Marcela Ayres - A economia brasileira voltou ao azul no primeiro trimestre após um longo período recessivo, conforme dados do Banco Central divulgados nesta segunda-feira, que entretanto ainda não apontam uma retomada linear ou forte. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), espécie de sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), teve um crescimento de 1,12 por cento de janeiro a março sobre os três últimos meses de 2016, em dado dessazonalizado. Em março, contudo, o índice caiu 0,44 por cento ante fevereiro, embora tenha vindo melhor que recuo de 0,95 por cento projetado em pesquisa Reuters.
Analistas já vinham pontuando que a recente mudança de metodologia das pesquisas de comércio e serviços do IBGE --que embasam os cálculos para o comportamento do índice-- vinha turvando as expectativas.
"Quando pegamos os dados do trimestre, o IBC-Br mostra uma inflexão? Mostra. Mas hoje não temos condição de dizer o que é fruto de atividade e o que é fruto de metodologia", afirmou a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.
"No geral o que a gente vê é que esses dados vão na linha de uma economia que estabilizou. Agora, é óbvio que tem uma certa insegurança porque o termômetro não está muito bom", acrescentou ela, em referência à volatilidade dos dados do IBGE. O resultado negativo em março se deu na esteira de uma fraqueza generalizada em indicadores econômicos recentes divulgados pelo órgão. No mês, o setor de serviços caiu 2,3 por cento sobre fevereiro, pior resultado em cinco anos e abaixo do esperado por analistas. O varejo, por sua vez, recuou 1,9 por cento na mesma base de comparação, no dado mensal mais fraco em 14 anos. Enquanto isso, a produção industrial despencou 1,8 por cento sobre o mês anterior, leitura mais fraca para março na série histórica iniciada em 2002. O IBC-Br incorpora projeções para a produção no setor de serviços, indústria e agropecuária, bem como o impacto dos impostos sobre os produtos.
Embora tenha avaliado que o dado de março surpreendeu positivamente, o economista-chefe do Bradesco, Fernando Barbosa, ressaltou que ele ainda veio no campo negativo e que o caminho daqui para frente não será de uma forte recuperação econômica.
"Esse resultado, que reflete as quedas nas vendas do varejo e do setor de serviços divulgadas na última semana, reforça nosso cenário de que a retomada da economia será bastante gradual", escreveu em nota. No trimestre, o resultado positivo do índice também já era esperado pelo mercado. Numa investida pouco usual, o ministério do Planejamento chegou inclusive a divulgar uma expectativa de 1,3 por cento para a performance do IBC-Br no período. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reafirmou que PIB crescerá no primeiro trimestre, mas também reconheceu que os efeitos da recessão ainda pesam sobre o país. No último trimestre de 2016, a economia brasileira aprofundou a crise e encolheu 0,9 por cento sobre o terceiro trimestre, encerrando o ano com tombo de 3,6 por cento, de acordo com dados do IBGE. Em 2015, a retração do PIB havia sido de 3,8 por cento. Para este ano, a expectativa dos economistas segundo o boletim Focus mais recente é de uma alta de 0,5 por cento do PIB, idêntica à estimativa oficial do governo.
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