Caros, este parece ser só um caso de alcance regional, que diz respeito ao Maranhão. Mas não é. No centro da história absurda que se segue, está ninguém menos do que o presidente da Embratur, Flávio Dino, do PCdoB, partido que integra a base de apoio do governo Dilma Rousseff. Vamos lá.
Um leitor do Maranhão envia-me o link de um vídeo escandaloso, que já é, em si, uma afronta ao Artigo 142, § 3º da Constituição Federal. E tudo com a conivência de um dos candidatos que disputam o segundo turno da eleição em São Luís: Edivaldo Holanda Júnior, do PTC, que gosta de lembrar a sua condição de evangélico — é da Igreja Presbiteriana Independente. Os evangélicos sabem o respeito que tenho por eles. E posso afirmar, com absoluta certeza, que Deus não tem nada a ver com o show de horrores que se constata no vídeo.
Vamos lá. Holanda Júnior, que é o candidato do deputado Flávio Dino, do PCdoB, atualmente na presidência da Embratur, obteve 36,44% (186.184) dos votos e disputa o segundo turno com o tucano João Castello, que ficou com 30,6% (156.320). Só para registro: Washington Luiz, do PT, que é vice-governador, disputou com o apoio da governadora Roseana Sarney (PMDB) e ficou em quarto lugar, com 11,02% dos votos.
Muito bem! Dino, do PCdoB, um partido ateu, resolveu se juntar com o estranho Deus de Holanda. O comunista do Brasil gosta de se apresentar, especialmente para a inocentíssima imprensa do centro-sul, como um anti-Sarney, como o homem que estaria a combater a oligarquia no estado. Os maranhenses sabem que isso, hoje, não é mais verdade. Só assumiu a Embratur porque recebeu as bênçãos de seu antigo antípoda. Holanda é seu candidato, e tudo indica que, se Dino se tornar um dia o novo Sarney do Maranhão (batam na madeira, maranhenses!), a única coisa que vai mudar no estado é o método: para pior!
Parece-me que o deputado, que já foi juiz, se dá bem com a linguagem da truculência. Um caso ilustra bem de quem estamos falando. O juiz Sérgio Muniz, do Tribunal Regional Eleitoral, proibiu um instituto ligado a Dino de publicar uma pesquisa que trazia sinais evidentes de fraude. O que ele fez? Acatou a decisão? Ah, não! Isso é para pessoas convencionais! Ele foi lá tomar satisfações com o juiz, entenderam? Aquele papo de homem pra homem… É a forma que o comunismo do Brasil tomou no Maranhão — agora associado a esse Deus muito particular de Holanda Júnior… Está tudo errado! Está tudo fora do lugar.
Pois bem. No vídeo abaixo, assistimos a um absurdo em si: a criação de um “Comitê dos Militares” em favor da candidatura de Holanda, composto de policiais militares e bombeiros. As PMs, por determinação constitucional, estão sujeitas às mesmas regras que valem para as Forças Armadas. A militância partidária é proibida. Organizar, então, um “comitê de militares da ativa” em favor de um candidato é um absoluto despropósito. Mas é isso o que se faz ali E É O DE MENOS. Como vocês verão, anuncia-se a criação de um grupo para atuação clandestina. Pior: Holanda, o candidato do PTC, o 36, discursa no evento. Tem de ser denunciado ao Tribunal Regional Eleitoral e tem de ter a candidatura cassada. Assistam. Volto em seguida.
INFELIZMENTE RETIRARAM O VÍDEO DO YOUTUBE
Voltei
Vocês viram ali. A partir de 1min43s, o militar que discursa anuncia:
“[Quero] dizer também que nós temos uma missão árdua. Do dia de ontem até o dia da eleição, os militares têm uma missão e que nós não podemos aqui revelar. Nós sabemos que, até o dia da eleição, muitas coisas vão acontecer. E nós, militares, a nossa missão árdua, embora em menor número, mas jamais em desvantagem, mas nós vamos conseguir fazer com que o nosso adversário passe a respeitar um nome que já está prometido por Deus, que é Edivaldo Holanda Júnior, 36 (…)”
O próprio Holanda discursa e agradece a Deus… Em seguida, outro rapaz toma a palavra e volta a tratar da tal “missão especial”, a partir de 3min54s:
“Pessoal, como já foi dito, nós temos aí uma missão especial. Nós temos aí um grupo de militares, de pessoas que já foram cadastradas. Nós temos uma missão a ser desenvolvida a partir de amanhã. A gente vai estar depois conversando com essas pessoas, né? A gente não pode falar aqui, mas a gente vai estar marcando o momento para reunir a portas fechadas com esse grupo (…) Detalhes da missão que a gente não vai dizer aqui…”
Uma outra voz fala: “Serviço de Inteligência do 36”. Retoma a voz:
“É, serviço de inteligência. Nós não vamos aqui dizer porque é uma coisa muito louca. É PIOR DO QUE O GRUPO QUE MATOU OSAMA BIN LADEN. Nós sabemos quem são as pessoas que estão aqui. A gente vai ligar para as pessoas para marcar essa reunião porque, embora em número pequeno, mas nunca em desvantagem. Para acabar um grande exército, basta um grupo de elite, pequeno só. Nós temos essa capacidade. Nós temos essa tática militar. Por isso que o nosso comitê é feito diferente, para demonstrar o que nós somos aqui. (…) Vocês não têm identidade, tá certo? Ninguém tem identidade. O homem do Serviço de Inteligência não tem identidade. Ninguém sabe quem é ele, entendeu? (…) Nós temos um trabalho dentro da comunidade (…) E, aí, a partir de segunda-feira, dentro dos quartéis (…) Vamos mostrar para o nosso adversário que, com o 36 e com os militares, não se brinca”.
Retomo
Dizer o quê? Militares da ativa prometendo constituir a “inteligência” de um candidato a prefeito, destacando que será um serviço clandestino porque “homem de inteligência não tem identidade”? Dona Roseana Sarney, se tiver um mínimo de decência e decoro, manda prender ainda hoje estes senhores.
O que quer dizer aquele rapaz quando afirma que o grupo formado pelos militares de São Luís será “pior do que o grupo que matou Osama Bin Laden? É um descalabro absoluto. O que fará o grupo de comunicação dos Sarney? Vai omitir a notícia? Vai sonegar a boa parte dos maranhenses a informação de que se arma uma espécie de milícia dentro da Polícia Militar do Maranhão?
Finalmente, noto que eles falam ali de um grande projeto para 2014. Sabem qual é? A candidatura de Flávio Dino para o governo do estado — quem sabe, já unido a Sarney… O presidente da Embratur, sem dúvida, nos leva a uma bela viagem ao passado, ao coronelismo do século 19, agora com as tintas do “comunismo do Brasil”.
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