Jorge Natal, especial para o AcreNews
Ruas escuras e esburacadas; enlameadas em um período do ano e empoeiradas em outro; ausência de calçadas e pouquíssimas ciclovias; trânsito caótico; poluição sonora e visual; violência que já se estendeu ao campo; altos índices de consumo e tráfico de drogas; desemprego e desalento, esgoto a céu aberto; ramais intrafegáveis; e falta d’água. Bem-vindo a Tarauacá, uma cidade complexa e há décadas negligenciada.
Nascida na confluência de dois belíssimos rios, este centenário local anualmente é alagado. O fenômeno causa prejuízos e transtornos para milhares de pessoas, que não possuem moradia digna. E se no Nordeste existe a “indústria da seca”, temos uma versão às avessas por aqui. Moradias, além de não serem prioridades, quando acontecem são em locais inadequados e de forma clientelista.
Com uma população em torno de 45 mil pessoas, o município, que já foi um dos prósperos da Amazônia, é um dos lugares onde mais se ressente de uma representação proativa e consequente. Apesar das riquezas existentes naquele maravilhoso local, todas elas seguem subexploradas. E poderia se desenvolver com a implantação de polos de tecnologia e pesquisa farmacêutica, cosmética e alimentícia, dentre outras tipologias produtivas que se adequam às potencialidades regionais.
É aí que se encaixa a agroindustrialização. Esse modelo forma cadeia produtiva bem definida, englobando os três setores da economia, começando com a agricultura, cujos produtos vindos desse setor seriam processados (indústria) para agregar valor. Por último, eles seriam exportados (comércio) gerando divisas para o estado.
Essa proposta é focada em produtos regionais como a mandioca, o abacaxi, a banana, o buriti, o açaí, a cana-de-açúcar, o café clonal e a fruticultura de um modo geral. O papel do poder público seria garantir a infraestrutura adequada e necessária para incentivar a produção em escala maior, bem como criar um ambiente favorável, com incentivos e isenções, para a instalação de indústrias desses produtos.
Existe consumo de banana chips no mundo inteiro. Os países caribenhos produzem, industrializam e exportam para os EUA, Canadá e Europa. Da mesma forma que a banana, a mandioca também seria outra alternativa para a região, uma vez que agregaria valor e geraria empregos. Mas existe produção para isso? Não existem banana e mandioca nem para atender o consumo in natura local.
Por causa disso e por outros motivos, o produtor rural José Teles de Oliveira Filho, o Zé Filho, de 46 anos, é pré-candidato a prefeito nestas eleições. Ele quer transformar o município em um local próspero e feliz, mas foge da pecha de ser o salvador da pátria. “Esse projeto está sendo construído a muitas mãos. Estou conversando com as pessoas, estudando e conhecendo outras realidades para buscarmos soluções para a cidade e o campo”, explicou ele, que, apesar de pertencer a uma família de políticos tradicionais, nunca esteve envolvido diretamente numa disputa.
Em um restaurante aqui na Capital, ele conversou com a nossa reportagem. “Não precisamos importar modelos de gestão ou de desenvolvimento. O que precisamos é inverter prioridades, revolucionar na parte da infraestrutura e criar empregos para a nossa população”. Vejam os principais trechos da entrevista:
AcreNews – Por que o senhor é candidato a prefeito de Tarauacá?
Zé filho – Por uma questão de civismo, afinal, eu nasci e me criei naquela cidade. Consegui, pela iniciativa privada, uma certa liberdade econômica e sinto que tenho que devolver tudo o que Tarauacá fez por mim. Quero aplicar essa experiência e esse conhecimento na resolução de problemas e na busca de soluções. Chegou o momento de a população dar uma oportunidade para um empreendedor.
AcreNews – Qual é a situação do município?
Zé filho – Estamos pior do que há vinte ou trinta anos. Em praticamente todos os setores, administrar Tarauacá é um grande desafio. O produtor rural está sendo perseguido e coagido por essa política de crédito de carbono. E tem que ser ao contrário, ou seja, o produtor precisa de apoio, inclusive jurídico. No tocante à infraestrutura, cerca de 70% das nossas ruas não têm pavimento. Os gestores insistem em permanecer com a cidade no brejo (terreno alagadiço). Precisamos rever o plano diretor da cidade e levá-la para a parte alta, às margens da BR 364.
AcreNews – O que o senhor vai dizer para ganhar as mentes e corações dos eleitores?
Zé filho – Vou falar do sentimento de mudança que, como você mesmo disse, está em nossas mentes e corações. Somos um povo altaneiro, politizado, hospitaleiro e empreendedor. A nossa pré-campanha tem uma excelente aceitação e isso me anima muito. O nosso nome é bem avaliado tanto na cidade como no campo. Estamos trilhando um caminho diferente da velha política. Temos problemas crônicos na educação, na saúde e em outros serviços essenciais. Os nossos 700 presos, sem contar com os monitorados, chegaram a essa condição por falta de emprego. Vamos romper com a política clientelista, do toma-lá-dá-cá, e vamos assistir a população de forma coletiva e republicana. Vamos administrar com zelo os recursos públicos.
AcreNews – O que o senhor pretende fazer para criar oportunidades de trabalho?
Zé Filho – A grande onda era a tal de agenda 2030. Acredito que, neste momento, seja a segurança alimentar. Só conseguiremos isso com a valorização dos agricultores, ou seja, precisamos urgentemente de uma política agrícola de estado. Precisamos, também, de segurança jurídica para produzirmos alimentos. O saudoso economista, Celso Furtado, apregoava que a única forma de levar o desenvolvimento para os rincões era através da produção de alimentos. Ele chamava isso de autodesenvolvimento ou agroindustrialização.
AcreNews – O que mais o senhor propõe?
Zé Filho – Parcerias público-privadas. Quer um exemplo? Quando deslocarmos a cidade para a parte alta, a construção civil vai gerar oportunidades de trabalho para a nossa população. Esse novo local terá títulos definitivos e os moradores poderão acessar financiamentos bancários para investir em seus imóveis. Isso não pode acontecer em áreas de risco. Vamos ainda valorizar os servidores do quadro efetivo, uma vez que são eles que garantem o funcionamento da máquina administrativa. Esse capital humano, experiente e competente, é patrimônio do município.
AcreNews – Por que não existe uma única indústria em Tarauacá?
Zé Filho – Para existir indústrias é preciso ter matéria prima em escala, ou seja, produção. Ainda não temos uma pecuária consolidada. Precisamos aumentar o rebanho daquela região. Temos apenas 6% de área desmatada, incluindo a cidade. Então, sem infringir a legislação ambiental, podemos ainda explorar esses 14% de área do município. Vamos usar os 20% e diversificar a produção. Temos potencial com o gado de corte e leiteiro, com a farinha milito, que considero uma das melhores do país, dentre outros produtos vocacionais, principalmente a sensação do momento: o café clonal. Temos, também, uma banana grande de altíssima qualidade e o famoso abacaxi. Quem vai resolver o problema de Tarauacá e do Acre são os produtores rurais e uma cultura empreendedora. Mesmo com uma terra boa e um povo trabalhador, não existem estudos dessas cadeias produtivas nem qualquer outro investimento no setor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Atenção:
Comentários ofensivos a mim ou qualquer outra pessoa não serão aceitos.