Relevância do papel de Angra 3 vem sendo vividamente discutida pelos agentes do setor elétrico nacional, levando em conta que a maioria das hidrelétricas hoje são a fio de água e, portanto, são tão intermitentes como as solares e as eólicas. Parece ser um consenso no setor que térmicas a gás e nucleares são imprescindíveis para termos segurança energética. A quantidade crescente de energia intermitente vai levando a um aumento das dificuldades para o ONS operar o Sistema Interligado Nacional SIN não só do ponto de vista energético, mas também do elétrico.
Sob o enfoque do atendimento energético, a Usina Termonuclear UTN de Angra 3 apresenta as seguintes características:
* Sua capacidade instalada, e a previsão de alta disponibilidade e elevada confiabilidade a tornam, mesmo se avaliada isoladamente, um dos principais recursos para atendimento ao mercado do subsistema Sudeste/Centro-Oeste e do SIN;
* Como disponibilizará sua produção diretamente no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, maior carga do SIN, contribui para evitar congestionamentos nas interligações entre subsistemas;
* Devido a seu baixo custo unitário variável previsto será uma das fontes prioritária para despacho, seja por mérito econômico ou por razões de segurança eletroenergética, o que contribuirá para a redução dos Custos Marginais de Operação (CMO) futuros; e
* A operação da UTN Angra 3 durante um mês corresponde a 0,6% da energia armazenável máxima do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o que em base anual corresponde a um acréscimo de 7,2% da energia armazenável máxima deste subsistema.
Sob o ponto de vista elétrico, a UTN Angra 3 traz os seguintes principais benefícios relacionados ao desempenho elétrico da Rede Básica de suprimento à área Rio de Janeiro/Espírito Santo:
* Permite manter a qualidade do suprimento em situações de parada das UTNs Angra 1 e Angra 2, para recarga ou manutenções;
* Aumenta os limites de transmissão para a área Rio de Janeiro/Espírito reduzindo tanto a necessidade do uso de Sistemas Especiais de Proteção SEPs de corte de carga, principalmente em situações de contingências duplas quanto a de geração térmica em situações de parada das UTNs Angra 1 e Angra 2, para recarga ou manutenções ou situações de indisponibilidade de Linhas de 500 kV;
* Melhora o perfil de tensão nas malhas de 500 kV, 440 kV e 345 kV da região Sudeste, decorrente da redistribuição de fluxo através de atendimento local ao centro de carga (Rio de Janeiro e Espírito Santo).
Os custos associados ao eventual abandono do projeto Angra 3 equivalem a cerca de pouco mais do que a metade dos investimentos necessário à sua conclusão. Esse custo seria totalmente improdutivo e arcado pela União, como sócia majoritária e demais sócios da Eletronuclear, sendo o principal a Eletrobras. Entretanto, em última instância, esse custo improdutivo seria arcado pelo consumidor e pelo contribuinte. Pelo outro lado, o investimento produtivo proporcionaria ao sistema elétrico brasileiro 60 anos de 1.405 Mw de energia limpa, sem emissões de carbono, disponível mais de 90% do tempo e despachável em quaisquer condições climáticas. Isso associado a um preço de venda de energia que implicaria a um mínimo aumento médio para consumidores, da ordem de menos de 1%.
O preço de venda da energia de Angra 3, considerado alto em termos absolutos, deve-se ao fato de agregar custos associados às paralizações e atrasos decorrentes de processos longos de tomada de decisão. Cada mês adicional ao cronograma para o início da operação comercial da usina agrega algo da ordem de R$ 75-100 milhões ao custo total do empreendimento, a maior parte devido a despesas financeiras. Esse preço inclui, portanto, aquilo que poderia chamar-se de “custo de indecisão” ou “custo da ineficiência” que não se relacionam com a geração nucleoelétrica propriamente dita. Casos esses custos fossem expurgados do cálculo, o valor seria significativamente reduzido. Cabe ainda notar que durante a recente crise hídrica foi necessário pagar valores de MWh que chegaram a cerca de R$ 2.000. Pode-se dizer que se angra 3 estivesse operando na mais recente crise hídrica pela que passamos, o custo total do sistema, o que realmente arcado pelo consumidor, teria sido inferior. Depreende-se assim que, se considerarmos o longo prazo incluindo anos hídricos bons e ruins, o preço de venda da energia de Angra 3 certamente não seria tão elevado em termos relativos.
Apesar de Angra 3 ter sido planejada ao final dos anos 1970, ao longo do tempo, mudanças foram feitas na concepção original para incorporar modernizações tecnológicas, a experiência operacional do setor nuclear e as exigências das normas nacionais e internacionais, que foram revisadas no período. Isto permite que Angra 3 mantenha a segurança e o desempenho adequados aos padrões internacionais atuais.
Além desses argumentos técnicos, temos uma questão de extrema importância que corroboram para a continuidade das obras de ANGRA 3:
A implantação de usinas nucleares gera um número expressivo de novos empregos de qualidade, diretos, indiretos e induzidos, não apenas na sua fase de construção, mas durante toda a vida útil das mesmas. Uma usina de 1.000 MW gera aproximadamente 1.200 empregos diretos, em sua maioria de nível superior ou técnico especializado. A estes, somam-se os empregos indiretos e induzidos, que segundo estudo da FGV são 2,4 vezes o número de empregos diretos. Uma central nuclear com seis usinas gera, assim, 7.200 empregos diretos e mais de 17.000 empregos indiretos e induzidos.
Os expressivos recursos investidos na construção de usinas nucleares, que têm um índice de nacionalização superior a 65%, trazem efeitos multiplicadores na economia local, regional e nacional. Um estudo realizado pela FGV para a Eletronuclear em 2015, aponta que os investimentos realizados revertem no PIB segundo um multiplicador de 2,27. Ou seja, cada R$ 1,00 investido da construção agrega R$ 2,27 ao PIB nacional.
As usinas nucleares são importantes fontes de arrecadação de impostos municipais, estaduais e federais, tanto pela efetiva geração de energia quanto pela atividade econômica induzida na região.
As usinas nucleares participam ativamente do desenvolvimento das comunidades no seu entorno, através de programas de ação social, cultural, convênios com as municipalidades para obras de infraestrutura, saneamento, saúde e educação, participação de seus empregados em programas comunitários e de voluntariado, etc. Isso ocorre sistematicamente há muitas décadas em Angra dos Reis, Paraty e Rio Claro, municípios vizinhos à Central Nuclear de Angra dos Reis.
Carece, portanto, de sólido fundamento técnico ou econômico, a visão parcial dos que defendem a exclusão pura e simplesmente da fonte nuclear do planejamento energético nacional e das estratégias para a transição energética, em que poderosos interesses econômicos estão em jogo.
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