Manifestantes ateiam fogo em mural da Copa, na esquina da Paulista com a Consolação, centro de SP |
Menos de seis horas após declarar que revogar o aumento da tarifa de ônibus poderia ser uma "decisão de caráter populista", o prefeito Fernando Haddad (PT) se viu obrigado a recuar.
Desgastado nas ruas e encurralado pelo próprio partido, anunciou ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB) que o preço da passagem voltaria aos antigos R$ 3 no início da noite de ontem.
Foi sua primeira grande derrota política no comando da cidade. Segundo dirigentes do PT, Haddad sai do episódio desgastado com o eleitorado, com a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, fiador de sua eleição.
No PSDB, o recuo de Alckmin também desagradou. Tucanos dizem que, ao diminuir a tarifa, ele passa a imagem de que faltou planejamento ou vontade política para segurar o reajuste anteriormente.
Às 11h30, na primeira entrevista do dia, Haddad disse que revogar o aumento afetaria investimentos da prefeitura e só traria benefícios de curto prazo. "A coisa mais fácil do mundo é agradar no curto prazo, tomar uma decisão de caráter populista sem explicar para a sociedade as implicações."
Às 18h, quando posou ao lado de Alckmin para decretar o fim do aumento visivelmente contrariado, mudou o discurso. "É um gesto de aproximação, de manutenção do espírito de democracia, de convívio pacífico."
Entre a primeira e a última fala, a crise política que engolira prefeito e governador desde o início dos protestos chegara ao ápice para o petista.
Desde a semana passada, Haddad é pressionado por dirigentes do PT a revogar o aumento. A pressão se agravou na tarde de terça, quando se encontrou com Dilma e Lula.
Segundo petistas, a reunião foi tensa. Lula e Dilma teriam dito a Haddad que, diante do desgaste político imposto a ele --e ao partido--, o melhor seria recuar. O prefeito então teria argumentado que, se arcasse com o prejuízo da revogação, sua capacidade de investimento iria despencar.
Em resposta, a presidente deixou implícito que já havia feito o que podia para ajudar.
Ontem, o embate com o PT e o Planalto se agravou. Pela manhã, Haddad voltou a dizer que a única possibilidade de reduzir tarifa sem cortar investimento seria com o projeto de desoneração do diesel para o transporte público.
A resposta veio poucas horas depois. À tarde, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chamou a imprensa para dizer que o governo federal não tinha mais "condições de fazer novas reduções".
Sem apoio de dirigentes do PT, e com as rusgas com a presidente expostas, Haddad foi obrigado a recuar. Telefonou para Alckmin por volta das 16h e seguiu para o Palácio dos Bandeirantes. Às 18h, os dois anunciaram a revogação do aumento para passagens de ônibus, trens e metrô.
A estratégia também foi criticada por petistas. Para eles, Haddad tentou dividir o desgaste com o tucano, mas acabou passando uma imagem de submissão a Alckmin.
TUCANOS
Entre os tucanos, também houve críticas a Alckmin. Uma ala do PSDB diz que ele passa a imagem de que ficou "refém" dos protestos e, ao recuar, abre precedente perigoso a um ano das eleições.
Para esse grupo, a partir de agora, sempre que for obrigado a tomar uma medida impopular, Alckmin será "chantageado" por protestos.
Há ainda críticas à justificativa de que o dinheiro para cobrir a redução da tarifa sairá do caixa de investimentos.
Alckmin teria dado munição a quem engrossou os protestos exigindo melhorias no sistema de transporte. "Mudança estrutural se faz com investimento. Ele cai em contradição", diz um dirigente.
A atuação do governador na área da segurança também sai desgastada. Nas ruas, a PM foi criticada num primeiro momento pela truculência e, depois, acusada de ser omissa ao demorar para conter a onda de saques.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Atenção:
Comentários ofensivos a mim ou qualquer outra pessoa não serão aceitos.