UOL/GIBA BERGAMIM JR. - Um policial militar com rosto banhado de sangue, cercado e agredido com socos, chutes e pedras por cerca de dez manifestantes.
A cena na rua 11 de Agosto, a poucos passos da praça da Sé, marco zero da cidade de São Paulo, foi impressionante não só para mim, mas até para integrantes do Movimento Passe Livre, que organiza os atos contra a tarifa.
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"O PM iria ser linchado", admitiu o estudante de Ciências Sociais Matheus Preis, 19, que, com outro grupo, tentava, para a proteção do PM, conter os mais radicais.
A agressão que testemunhei por volta das 20h30 ocorreu ao lado do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Após se levantar, sangrando, o PM tirou a arma do coldre e a apontou para os manifestantes. Depois, para o alto. Tive certeza de que ele iria atirar. Mas o policial militar não disparou nenhum tiro.
PICHAÇÃO
A agressão ocorreu quando a manifestação seguia pela região da Sé, após confronto entre policiais e manifestantes no Parque Dom Pedro.
Eu acompanhava parte do grupo que seguiu outro caminho. Foi quando o PM que atua na segurança do prédio viu um jovem pichando a parede do prédio da Justiça.
Com a mão na arma que estava no coldre, o policial correu e agarrou o rapaz, que tentou se desvencilhar.
Ambos caíram no chão, atracados. Foi quando parte do grupo começou a sequência de agressões com pedras, chutes, socos. Eram cerca de dez contra um. Sangrando na cabeça e no rosto, o policial conseguiu se levantar.
De pé, segurando o pichador ainda agachado pela gola da camisa, ele apontou a arma para os manifestantes.
Outros objetos foram lançados e o policial se protegeu, abaixando a cabeça.
Temi não só que o policial atirasse, para se proteger, mas também que o grupo continuasse a agressão. Por isso me aproximei de outros manifestantes que se posicionaram para proteger o PM.
O policial, que não consegui identificar, silenciou, enquanto o sangue escorria.
Junto com manifestantes que tentavam dar fim à confusão, gritei pedindo calma aos agressores. Em seguida, pedi a dois jovens que chamassem uma ambulância.
Não havia nenhum outro policial junto com ele na hora da confusão. Mesmo cercado, o PM saiu dali e caminhou só em direção a um acesso ao tribunal. Um colega se aproximou. Colocado num carro da corporação, foi levado ao hospital. Até a ontem, a sala de imprensa da PM não tinha informações sobre ele.
*LEIA OUTRAS CENAS INUSITADAS OCORRIDAS DURANTE O PROTESTO:
FATURAMENTO
Nas principais ruas do calçadão do centro financeiro de São Paulo as pessoas buscaram abrigo onde podiam durante os confrontos. "Ficou todo mundo muito assustado" disse Hilo Valnei Coutinho, 31, fiscal de uma loja Marisa no largo do Patriarca. Quase em frente, havia uma barricada em chamas feita com lixo. Segundo o funcionário, a loja fechou mais cedo e deixou de faturar na véspera do dia dos Namorados.
*IPHONE
Um manifestante do grupo que voltou à avenida Paulista após os primeiros confrontos com a Polícia Militar desferiu cinco "voadoras" até conseguir quebrar um dos vidros da entrada da estação Trianon do metrô. Após destruir o vidro, sacou seu iPhone e registrou o feito.
*MOTORISTA
Um motorista de ônibus disse que foi ameaçado por um grupo. Em frente ao terminal Parque D. Pedro 2º, no momento em que estouraram as primeiras bombas da PM, o veículo foi cercado por manifestantes. "Estava com 15 passageiros e o pessoal de capuz ameaçou atear fogo. Pedi para saírem e aí eles destruíram tudo. Foi muita violência com quem não tem nada a ver", disse o motorista, que se identificou como Almeida.
*PRESENTE
O vidro e o retrovisor do carro (um Renault Scénic) de José Aroldo, 56, foi quebrado em frente ao terminal Parque D. Pedro 2º. "O protesto é justo, mas não precisavam esculachar. Pelo menos, eles não levaram o presente da minha namorada, que estava dentro", disse, aliviado.
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