Luciano Tavares/da redação de ac24horas - Amado e admirado por uns, odiado e temido por outros. O homem que tirou o sono do governador Sebastião Viana, delegado da Polícia Federal, Maurício Moscardi, chefe da Operação G-7, que colocou na cadeia 15 secretários de Estado e empreiteiros acusados de desvio de dinheiro público, corrupção ativa e passiva, cartel em licitações e formação de quadrilha, deixa o Acre depois de cinco anos de trabalho, mas com o sentimento de dever cumprido.
Nos seus primeiros três anos no estado, Moscardi comandou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal no Acre. Um trabalho desafiador, principalmente por se tratar de um estado situado na região de fronteira com dois dos principais produtores de coca do mundo: o Peru e a Bolívia. “A fronteira te ensina muita coisa em termos de trabalho”, diz Moscardi.
Mas foi nos últimos dois anos, especialmente em 2013, como chefe da Delegacia de Combate ao Crime Organizado, que o delegado se destacou no órgão ao comandar a prisão de uma suposta quadrilha de membros do primeiro escalão do governo e empresários do ramo da construção civil apelidada de G-7.
A prisão teve enorme repercussão. Foi noticiada na grande imprensa nacional, gerou reviravolta palaciana, declarações exageradas e acusatórias e causou um desgaste no seio do governo que nem mesmo o mais ferrenho dos opositores conseguiu provocar em quase 16 anos de domínio do PT no Acre.
Mas enquanto ocorria à avalanche de críticas através da mídia e de eventos patrocinados pelo governo ao trabalho da Polícia Federal, o delegado Mauricio Moscardi manteve o foco no trabalho e diz que em nenhum momento se sentiu incomodado.
“A gente procura não entrar em debate político porque a Polícia Federal é uma Polícia republicana. A gente foge de ser colocado numa situação política porque a gente não trabalha dessa forma. A gente não deve ficar dando atenção pra isso, senão a gente não trabalha. Se você for dar atenção pra tudo que se fala você não vai conseguir executar mais nenhum trabalho na sua vida. Às vezes você vai ser criticado por uns e elogiado por outros. A Polícia Federal é acima disso. A gente faz um trabalho técnico e quando a gente faz um trabalho técnico a gente não tem esse tipo de preocupação. Nosso trabalho é bem técnico e a gente procurar ficar focado sempre no trabalho para não abrir espaço para pensar em outras coisas”, reflete.
Porém, o delegado não nega que a Operação G-7 foi das mais marcantes de sua carreira, principalmente por causa da repercussão.
“O G7 foi uma das operações mais marcantes. Mas são várias operações. Mas ela foi marcante no sentido de ter muita repercussão, mas no combate ao crime organizado foram várias operações e todas elas foram marcantes de certa forma. Cada uma tem um direcionamento, uma forma de trabalhar. A G7 foi uma operação que tem uma outra vertente que é uma vertente já no desvio de recurso público que não era uma característica fazer no estado. Na verdade essa é uma prioridade da Polícia Federal voltada pra essa área de recurso público. É uma prioridade da Polícia Federal dá atenção pra desvio de recurso público, crimes financeiros. E tudo isso foi acatado pelo doutor Marcelo, que é um superintendente muito correto e que deu esse direcionamento pra Superintendência e a Polícia teve oportunidade de executar bons trabalhos nessa área também”, completa Moscardi.
Maurício acrescenta que as investigações do caso G-7 continuam. O inquérito tramita na 3ª Vara da Justiça Federal, que tem como titular o juiz Jair Facundes. O delegado acredita que pelo trabalho detalhado das perícias o resultado das investigações demore.
“Estão sendo realizadas outras diligências, que foram solicitadas pelo Ministério Público Federal e estão sendo executadas pela Polícia Federal que está fazendo todo levantamento. A investigação continua por enquanto. É difícil apontar um tempo para a investigação porque tem um monte de perícia e as perícias não são tão rápidas. E como são muito detalhadas, muito aprofundadas cada tema, então às vezes demora um pouco. Então talvez demore um pouco para sair os resultados, mas a população terá acesso no final do inquérito”, explica.
O delegado também fez questão de lembrar que nos últimos anos a Polícia Federal no Acre teve melhoras significativas tanto em seu efetivo como na estrutura física. A maior prova é a recém inaugurada sede do órgão na Via Verde, em Rio Branco.
“Tem um prédio novo que faz toda diferença pra gente, toda uma estrutura, que faz a diferença no trabalho. Tem laboratórios super modernos e tudo isso porque a Polícia Federal está investindo muito na nossa fronteira. Nos últimos dez anos o efetivo da região de fronteira multiplicou por dez, praticamente. Tem muito a melhorar, mas tem muito sendo feito já. Então a gente tá sentindo esse investimento acontecendo então eu acho que a Polícia Federal tá crescendo muito no país e tem tido um papel importante na sociedade”, enfatiza.
O delegado, que irá trabalhar na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, no Paraná, afasta as especulações de que sua transferência tenha motivação política. Do Acre, ele diz que guardará boas lembranças dos colegas e da receptividade da população ao seu trabalho. Admiração popular que aumentou especialmente depois que o delegado colocou gente da alta sociedade na cadeia.
“Foram oportunidades profissionais muito boas em quase cinco anos de trabalho. O estado do Acre pra mim foi uma grata surpresa. Eu sempre fui muito bem recebido tanto pelos colegas como pela população. Então pra mim e pra minha família foi muito bom esse período aqui no Acre. Aqui eu só ganhei. Não posso falar nada de mal desse estado. Desejo sucesso aos colegas. Muito sucesso, muito trabalho e certamente o perfil de um trabalho sério vai ter continuidade”, diz Moscardi.
Maurício Moscardi começa a trabalhar ainda em janeiro no estado do Paraná. Já o delegado Marcelo Salvio Resende Vieira, que ocupava o cargo de superintendente da Polícia Federal, deixou o órgão no Acre nesta quinta-feira, e vai comandar a PF do Amazonas.
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