26 de jan. de 2018

Economist alerta: a ameaça de uma guerra devastadora está cada vez maior - e o mundo não está preparado

Com o perigo iminente, os EUA têm um papel importante para prevenir a próxima grande guerra, afirma a publicação britânica

                                           Shutertock


Em uma capa alarmante na edição dessa semana, a revista britânica "The Economist" fez uma alerta sobre "a próxima guerra", ressaltando a crescente ameaça de um conflito entre grandes potências mundiais.

"Nos últimos 25 anos, a guerra custou muitas vidas. No entanto, mesmo quando os conflitos civis e religiosos se espalharam na Síria, na África central, no Afeganistão e no Iraque, um confronto devastador entre as grandes potências do mundo permaneceu quase inimaginável", afirmou a publicação para em seguida, destacar: mas agora "não mais".

A revista aponta que, na semana passada, o Pentágono emitiu uma nova estratégia de defesa nacional que colocou a China e a Rússia acima do jihadismo como a principal ameaça para a América. "Esta semana, o chefe da equipe geral britânica advertiu sobre um ataque russo. Mesmo agora, a América e a Coreia do Norte estão perigosamente próximas de um conflito que corre o risco de arrastar a China ou se transformar em catástrofe nuclear", afirma.

Para a revista, mudanças poderosas e de longo prazo na geopolítica e a proliferação de novas tecnologias estão corroendo o extraordinário domínio militar que os EUA e seus aliados têm desfrutado na história recente. Com isso, um conflito em escala e intensidade não vistas desde a Segunda Guerra Mundial é mais uma vez plausível. E "o mundo não está preparado", apontou a publicação.

O perigo mais urgente é de guerra na península coreana, segundo a revista - e talvez isso ocorra ainda este ano. Donald Trump prometeu impedir que Kim Jong Un, líder da Coreia do Norte, possa atacar os Estados Unidos com mísseis balísticos. Entre muitos planos de contingência, o Pentágono está considerando um ataque preventivo incapacitante contra as bases nucleares do Norte.

Segundo a Economist, mesmo um ataque limitado poderia desencadear a guerra total. Os analistas consideram que a artilharia norte-coreana pode bombardear Seul, a capital sul-coreana. Drones e submarinos  poderiam implantar armas biológicas, químicas e até nucleares. "Dezenas de milhares de pessoas poderão não resistir e até mais se as armas nucleares forem usadas", afirma.

"Esta publicação argumenta que a perspectiva de tal horror significa que, se a diplomacia falhar, a Coreia do Norte deveria ser contida e dissuadida antes da fatalidade ocorrer. Embora defendamos o nosso argumento, a guerra é uma possibilidade real. Trump e seus conselheiros podem concluir que um Norte nuclear seria tão imprudente e que provavelmente causaria proliferação nuclear que seria melhor arriscar a guerra na península coreana hoje do que um ataque nuclear em uma cidade americana, amanhã", aponta a publicação.

Influência chinesa e russa
E é aí que entra a China e a Rússia. Para a revista, mesmo que a China permaneça fora de uma segunda guerra da Coreia, tanto ela quanto a Rússia estão entrando em um momento de renovar a competição com o Ocidente. "Três décadas de crescimento econômico sem precedentes proporcionaram à China a riqueza para transformar suas forças armadas e deu a seus líderes a sensação de que seu momento chegou. A Rússia, paradoxalmente, precisa se afirmar agora porque está em declínio no longo prazo. Seus líderes gastaram pesadamente para restaurar o 'hard power' (poder duro ou poder coercitivo) da Rússia, e eles estão dispostos a correr riscos para provar que merecem respeito e um assento na mesa", afirma a publicação.

Ambos os países se beneficiaram da ordem internacional, diz a revista, mas eles veem pilares do Ocidente como direitos humanos universais, democracia e estado de direito como imposições que minam a sua própria legitimidade. "Eles são agora estados revisionistas que querem desafiar o status quo e olhar para as suas regiões como esferas de influência para serem dominadas. Para a China, isso significa o Leste Asiático; para a Rússia, significa a Europa Oriental e a Ásia Central", destaca. A Economist aponta que nem China nem Rússia querem um confronto militar direto com os EUA, mas estão usando o seu "hard power" de outras maneiras, explorando uma "zona cinza", como foi o caso da Rússia com a Ucrânia.

"Se os EUA permitirem que a China e a Rússia estabeleçam hegemonias regionais, conscientemente ou porque suas políticas são muito disfuncionais para uma resposta, isso lhes dará uma luz verde para perseguir seus interesses pela força bruta. Quando isso foi tentado pela última vez, o resultado foi a Primeira Guerra Mundial", alerta a publicação. 

As armas nucleares, em grande parte uma fonte de estabilidade desde 1945, podem adicionar mais perigo, afirma a revista. Seus sistemas de comando e controle estão se tornando vulneráveis ??à pirataria por novas armas cibernéticas. "Um país com essa ameaça poderia se encontrar sob pressão para escolher entre perder o controle de suas armas nucleares ou usá-las", afirma.

Papel dos EUA
Neste cenário, o que os Estados Unidos devem fazer? Para a Economist, quase 20 anos de deriva estratégica jogaram a favor de Rússia e China, as guerras mal sucedidas de George W. Bush foram uma distração, enquanto Barack Obama sempre foi cético sobre o "hard power". Já hoje, Trump diz que quer tornar a América grande de novo, mas está indo exatamente no caminho errado. "Ele evita organizações multilaterais, trata alianças como uma bagagem indesejada e admira abertamente os líderes autoritários dos adversários dos EUA. É como se Trump quisesse que os EUA desistam de defender o sistema que criaram e junte-se à Rússia e à China como apenas um outro poder revisionista truculento". 

Para a The Economist, os EUA precisam aceitar que são um dos principais beneficiários do sistema internacional e que são o único poder com a capacidade e os recursos para protegê-lo de ataques. Isso viria através de uma combinação de diplomacia com tecnologia. "Obama percebeu que os Estados Unidos precisavam de um esforço conjunto para recuperar sua liderança tecnológica (...) Trump e seus sucessores precisam redobrar o esforço", afirma. 

"A melhor garantia da paz mundial é um EUA forte. Felizmente, ele ainda goza de vantagens. Possui aliados ricos e capazes e ainda de longe, as forças armadas mais poderosas do mundo, experiência em guerra, os melhores engenheiros de sistemas e as principais empresas de tecnologia do mundo. No entanto, essas vantagens podem facilmente ser desperdiçadas", destaca a revista, apontando que sem o compromisso dos EUA com a ordem internacional e "hard power", os perigos crescerão. Se não confirmarem esse compromisso, "o futuro da guerra pode estar mais perto do que você pensa", conclui a publicação.  

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