Marcelo Barros - O aumento do escoamento de grãos pelo Norte do país tende a manter de vento em popa o crescimento dos negócios da Hidrovias do Brasil neste ano. Puxados por embarques de soja, os resultados da empresa já foram positivos no primeiro semestre, e até o fim do ano, embalados principalmente pelo transporte de milho para exportação, a tendência é que o ritmo permaneça acelerado.
A Hidrovias, que investiu cerca de US$ 1,2 bilhão desde o início da década, quando deslanchou a partir de um projeto capitaneado pelo Pátria, concentra suas operações em duas bacias hidrográficas – Amazônica, no Norte, e Paraguai-Paraná, no Sul -, e também atua com cabotagem. Na bacia Amazônica, transporta por barcaças, em sistema integrado, grãos e fertilizantes; no Sul, navega carregada com minério, grãos e celulose, e está presente no porto de Montevidéu.
Juntos, esses negócios geraram receita de quase R$ 445 milhões no primeiro semestre deste ano, mesmo patamar que em igual período de 2018. Mas o Ebitda da companhia subiu 33%, para R$ 222 milhões, e houve lucro líquido de R$ 112,5 milhões. O lucro caiu 56%, para R$ 49 milhões, mas porque, de janeiro a junho do ano passado, o resultado (R$ 194 milhões) foi turbinado por uma indenização de R$ 380 milhões paga pela Multigrain para sair da sociedade.
“Com as boas perspectivas que temos para este segundo semestre, nosso Ebitda deverá alcançar R$ 500 milhões este ano”, afirmou Fabio Schettino, vice-presidente executivo da Hidrovias do Brasil, ao Valor. Essas boas perspectivas, segundo ele, são sustentadas pela movimentação pelo Norte, onde a companhia mantém uma estação de transbordo em Miritituba e um terminal privado em Vila do Conde, no Pará.
Por essa estrutura, a Hidrovias deverá escoar, no total, 4,6 milhões de toneladas de grãos (soja e milho) e fertilizantes em 2019, ante 3,1 milhões em 2018. No primeiro semestre, com destaque para a soja, foram quase 2 milhões de toneladas, 37% mais que no mesmo período do ano passado. Schettino disse que nos meses de julho e agosto, pela primeira vez, a Hidrovias atingiu sua capacidade plena no Norte, e com isso avalia uma expansão da capacidade na região.
No total, lembrou, a companhia atualmente tem capacidade para escoar 6,5 milhões de toneladas pelo Norte. Mas o potencial de expansão agrícola na região, especialmente com a prevista conclusão do asfaltamento da BR-163 – faltam 30 quilômetros, que deverão ser cobertos até o fim do ano, segundo o governo -, poderão justificar, no futuro, investimentos para até duplicá-la.
“Podemos aproveitar a demanda das tradings ‘leves’ em ativos, que não têm estrutura própria na região, já que somos uma provedora de logística integrada, com capacidade de carga e descarga. As demais companhias com terminais na região trabalham com as próprias cargas”, afirmou Schettino. Uma dessas tradings “leves” que vêm crescendo no Brasil e é cliente da Hidrovias é a chinesa Cofco.
Segundo o executivo, o aumento de preços para o transporte rodoviário para o Norte embutido na nova tabela de fretes não é problema, já que a melhora da BR-163 gerou forte queda nos valores praticados. “O frete rodoviário de grãos já caiu em R$ 60 a R$ 70 por tonelada com o avanço do asfaltamento da estrada. Hoje estamos falando em cerca de R$ 210 a tonelada”. E existe grande expectativa com o projeto da Ferrogrão, que tornará viável o transporte de grandes volumes por trilhos e tende, assim, a baratear os fretes de forma expressiva.
Em suas atividades no Sul, a Hidrovias do Brasil não espera aumento dos volumes transportados. Foram cerca de 5 milhões de toneladas em 2018 – 2 milhões de toneladas de grãos, 1 milhão de toneladas de minérios, 1 milhão de toneladas de celulose e 1 milhão de toneladas na operação portuária de Montevidéu -, e esse patamar deverá ser mantido neste ano.
Nas operações de cabotagem, serão mais 5 milhões de toneladas de bauxita este ano, transportadas até o porto público de Vila do Conde, mas recentemente a companhia arrematou um terminal em Santos para movimentar sal e fertilizantes, e a tendência é de crescimento da operação no médio de longo prazos.
Fonte: Valor
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