16 de out. de 2017

O professor e a bomba relógio da sala de aula


Cleilton Amaral - As comemorações do Dia dos Professores não tem mais sentido para as escolas de ensino médio. Sem respeito por nada e por ninguém, não há motivação por parte da maioria dos alunos para honrar seus mestres. E, para ser sincero, nem os profissionais da educação tem mais estômago para as festinhas da hipocrisia. Momento no qual as frases bonitas e declarações não condizem com o dia a dia de violência escancarada contra o orientador.

A harmonia que existia no passado entre o professor e seus alunos foi rompida com a sociedade moderna e esse elo precisa ser retomado urgentemente, antes que o professor que escolhe a profissão por amor desapareça.

Nesse cenário, basta lembrar a agressão sofrida pela Coordenadora Pedagógica da Escola Estadual Lourival Sombra, localizada no bairro Tangará, em Rio Branco. A mãe de uma aluna em um dos corredores da escola, final de outubro, 26, deu soco e pontapé no rosto da profissional. Ou ainda a professora Catarinense Márcia Friggi, agredida com socos, empurrões e tapas em agosto (22), que foi bastante difundido nas mídias. Isso revela apenas uma face oculta de muitas ocorrências que acontecem diariamente nas escolas brasileiras. Algumas registradas nas delegacias e outras ficam apenas dentro dos muros das escolas, causando maior stress e pânico ao professor.

Levando em consideração a realidade paulista apenas como parâmetro, já que existe um monitoramento dos casos de violência, por parte do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), temos a seguinte realidade: 40% dos professores afirmaram ser comum, em suas escolas, sofrer ameaças ou ter algum bem pessoal danificado por alunos; 62% já foram xingados; 24% foram roubados ou furtados.

A pesquisa da Apeoesp (2013) apontou ainda, entre os casos de violência contra os professores, o seguinte: agressão verbal (39%); assédio moral (10%); 9 bullying (6%); agressão física (5%); discriminação (5%); furto (5%); roubo ou assalto à mão armada (1%). O estudo mostra, ainda, que os professores homens (51%) estão mais sujeitos a serem vítimas de violência que as professoras mulheres (35%).


E, em matéria publicada na ISTO É, com capa, Professor – Profissão perigo, a pesquisadora  Jussara Paschoalino, autora do livro “Professor Desencantado: Matizes do Trabalho Docente” (Armazém de Ideias, 2009), explica que a causa da violência contra os discentes está ligado aos “Professores sem autoridade, alunos com excesso de poder e coordenações escolares omissas formam a bomba-relógio da violência escolar. As salas de aula estão mais violentas, pois a própria sociedade também esta.”.

Na metodologia de pesquisa usada, levam em consideração os tipos de crimes: ameaça, injúria, desacato, furto, lesão corporal, atentado contra o patrimônio dentre outros. Quem nunca passou por situações assim o ano inteiro? Carros riscados; pneus esvaziados; pneus cortados com faca; ameaças de morte; mortes executadas; sequelas de espancamentos; dedo enriste no rosto; intimidação de parentes de alunos na porta de sala de aula; ameaça na saída da instituição; humilhação na frente de todo mundo com desacato; e pra piorar, ainda tem agora os apadrinhados das facções que se o professor disser um ai contra ele, melhor trocar de escola antes que venha o “Salve dos justiceiros do crime…”

Vale lembrar que o Acre tem casos semelhantes ao que vemos pela grande imprensa nacional. O que chama a atenção, é que o Sindicato dos professores de São Paulo, mantem em sua página oficial o “Observatório da Violência na escola” para acompanhar e debater a problemática da categoria. Isso já ajuda bastante os gestores articularem políticas públicas de combate às diversas formas de crime contra os educadores. E nós? Quantos já morreram no Acre por latrocínio e homofobia? Onde estão as estatísticas dos professores vítimas da violência?


O fato é que não diferimos de nenhum lugar do Brasil. Seja nas Metrópoles às pequenas cidades do interior, incluindo as escolas de zona rural que não são mais como antigamente. Está cada vez mais difícil conciliar a tarefa de educar e defender-se da violência nas salas de aula.


Infelizmente, muitos que fazem parte do processo educativo, não passam de números que podem ser substituídos a qualquer momento. As ocorrências policiais vão e voltam e nada acontece para dar segurança as escolas.

Nossos professores não devem ser lembrados pela sociedade ou pelos políticos somente em outubro, pois alguns estão ficando pelo meio do caminho pela bomba relógio que são as salas de aula. É preciso encampar uma lutar de melhoria das condições de trabalho, salariais e outras vantagens que não saem do papel no Congresso para diminuirmos os riscos da profissão e a manutenção da mesma. Como a professora Friggi disse em matéria do Jornal Hoje: “Eu não fui a primeira, gostaria muito de ser a última (vítima).”.

Encerrar a temática passando apenas a ideia negativa de ser professor seria no mínimo uma indelicadeza, visto que muitos nascem para ensinar. São servos do ofício e amam o que fazem. Que seja dado todo mérito e grandeza aos professores pela sua importância social. Por formar os múltiplos profissionais que o mundo precisa e não para de reproduzir por seu intermédio.

E apesar dos ingratos, sempre haverá aqueles que de fato valorizarão o papel de seus mestres ao ponto de parabenizá-los em outubro ou em qualquer ocasião que encontrar na rua. Talvez essa seja a grande herança recebida por esses profissionais, que apesar de pouco valorizados financeiramente e moralmente, sempre serão os educadores que fazem a diferença em qualquer lugar do planeta. Da aldeia da África ou prédio da UFAC ou da escolinha da Reserva Chico Mendes, Parabéns Professores!

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