da Casa.
Um infindável rol de beneficiários: netos, sobrinhos, diretores, funcionários pessoais, seguranças particulares, o mordomo da “primeira filha”, afora amigos e correligionários cuja vinculação não é tão evidente assim. Todos aboletados em gabinetes, mansões, apartamentos funcionais, ilhas, fazendas. Com uso liberado e descontrolado de jatinhos, celulares, salas secretas, cotas aéreas...
São quadrilhas, camarilhas e famílias tomando de assalto o Senado Federal. E o pior: a gente pagando tudo isto!
Uma sucessão de escândalos quase impossível de ser mensurada, num descalabro nacional inexplicável. Somente medidas de profunda mudança restaurando a transparência, confiança e dignidade ao Senado pacificarão a estrutura que, constitucionalmente, representa, na exata medida, a Federação.
Não adianta só mandar embora os serviçais. Os seus superiores também têm de mudar. No mínimo, em postura, atitudes e ações. Não pode se perpetuar a “casa da mãe Joana”. O Senado tem papel relevante e indispensável no Estado Democrático de Direito, e hoje se encontra ferido de morte em sua credibilidade e capacidade de representar os cidadãos deste país.
Vilson Antonio Romero - Jornalista, diretor da Associação Riograndense de Imprensa
vilsonromero@yahoo.com.br
Fonte: Espaço Vital
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