Empresário foi ouvido em ação que investiga se empreiteira pagou vantagens a petista
POR CLEIDE CARVALHO / TIAGO AGUIAR
O empreiteiro Marcelo Odebrecht, durante depoimento - Reprodução vídeo 12/04/2017
O empresário Marcelo Odebrecht disse nesta quarta-feira, em depoimento ao juiz Sergio Moro, que quanto mais mexe em seus emails e arquivos pessoais mais complicada fica a situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Lava-Jato. Marcelo foi interrogado a pedido da defesa do ex-presidente em um processo que investiga se a Odebrecht pagou um prédio destinado ao Instituto Lula, em São Paulo, e uma cobertura vizinha à da família do ex-presidente, em São Bernardo do Campo. Lula nega as duas acusações.
A defesa do petista alegou que, antes do depoimento, deveria ter acesso a todos os emails de Marcelo — e não só a aqueles selecionados pelo delator. Moro autorizou, então, que os advogados de Lula tenham acesso a todo o conteúdo do HD apreendido com o empresário. Ao ser questionado pela defesa do ex-presidente sobre a seleção das mensagens, o empreiteiro respondeu:
— Quanto mais eu vou (rever arquivos), mais complica a vida dele (Lula) — disse.
O acesso deverá ser dado até o próximo dia 24, e a defesa pode selecionar novos conteúdos a ser anexados ao processo até o dia 30 deste mês. Apenas depois desta data é que o juiz abrirá prazo para a apresentação das alegações finais, última manifestação das defesas antes do julgamento do caso.
O empresário foi interrogado pela segunda vez nesta quarta-feira, para esclarecer conteúdo de mensagens anexadas ao processo. A defesa de Lula protestou e afirmou que não poderia admitir que lhe fosse dadas apenas mensagens selecionadas pelo próprio delator. Alegou cerceamento de defesa.
Moro protestou no início da audiência afirmando que as mensagens estavam nos autos, mas acabou atendendo ao apelo dos advogados do ex-presidente. A Polícia Federal havia permitido acesso apenas às mensagens, mas não ao restante do conteúdo do notebook do empresário.
A defesa de Lula se recusou a fazer perguntas ao empresário, o que irritou o juiz.
— Há perguntas para o Sr. Marcelo Odebrecht? — indagou Moro.
— Eu não tenho perguntas, porque eu não tive acesso — afirmou o advogado.
— Eu acho que é um pouco uma brincadeira da defesa. (...) A defesa apresenta uma petição com questões escritas dirigidas ao senhor Marcelo Odebrecht, pedindo que sejam respondidas. A pessoa quando ela é acusada é ouvida oralmente no processo, logo, o juiz marca uma audiência para as perguntas serem realizadas. A defesa vem e diz que não quer fazer as perguntas.
PRÉDIO SERIA PAGO COM DOAÇÃO A INSTITUTO
No interrogatório, o empresário explicou ainda que a compra do prédio para o Instituto Lula foi feita pela DAG, uma subcontratada da Odebrecht, que foi temporariamente ressarcida por adiantamentos por serviços que ela havia prestado para a Odebrecht.
E explicou a lógica do negócio:
— A cabeça daquele processo, desde o início, era que Demerval compraria, contruiria no terreno, venderia ou alugaria para o Instituto Lula. Ele seria ressarcido depois pela doação que seria feita ao Intituto e o Instituto compraria — afirmou Marcelo, referindo-se a Dermerval Gusmão, o dono da DAG.
O empresário contou ainda que, inicialmente, o compromisso era apenas comprar o terreno para o Instituto Lula, mas depois começaram pedidos para a manutenção da área e reforma e construção do prédio.
— Já estava fazendo mais do que o previsto. O advogado (Roberto Teixeira) estava acompanhando os gastos, que eram autorizados por (Antonio Palocci) e retirados da planilha italiano — disse o empresário, referindo-se a uma conta que tinha com Palocci.
* Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire
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