1 de set. de 2025

Baixa generalizada de oficiais: Marinha perde uma turma da Escola Naval por ano e números revelam realidade preocupante

Números altos evidenciam evasão de oficiais e praças nas Forças Armadas. Marinha perde o equivalente a uma turma da Escola Naval por ano

Estatísticas sobre demissão de oficiais de carreira da Marinha de 2020 a 2025


Por Robson Augusto - A Marinha do Brasil enfrenta um fenômeno de evasão que já se tornou impossível de passar despercebido: a saída em massa de jovens oficiais, a maioria entre os postos de primeiro tenente e capitão. Em 2024, a Escola Naval graduou 124 novos oficiais de carreira, mas, no mesmo ano, 113 oficiais pediram demissão, praticamente o equivalente a uma turma inteira. Em 2025, até julho, 65 oficiais de diversas patentes já haviam deixado a carreira, com projeção de que o número dobre até dezembro.

A maior parte dos que pedem baixa pertence à Geração Z, jovens nascidos após os meados dos anos 90 que, após aprovados em concursos muito disputados e concluírem os cursos de formação mais seletivos e exigentes do país, conquistam o posto de segundo-tenente com salário líquido de cerca de R$ 9 mil. Embora a carreira pudesse levá-los, em 25 anos, ao posto de capitão de mar e guerra — com remuneração aproximada de R$ 18 mil —, muitos avaliam que o futuro fora da Marinha do Brasil oferece melhores condições de trabalho e perspectivas melhores.


A evasão de oficiais, o que dizem os números revelados pela Marinha do Brasil

Em resposta a pedido de informações elaborado pela Revista Sociedade Militar, a Marinha informou os principais motivos de desligamento. O levantamento, com dados que vão de 2020 a 2025, mostra que tanto para oficiais quanto para os graduados que pedem baixa, o desejo de dispor de mais tempo com a família ocupa o primeiro lugar. Em seguida aparecem as oportunidades mais atrativas no setor privado e a dificuldade para estudar.


A lista dos dez principais motivos inclui ainda: falta de identificação com a vida militar-naval; oportunidades mais atrativas no setor público; plano de carreira limitado; insatisfação com relacionamentos interpessoais; princípios rígidos de hierarquia e disciplina; e desejo de fazer carreira em outra força.

Mais do que somente fatores financeiros, a evasão revela uma mudança cultural profunda. A Geração Z, formada por jovens totalmente conectados ao mundo digital, valoriza a qualidade de vida, a flexibilidade e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Diferentemente das gerações anteriores, já não enxerga a tão mencionada estabilidade da carreira pública como prioridade absoluta.

Pesquisas internacionais reforçam esse diagnóstico. Estudo conduzido pelo Exército dos EUA apontou que soldados da Geração Z querem líderes empáticos, justos e tecnicamente competentes, e não apenas superiores que imponham ordens pela hierarquia. Outro levantamento, feito pela Deloitte em 2025, mostrou que nove em cada dez jovens dessa geração só permanecem em empregos que ofereçam propósito claro e bem-estar, eles se concentram no equilíbrio entre vida pessoal e profissional, diz o relatório da pesquisa.


O desejo de dar baixa, oficiais que informaram inscrição para concurso público

Outro número tão grave quanto os pedidos de baixa de oficiais, é o que indica a quantidade de militares buscando oportunidade para sair em busca de melhores condições de trabalho em outras instituições, que inclui até vários oficiais superiores, alguns com habilitações para comandar navios de guerra.

Em 2023 o número de oficiais de carreira que informaram à Marinha do Brasil que realizariam concursos públicos foi 96. Em 2024 o número foi 97 e em 2025 (até julho) o número é 81. Já o número total, incluindo oficiais e praças, da Armada e Corpo de Fuzileiros Navais, que informaram que realizariam concursos públicos é gigantesco e em 2025 já chega a 3.068 militares, isso só até julho.

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