11 de ago. de 2017

Bolsonaro condiciona candidatura pelo PEN à retirada de ação 'que mata a Lava-Jato'


Deputado se mostrou descontente com postura do partido
O deputado Jair Bolsonaro em fevereiro - 
Ailton de Freitas/Agência O Globo



Em evento convocado para anunciar a futura filiação ao Partido Ecológico Nacional (PEN) e promover sua pré-candidatura a presidente da República, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) surpreendeu ao dizer que uma discordância com o partido pode desfazer seus planos de entrar para a legenda. Ao lado do presidente do PEN, Adilson Barroso, Bolsonaro se disse contrariado com o fato de o PEN ter entrado, no Supremo Tribunal Federal (STF), com uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra a decisão do próprio Supremo que determinou o cumprimento de pena já a partir do julgamento em segunda instância, e não apenas após todos os recursos esgotados.

O deputado disse que só há dez dias, já com as negociações avançadas com o PEN, soube que o partido havia entrado com a ação, que ele considera a "morte da Lava-Jato". Ele admitiu que não sabe ainda como solucionar a questão juridicamente — o partido não pode mais retirar a ação —, mas deixou claro que buscará outro partido se não houver algum tipo de recuo da sigla.

— Só soube há dez dias. É um noivado (com o PEN), espero que possa evoluir. Se essa ação prosperar, é o fim da Lava-Jato. É uma questão grave. Acredito que o partido possa ter feito de boa fé. Mas como vou chegar num debate presidencial e alguém falar "teu partido enterrou a Lava-Jato"? Dou meia volta e vou embora — declarou Bolsonaro, dizendo-se ainda incomodado com o advogado escolhido pelo PEN para entrar com ação. — É o Kakay (Antonio Carlos de Almeida Castro), advogado de ninguém menos que José Dirceu.

O presidente do PEN, Adilson Barroso, afirmou que a intenção, ao entrar com a ação, era lutar contra o superencareramento no país.

— Sequer pensamos em Lava-Jato. Inclusive fomos chamados pelo Kakay para entrar com a acão justamente por sermos um dos únicos partidos sem ninguém envolvido na Lava-Jato. Achamos que com essa regra, em poucos anos a estimativa é que mais 30 mil pessoas sejam presas — argumentou Barroso.

Se contornar a controvérsia, Bolsonaro vai se filiar ao PEN e ser o candidato da sigla. O partido pretende ainda mudar de nome para Patriota.

Sobre as chances na disputa para presidente, Bolsonaro deixou transparecer que considera o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), como seu oponente mais difícil, e único nome "do sistema", como ele se referiu.

— O João Doria tem uma prefeitura para administrar, um trabalho hercúleo, peço a Deus que lhe dê coragem para resolver. Ele chegou agora na política, é um direito dele (querer ser candidato). Ou melhor, está sobrando apenas ele como candidato do sistema. Não tem um nome do PT, do PMDB, do PSDB, só o João Doria — analisou. — Ele é de um partido grande, que tem uns 60 deputados, centenas de prefeituras, dirige um orçamento enorme. Eu só tenho o povo ao meu lado, mas não tenho obsessão de ser presidente.

Perguntado se sua candidatura não poderia ser eleitoralmente útil à esquerda, por contribuir para uma divisão dos votos de centro-direita, o deputado discordou da análise.

— Até há poucos meses não se falava em direita no Brasil. Foi só eu aparecer, botaram o PSDB na direita e eu na extrema direita. Só que as mídias sociais, a exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos, não deixarão que essas interpretações equivocadas, mentirosas, floresçam e me tirem de combate.

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