O Tenente Danilo Marques Moura, nasceu em 30/junho/1916 em Cachoeira do Sul, RS. Durante a 2ª Guerra Mundial, esse gaúcho foi piloto do 1°GAvCa - 1º Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira, o nosso “Senta a Púa”, durante a campanha na Itália.
No dia 4/fevereiro/1945, ao cumprir a 11ª missão, seu P-47 Thunderbolt foi atingido e derrubado em pleno território inimigo.
A história da sua fuga é uma sequência incrível de lances de audácia, coragem, situações extremas, experimentando as agruras da fome, padecimento físico, intempéries, abandono e a angústia da captura.
Seu exemplo inspirador, marca um nicho de glória na história das nossas forças armadas no pior conflito da humanidade.
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1ª parte
Abatido!
4/fevereiro/1945, proximidades de Castelfranco, norte da Itália
As balas convergiram sobre o terreno, arrancando tufos de terra e faíscas dos trilhos de aço. Em seu traçado mortal finalmente encontraram a caldeira fervente da máquina, fazendo a locomotiva desaparecer em meio ao vapor e chamas que escapavam pelos dutos arrebentados. Podia-se jurar ter ouvido a explosão.
Para evitar aquele inferno escaldante, Danilo trouxe o manche ligeiramente para si e empurrou o acelerador um pouco à frente. O Thunderbolt obedeceu imediatamente levantando o nariz, enquanto o piloto espichava a cabeça para trás para observar o efeito do seu ataque.
Súbito um estremecimento, um estalido agudo e metálico do motor, seguido por perda de potência. Além disso, uma fumaça densa e preta golfou para fora das capotas do motor, cobrindo o para-brisa blindado com óleo quente e viscoso. O piloto quis ver os instrumentos no painel de bordo, mas a cabine já era um nevoeiro confuso. O P-47 já era! Gritou pelo rádio que havia sido atingido e ia pular.
Célere Danilo ejetou a cobertura transparente, soltou os cintos e numa última manobra com o avião puxou o manche com força para si. De pé sobre o assento, empurrou o corpo para cima. Ao sentir o ar externo gelado, sabia que não havia tempo para nada e ainda dando cambalhotas no ar, liberou o anjo de seda branca, no tempo exato de frear o corpo. Bateu com a bunda no chão, soltando um gemido abafado de dor.
Atarantado pelo choque, sentado sobre a neve, sentiu a boca encher de sangue por causa de um ferimento na língua. Forçando o raciocínio lúcido, sacou a Colt do coldre e aguardou alguns minutos, apurando os ouvidos e os sentidos. No campo aberto e coberto de neve notou alguns montes de palhas de trigo colhido e correndo até um deles, se escondeu. Não demorou muito uma pessoa se aproximou, fazendo-o apertar a Colt instintivamente na mão.
Era um fazendeiro italiano, muito humilde, falando baixo em quase sussurro. Enquanto fingia estar empilhando o trigo, pediu ao piloto brasileiro que se escondesse totalmente, repetindo sem cessar que ia voltar mais tarde. As horas seguintes foram terríveis em meio à palha escura e gelada, vendo o dia escurecer. Danilo lutava intimamente com os pensamentos sobre o que aconteceria em seguida, pois as perspectivas eram sombrias.
Fez alguns cálculos estimando estar uns 350 quilômetros da base. Lembrou-se da família, lá em Cachoeira do Sul tão distante, pensou se não tinha feito besteira em deixar o italiano ir embora. Ele voltaria, de fato ou seria traído? Pensou um monte de coisas.
Aquela madrugada o encontrou entorpecido, abatido pelo cansaço, mas não vencido. A língua ferida inchara a tal ponto que se tornou quase impossível falar e na manhã seguinte e como havia prometido, o italiano voltou, trazendo-lhe comida. Enquanto comia, com muita dificuldade por causa do ferimento na boca, começou a repassar mentalmente as orientações dadas no treinamento de fuga.
As primeiras 24 horas haviam transcorrido e com isso, suas chances de escapar aumentaram ligeiramente.
Trocou suas roupas de voo pelas surradas roupas do italiano, distribuiu pelos bolsos os itens do estojo de fuga, enfiou um boné na cabeça e tal como um autêntico sujeito da Calábria encarou a longa estrada que tinha pela frente.
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2ª parte
Afrontando o manual
5/fevereiro/1945
A primeira questão era se localizar para, em seguida, decidir qual caminho seguir. Com a ajuda inestimável do italiano que o socorrera e de posse do seu mapa, Danilo decidiu fazer exatamente o contrário do que o treinamento de fuga havia ensinado. Começou por desprezar o conselho de seguir para o norte e se internar na neutra Suíça, resolvendo prosseguir para o sul em direção à Pisa. E, mais, ia fazer isso pelas vias principais, afrontando o manual que aconselhava usar os caminhos secundários. O gaúcho ia encarar o bicho pela frente.
Na estrada para Padova, despediu-se do italiano salvador, prometendo que depois da guerra voltaria para ver o vestido de noiva da sua irmã, que seria feito com a seda do paraquedas. Começou a longa caminhada, não dando conta que conservava o relógio no pulso e as botinas de aviador nos pés. Andando e alimentando-se da broa que ganhara, chegou a Padova, cidade de importante entroncamento ferroviário.
Como decidira, afrontou os conselhos do manual e ao invés de contornar a cidade, atravessou-a de ponta a ponta na rota que julgou levá-lo ao Rio Pó.
Cruzou com soldados alemães pelas ruas, mas não ligou para eles e eles, tampouco para o piloto brasileiro, que se parecia com mais um andarilho. Como diz o ditado “A sorte sorri aos audaciosos”.
Seguindo pela estrada principal, sua figura se misturava a tanta gente esquisita que vagava pela região. Sujo, barba mal feita e com a língua inchada, sua aparência era mesmo de um pobre e maltratado italiano à procura de comida e pousada.
Andando sem parar, tenso por situações que poderiam delatar sua condição de piloto aliado abatido, Danilo dividiu lugares fedorentos com outros estropiados, comeu o que e quando podia. A língua machucada e inchada lhe servia de álibi para manter-se calado.
Deixou Monsélice, Stanghella, Rovigo, Arqua para trás e finalmente chegou à Polesella, às margens do Rio Pó, num total de 120 quilômetros de caminhada.
Nesse ponto, Danilo deu de cara com um problemão: como atravessar o rio? Subiu num barranco e ficou pensando numa solução, enquanto aproveitava para descansar um pouco. As poucas pontes ainda de pé, estavam densamente patrulhadas pelos alemães que exigiam documentos que, evidentemente, não tinha.
Como um bom gaúcho, imaginou arrumar um cavalo e preso ao seu lombo atravessar durante a noite, mas desistiu ao concluir que a baixa temperatura da água poderia levá-lo à hipotermia e mesmo que conseguisse atravessar, teria que esperar secar as roupas para não despertar atenções.
Enquanto pensava e com a fome aumentando, não reparou que uma sentinela alemã se aproximava.
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3ª parte
Nas mãos dos Partisans
fevereiro/1945, proximidades de Polesella, norte da Itália
Já fazia algum tempo que Danilo estava naquele barranco, olhando para o rio e matutando como atravessá-lo. Há alguma distância, contudo, um guarda alemão vendo-o sozinho aproximou-se e falou algo que, evidentemente, não entendeu. Seu tom de voz era de inquirição e a situação ficou tensa. Mantendo o sangue frio, Danilo mostrou a língua ferida e inchada, gesticulando sinais com as mãos que não conseguia falar.
Talvez por repugnância ou achando que era mais um italiano doente e sem ocupação, o alemão afastou-se sem dizer mais nada. Danilo respirou aliviado, mas achou melhor descer do barranco e voltar à estrada. O dia já ia alto, a fome apertava, os joelhos doíam pelo esforço da caminhada, mas tinha que prosseguir.
Batendo nas portas, pedindo algo para comer, o piloto brasileiro seguiu pela margem do rio, na esperança de encontrar uma parte mais estreita que pudesse ser atravessada. Andou quase o dia inteiro e ao final da tarde, com o frio e a fome atormentando, já que o almoço tinha sido quase nada, parou perto de uma das primeiras casas num vilarejo arruinado pela guerra. No alpendre, um camponês cortava lenha e, então, Danilo aproximou-se, parou e ficou pensando o que fazer.
Por fim, ao terminar a tarefa, com madeiras cortadas nos braços, o italiano dirigiu-se a ele para saber o que queria. Danilo, então, desfiou o lenga-lenga já repetido tantas vezes, sobre estar procurando parentes, sua casa bombardeada, documentos perdidos, etc. O italiano após ouvi-lo atentamente, deixou o pobre coitado entrar. Serviu-lhe vinho e comida e a certa altura da conversa, disse ao brasileiro que a história dele até que era convincente, não fosse por suas botinas de aviador!
Danilo sentiu-se aturdido. Fora descoberto! Em sua mente chispou a ideia que seria entregue aos alemães e todo o esforço até ali, tinha sido em vão. Vendo a palidez estampar-se no rosto do aviador, o italiano apressou-se em desfazer as dúvidas, esclarecendo que podia sossegar, estava em boas mãos e nada tinha a temer, a Resistenza ia cuidar dele. Ufa! Desafogado, Danilo contou-lhe a verdadeira história, desde a queda do Thunderbolt até aquele momento.
Percebendo o deplorável estado físico e psicológico do brasileiro, o anfitrião acomodou-o em uma cama e, pela primeira vez em dias, Danilo dormiu confortável e aquecido. Mal podia acreditar: cobertor e travesseiro!
Dias se passaram e para disfarçar sua repentina aparição, o recém-chegado foi tido como “fratello” na família. Tudo o que lhe diziam era ter paciência, pois estava sendo arranjada uma maneira para uma travessia segura. Danilo aproveitou a oportunidade para refazer-se e enfrentar o resto da jornada.
Finalmente, foi informado que naquela tarde atravessaria o rio, juntamente com trabalhadores que voltavam às suas casas no outro lado da margem, ocasião menos arriscada. Horas mais tarde, o gaúcho vestiu o surrado paletó e com uma nova broa debaixo do braço, despediu-se de todos. Para completar o quadro, ganhou uma enferrujada bicicleta e com muita fé e emoção, seguiu com o partizano até o ponto de embarque.
Chegaram à prancha com a tensão aumentando a cada passo. Com medo de se trair num olhar suspeito, o aviador caminhava cabisbaixo em atitude de humildade e submissão. Tomou seu lugar na balsa, com o coração aos pulos, enquanto o corajoso italiano trocava algumas palavras com os guardas da fiscalização. Com umas garrafas de grappa ou conhaque tudo se conseguia daqueles alemães já cansados de tanta guerra.
Para não despertar atenção dos outros passageiros e por precaução, durante a travessia as botinas foram escondidas debaixo da bicicleta enroladas no seu casaco. Lentamente, a balsa avançou pelas águas com os dois vivendo uma mistura de ansiedade e euforia contidas.
Finalmente, chegaram na outra margem. Desembarcaram e caminharam juntos até o primeiro povoado, onde foi o final de linha para o italiano, que se despediu num abraço forte a caloroso. Quem sabe, um dia voltariam a se encontrar em melhores circunstâncias. Ao darem-se as costas, novamente, Danilo estava só, entregue à sua própria sorte. Montou na velha bicicleta, seguindo pela estrada principal com destino a Ferrara. O rio ficou para trás.
Depois de algumas horas e os músculos endurecidos pelo esforço, parou para descansar um pouco, observando que o movimento de tropas e veículos alemães era mais intenso. Prosseguiu pedalando, dispondo-se a redobrar o empenho, mas cada quilômetro custava-lhe sacrifícios e sustos, achando a todo instante ia ser descoberto. Contra todas as expectativas, misturando-se às pessoas, cruzou Ferrara, QG alemão, sem que nada lhe acontecesse. À sua frente Bolonha, a última cidade importante que tinha de atravessar.
O corpo doía, mas o desejo de voltar dava-lhe coragem. Pedalando lentamente pela estrada, viu uma carroça puxada por animais e súbito lembrou-se dos tempos de guri. Pedalou mais forte, esticou o braço e agarrou a lateral de madeira velha, deixando relaxar as pernas enquanto aproveitava a carona.
Mais à frente, viu um soldado alemão, também de bicicleta, seguindo na mesma direção. O soldado, ao ver o gaúcho pendurado na carroça, achou a ideia muito boa. Pisou com mais força, alcançou-os, e também tomou sua carona do outro lado. Não trocaram nenhuma palavra e continuaram agarrados ao reboque por um bom tempo. A companhia era desagradável e o fuzil que levava nas costas causava mal estar, mas o que fazer?
Já se conformara com a presença indesejável do novo carona e vez ou outra, arriscava olhar para ele. Súbito, viu um detalhe que o abalou. Com o braço esticado e a mão segurando firme na carroça, a manga do casaco subira deixando a descoberto o relógio de aviador que levava no pulso. Sentiu o sangue gelar nas veias.
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4ª parte
Desespero
fevereiro/1945, arredores de Bolonha, norte da Itália
A carroça seguia estrada afora com dois caronas agarrados a ela. De um lado o alemão, carregando seu fuzil e do outro, o piloto brasileiro. Danilo gelou ao ver seu relógio aparecendo, por causa do braço esticado. Se o alemão visse estaria perdido. Considerou também que não deveria abandonar a carona, de repente, no meio da estrada e em campo aberto.
Naqueles segundos de impasse eis que surge providencial, um cruzamento e o gaúcho aproveita para largar o reboque da maneira mais natural possível, como se ali fosse, de fato, o seu destino. Ousadamente gritou “grazzie” ao carroceiro que, por sua vez, lhe respondeu “prego”. Seguiu por alguns instantes naquela estradinha até o batimento cardíaco normalizar e depois, voltou à estrada principal, aliás sua velha conhecida dos ares.
Neste dia, não conseguiu alimento algum e como a noite o alcançou no descampado, não teve alternativa a não ser dormir ao relento. Deitou-se à margem da estrada, em meio aos arbustos, imaginando ficar seguro e sossegado. Ledo engano. Aquela seria uma noite de cão! Camuflados pela escuridão, os alemães aproveitaram para fazer a movimentação dos seus veículos em comboios barulhentos.
E assim foi durante toda aquela interminável noite entre rangidos de lagartas, motores diesel e gritos de ordens. À primeira claridade do dia, todos aqueles veículos desapareceram como que por encanto, nas cocheiras das fazendas ou debaixo de redes de camuflagem muito bem dispostas. Danilo ficou imaginando como seria o show de um Bristol Beaufighter inglês aparecer e fazer uma limpeza na área.
O amanhecer encontrou o brasileiro estremunhado com a noite mal dormida, fome e muito frio. Trôpego, retomou o caminho chegando a um vilarejo onde ficou perambulando por dois dias na esperança de ser encontrado pela Resistenza, mas nada aconteceu. Resolveu voltar à estrada, seguindo em direção aos Apeninos, chegando a um vilarejo ao final da tarde.
O nome do lugar não sabia e sequer tinha vontade de verificar nos mapas, pois a prioridade era arranjar o que comer. Andou, bateu em algumas portas que não se abriram. Não sabia mais o que fazer. Seu abatimento chegou a tal ponto que, pela primeira vez, pensou em desistir e se entregar aos alemães. Poderia ao menos comer algo e ter onde se abrigar. Abalou-se, no entanto, ao pensar nas consequências, não apenas para si, mas para todos àqueles que o haviam ajudado. Oscilando o equilíbrio emocional entre o desespero e a sensatez, entregou-se a um grande esforço mental para se recompor e voltar a se concentrar nos planos de fuga. O gaúcho vergava, mas não quebrava.
Em meio aos pensamentos, em determinado momento, viu uma velha senhora na varanda de uma casa, tricotando. Uma dor aguda no estômago vazio o empurrou e lhe deu coragem. Encostou a velha bicicleta num muro de pedras e chegando perto da entrada, notou que o portão estava aberto. Ficou intrigado ao perceber que sua entrada era esperada.
Humildemente, dirigiu-se àquela senhora num italiano um tanto abrasileirado e desfiou o costumeiro lenga-lenga para pedir comida. Condoída, a senhora serviu-lhe um abençoado macarrão e enquanto comia Danilo ouviu-a dizer para ficar sossegado e que poderia ficar ali até amanhã, quando seu sobrinho chegaria do trabalho. Depois de fartar-se, o piloto brasileiro ganhou um colchão de palha e, naquela noite, dormiu profundamente.
Na manhã seguinte, ao acordar mais disposto, a senhora do tricô e seu sobrinho estavam à sua espera. A conversa foi longa e cuidadosa, cada qual medindo suas próprias palavras. Para encurtar a história e mais uma vez para sorte sua, as botinas de aviador, o tinham revelado. Dali em diante ficaria aos cuidados dos Partizanos de verdade. Achou graça naquilo, pois os Partizanos sempre eram outros, nunca aqueles com quem conversava.
Para encobrir e explicar sua presença naquela casa, Danilo novamente se tornou um "fratello" e sua "famiglia” organizou uma reunião onde compareceram amigos e vizinhos que foram festejar sua chegada. A todos era dito que a sua casa, em Ferrara, fora destruída num bombardeio e que, por consequência do trauma...ficara mudo!
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5ª parte
A volta para casa
fev/1945, em algum lugar no sopé da Cordilheira dos Apeninos, norte da Itália
Finalmente, em contato com a organização que poderia levá-lo de volta, Danilo começou a se aborrecer com o que considerava ser um exagero a forma pela qual os Partizans lidavam com seu caso. Afinal, ele já tinha contado toda sua história, várias vezes, mencionando em detalhes datas, horários, trajetos, contatos, o que fez o que viu, além de ter-se identificado devidamente.
O que o piloto brasileiro não sabia naquele momento era que, apesar de verdadeira, as pessoas consideravam sua história como inverossímil e até mesmo absurda, pois ele tinha feito tudo exatamente ao contrário do que rezava o manual de fugas. Os interrogadores estavam admirados e custavam a acreditar, pois nada daquilo poderia ter acontecido. Depois de muita conversa, Danilo foi dado como “legítimo”.
Foi, então, levado para uma estação avançada, onde se juntou a outros que estavam na mesma situação. Eram oito ao todo, entre aviadores americanos, ingleses e agora um brasileiro. Durante dias, o grupo foi deslocado algumas vezes para despistar qualquer investigação e manter a segurança.
Num desses dias, Danilo foi acordado com um forte troar que ia aumentando e se aproximando velozmente. Ele sabia muito bem o que era. Afastou lentamente a cortina e através da suja vidraça viu uma formação cerrada de Thunderbolts P-47 passar zunindo. Em suas asas, as estrelas verde/amarelas. O coração quase lhe saltou pela boca, tamanha a emoção e a custo, conteve o soluço e as lágrimas.
Mais alguns dias e num último translado, o grupo chegou a um pequeno vilarejo ao pé da cordilheira, onde ficaram esperando não se sabia o que. O tempo ia passando, a angústia aumentando e ninguém dizia nada. Os Partizans olhavam continuamente o céu.
Finalmente, o tão esperado dia chegou sob a forma de uma grande nevasca, frio intenso e cortante. Era a camuflagem que aguardavam, pois naquelas condições as sentinelas relaxavam o que possibilitava uma travessia com mais segurança. No início da escura noite, começaram a caminhada que não previa nenhuma parada.
Em fila indiana e em ritmo constante galgaram os Apeninos por trilhas de cabras, íngremes, escorregadias enfrentando vento gelado, chuva e neve. Na escuridão, tropeçando, caindo, mas seguindo fielmente os guias, os corações batiam descompassados pelo esforço e pela ansiedade de vencer o último obstáculo que os separava da linha amiga. E que obstáculo!
Parecia que a natureza queria arrancar o derradeiro esforço e energia para que provassem ser dignos de receber o prêmio maior: a liberdade. Depois de quatorze horas de caminhada forçada, sem pausas e descanso, ao raiar do dia, chegaram a um posto avançado do exército inglês.
Descansado, lavado, barbeado e bem alimentado Danilo foi longamente interrogado e, de novo, teve que enfrentar o ceticismo, desta vez dos britânicos, que ficaram perplexos com sua aventura. Mas como? Não pode ser, o manual fala que, blá, blá, blá. Exausto com toda aquela ladainha, o gaúcho mandou os ingleses e seus métodos à merda e exigiu ser levado imediatamente à sua base em Pisa.
E assim, numa tarde de março de 1945, sentado num jeep da FEB e emocionado às lágrimas, Danilo viu surgir no final da estrada poeirenta que levava à Base Aérea de San Giusto, a bandeira do Brasil que, tremulando ao vento, parecia dizer: “Seja bem vindo aviador!”. Ele estava de volta. Tinha conseguido.
Facebook - Contos do Céu - (inspiração e fontes: antoniovalentim.wordpress e jambock.com.br)
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