5 de abr. de 2013

PORTOS BRASILEIROS ENTRAM NA ROTA DA COCAINA PARA A EUROPA

Traficantes escondem cocaína em cargas
e até em paredes de contêineres que saem do Brasil

Luis Kawaguti
Da BBC Brasil em São Paulo

Os portos brasileiros se tornaram uma rota alternativa para levar cocaína produzida na América do Sul a países da Europa. Segundo a Receita Federal, mais de dez toneladas da droga foram apreendidas em carregamentos marítimos que saíram ou iriam sair de portos brasileiros em três anos, de 2008 a 2011.

A rota foi reconhecida oficialmente em relatório recente da Jife (Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes) – o órgão independente criado para fiscalizar a implementação dos tratados da ONU sobre drogas.
Até então, o país era conhecido mais por fazer parte da rota aérea da cocaína, em que viajantes são recrutados para embarcar em voos para a Europa com cocaína escondida na bagagem ou no corpo.
O documento aponta a África Ocidental como o mais novo centro de contrabando de cocaína de países sul-americanos - como Colômbia, Bolívia e Peru - para a Europa. Segundo a Jife, desde 2007, quadrilhas internacionais têm intensificado o transporte da droga por via marítima para essa região.
De acordo com o relatório, estatísticas de 2011 (as mais recentes) apontam que quase metade da cocaína apreendida no mar vem de portos brasileiros. Os principais países de destino dessas cargas são Benin, Camarões, Gana, Nigéria, Serra Leoa e Togo.
A partir desses países, a droga é redistribuída para destinos na Europa, como Espanha, Portugal e Bélgica.
Segundo dados da Receita Federal, ao menos 10,5 toneladas de cocaína foram apreendidas em 60 operações diferentes desde 2008. Essa droga embarcou ou iria embarcar em navios por meio de portos brasileiros.

Esconderijos
Segundo o delegado Ivo Roberto Costa da Silva, da Polícia Federal, as quadrilhas que operam nos portos brasileiros são internacionais. Boa parte delas seria formada por criminosos de origem sérvia.
A natureza do transporte marítimo também permite aos criminosos enviar grandes quantidades da droga de uma só vez. Em alguns carregamentos interceptados, mas de uma tonelada de cocaína foi apreendida.


A Polícia Federal e a Receita já encontraram os mais diversos tipos de esconderijos usados para ocultar a droga. Em apreensões recentes, a cocaína foi encontrada em cargas de carvão, em tonéis de suco de laranja congelado e em embalagens de detergente.
Outra tática comum dos criminosos é ocultar o entorpecente dentro da estrutura metálica de contêineres que saem vazios do país, segundo Cleiton Simões, inspetor-chefe da Receita Federal no porto de Santos.
Para combater essas práticas, a Receita está comprando equipamentos de raio-x cada vez mais sofisticados para aumentar sua capacidade de inspeção de contêineres. Alguns conseguem penetrar chapas de metal de quase três centímetros de espessura. As cargas são examinadas antes de embarcar nos navios.
"Conseguimos escanear até 120 contêineres por hora. Temos uma equipe que faz uma análise de risco; eles selecionam os contêineres com maior possibilidade de conter drogas. Com os escâneres, o cão de faro e a sensibilidade dos nossos fiscais, temos feito grandes apreensões", disse Simões.
Ele afirmou que nos próximos dias um segundo tipo de escâneres de alta capacidade entrará em atividade no porto de Santos, a fim de dobrar essa capacidade.
Pescaria
Segundo a delegada Luciana Fuschini, da Polícia Federal, uma das táticas usadas pelos traficantes para tentar burlar esse tipo de fiscalização é enviar ao exterior quantidades menores de cocaína, escondida com tripulantes de embarcações. "Eles embarcam em seus navios com a droga escondida no corpo", afirmou.
Contudo, a tática mais recente é o que a Polícia Federal apelidou de "pescaria".
Nela, os navios cargueiros deixam os portos brasileiros sem entorpecentes. Os traficantes embarcam em botes a motor levando a cocaína em mochilas e se aproximam desses navios em alto mar. A droga é então içada por meio de cordas por tripulantes recrutados pelos criminosos.
Porém, independente da tática usada pelas quadrilhas, a Polícia Federal tem usado a cooperação internacional para tentar desmantelá-las. Segundo Fuschini, com autorização da Justiça a PF deixa passar determinados carregamentos de cocaína para monitorar até onde ele é levado – com o objetivo de prender os receptadores da droga.

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