Por Reinaldo Azevedo - Mais um vídeo com uma performance do Pastor Marco Feliciano num culto está causando rebuliço. Antes que entre no mérito, algumas considerações prévias.
O Brasil, a começar da própria imprensa, o que é espantoso, lida mal com a liberdade de expressão e com a liberdade religiosa. Estepaiz, como diz o Apedeuta, precisa fazer um estágio na democracia americana e refletir profundamente sobre o sentido da Primeira Emenda, aquela que garante a liberdade de imprensa, a liberdade religiosa, a liberdade de expressão, o direito de apresentar petições contra o Estado e de livre associação para fins pacíficos. O Congresso está impedido de criar legislação que restrinja esses direitos. No original: “Congress shall make no law respecting an establishment of religion, or prohibiting the free exercise thereof; or abridging the freedom of speech, or of the press; or the right of the people peaceably to assemble, and to petition the Government for a redress of grievances.” É a mais sintética e abrangente definição que conheço do que é um regime democrático. Adiante.
O vídeo abaixo está circulando na rede. O pastor — não o deputado — Marco Feliciano, num culto, diz uma porção de asneiras sobre a Igreja Católica. Depois de afirmar que conhece “o Deus de Paulo” — numa referência ao apóstolo —, chama o catolicismo de “religião morta e fajuta”. Supõe-se, claro, que a “sua” igreja — que não é sinônimo de toda a Assembleia de Deus, seja “viva e verdadeira”… Então tá. O vídeo circula freneticamente por aí e provoca indignação.
É claro que ele diz um monte de absurdos, embora seja exagero afirmar que esteja acusando os católicos de cultores de satanás ou de prostituição, como está circulando por aí. E noto: ele não entendeu Paulo, como se atrapalhou também com a geografia da Bíblia…
Marcha dos idiotas
Alguns idiotas resolveram torrar a minha paciência. Um dos mais agressivos pergunta: “E agora, papa-hóstia (o “papa-hóstia” sou eu…), vai continuar a defender o pastor Feliciano?” Resposta: Não! Porque, de fato, NUNCA defendi Feliciano politicamente, teologicamente, moralmente — escolham aí o advérbio. Meus textos estão em arquivo. No primeiro que escrevi a respeito deste senhor, afirmei que:
– discordava dele em tudo;
– jamais votaria em alguém com seu perfil (poderia votar em evangélico, sim; nele, não!);
– jamais votaria nele para presidir comissão nenhuma;
– ele, como político e com essa projeção, era uma criação do PT, que abandonou a Comissão de Direitos Humanos em favor de outras mais, como dizer?, rentáveis.
E tenho dito também, desde o primeiro dia, que as opiniões políticas ou religiosas de Feliciano, enquanto estiverem protegidas pelos direitos garantidos pela Constituição, não autorizam ninguém a ir lá meter o pé na porta da Comissão de Direitos Humanos e Minorias para arrancá-lo à força. Aliás, noto: ainda que houvesse motivos para tanto, não caberia a hordas fazê-lo. O Brasil tem leis.
Sou católico, sim, e daí?
Sou católico, sim! É evidente que essas opiniões estúpidas de Feliciano, tomadas isoladamente, me ofendem. Mas reconheço o direito que ele tem de considerar a minha religião “morta e fajuta”, tanto quanto asseguro que o entendimento que ele tem de Deus é primitivo, desinformado, cretino, oportunista, circense. Pessoas como Feliciano, entre os evangélicos, são a absoluta minoria. Não vou usar a sua pregação irresponsável para generalizar: “Vejam como eles são!” Isso é mentira! Quando a marcha do orgulho gay fez chacota dos santos da Igreja Católica, foi o pastor Silas Malafaia o primeiro a reagir em defesa da instituição. E o fez com mais energia do que boa parte dos católicos que conheço.
Aliás, eis aí um caso interessante. A Constituição assegura a liberdade religiosa, como todos sabem. Será que os católicos, que são a maioria no Brasil, devem agora lutar por um PLC que puna particularmente as opiniões desairosas sobre os… católicos? Quantas leis teremos de fazer para, em tese, coibir a opinião dos idiotas? Ao escolher esse caminho, também estaremos colocando em risco a liberdade dos sensatos, uma vez que se vão criar tribunais para arbitrar sobre a palavra.
Acho as opiniões de Feliciano detestáveis também nesse particular. E daí? Se me fosse dado fazer uma sugestão, creio que as próprias lideranças evangélicas deveriam lhe recomendar que contivesse a logolatria e a egolatria. Mas isso é problema deles, não meu.
Reproduzo, uma vez mais, as palavras do economista Walter Williams em entrevista à VEJA:
“É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas”.
É nisso que acredito. “E se o sujeito sair por aí pregando a violência?” Aí não pode! Tem de ser severamente punido pela lei — e já existem leis para tanto.
Assim, os bobinhos podem tirar o cavalo da chuva. Não mudei uma vírgula do que penso sobre o caso Feliciano, agora que veio à luz esse novo vídeo e que ele considera a minha religião “morta e fajuta”. Não! Eu não acho que líderes religiosos devam se manifestar dessa forma. Acho ética e moralmente detestável. Não! Eu não acho que católicos, agora, devam devolver na mesma moeda.
Eu não vou entrar nessa brincadeira perigosa de promover guerra de gays contra evangélicos, de evangélicos contra católicos, de católicos contra muçulmanos… E considero irresponsável a imprensa que compra essa pauta.
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