Diagnóstico da profissão aponta concentração regional, tendência à masculinização e situações de desgaste profissional e subsalário
A enfermagem hoje no país é composta por um quadro de 80% de técnicos e auxiliares e 20% de enfermeiros. A conclusão é da pesquisa Perfil da Enfermagem no Brasil, cujos resultados também apontam desgaste profissional em 66% dos entrevistados e grande concentração da Força de Trabalho na Região Sudeste.
O mais amplo levantamento sobre uma categoria profissional já realizado na América Latina é inédito e abrange um universo de mais de 1,8 milhão de profissionais. O estudo foi realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por iniciativa do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e apoio do Conselho Regional de Enfermagem do Acre.
Pesquisa foi divulgada nesta segunda-feira
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área de saúde compõe-se de um contingente de 3,5 milhões de trabalhadores, dos quais cerca 50% atuam na enfermagem (cerca de 1,7 milhão). A pesquisa sobre o Perfil da Enfermagem, realizada em aproximadamente 50% dos municípios brasileiros e em todos os 27 estados da Federação, inclui desde profissionais no começo da carreira (auxiliares e técnicos, que iniciam com 18 anos; e enfermeiros, com 22) até os aposentados (pessoas de até 80 anos).
“Traçamos o perfil da grande maioria dos trabalhadores que atuam do campo da saúde. Trata-se de uma categoria presente em todos os municípios, fortemente inserida no SUS e com atuação nos setores público, privado, filantrópico e de ensino. Isso demonstra a dimensão da pesquisa, que não contempla apenas os que estão na ativa, mas a corporação como um todo”, comenta a coordenadora-geral do estudo e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Maria Helena Machado.
A pesquisa foi encomendada pelo Cofen para determinar a realidade dos profissionais e subsidiar a construção de políticas públicas. “Este diagnóstico detalhado da situação da enfermagem brasileira é um passo necessário para a transformação da realidade”, afirma o presidente do Cofen, Manoel Neri.
Qual é o Perfil da Enfermagem no Acre?
A pesquisa foi realizada em todo o Estado do Acre, ouvindo auxiliares, técnicos e enfermeiros, com abrangência de mais de 6 mil profissionais. A enfermagem hoje no Acre é composta por um quadro de 73,3% de técnicos e auxiliares e 26,7% de enfermeiros.
Onde trabalham
No quesito mercado de trabalho, 81,9% da equipe de enfermagem encontra-se no setor público; 18,8% no privado; 9% no filantrópico e 9,5% nas atividades de ensino.
No Acre, 69,2% da equipe de enfermagem declara desgaste.
Renda mensal
Considerando a renda mensal de todos os empregos e atividades que a equipe de enfermagem exerce, constata-se que 0,9% de profissionais na equipe recebem menos de um salário-mínimo por mês. A pesquisa encontra um elevado percentual de pessoas (18,6%) que declararam ter renda total mensal de até R$ 1.000, ou seja, estão em condições de subsalário.
Dos profissionais da enfermagem, a maioria (65,1%) tem apenas uma atividade/trabalho.
Os quatro grandes setores de empregabilidade da enfermagem (público, privado, filantrópico e ensino) apresentam subsalários. O privado (25,2%), o filantrópico (52,8%), o público (18,3%) e o de ensino (11,3%) praticam salários com valores de até R$ 1.000.
Masculinização
A equipe de enfermagem no Acre é predominantemente feminina, sendo composta por 80,4% de mulheres. É importante ressaltar, no entanto, que mesmo tratando-se de uma categoria feminina, registra-se a presença de 18,3% de homens, acima, portanto, da média nacional. “Pode-se afirmar que na enfermagem está se firmando uma tendência à masculinização da categoria, com o crescente aumento do contingente masculino na composição. Essa situação é recente, data do início da década de 1990, e vem se firmando”, afirma a coordenadora.
Profissionais qualificados acima do exigido
O desejo de se qualificar é um anseio do profissional de enfermagem no Acre. Os trabalhadores de nível médio (técnicos e auxiliares) apresentam escolaridade acima da exigida para o desempenho de suas atribuições, o que significa dizer que 43,3% de todo o contingente, fizeram ou estão fazendo curso de graduação. Esse percentual está acima da média nacional (34,3%) e se apresenta como um dos maiores encontrados no país.
Desemprego aberto
A área já apresenta situação de desemprego aberto, com 9,1% dos profissionais entrevistados relatando situações de desemprego nos últimos 12 meses. Dificuldade de encontrar emprego foi relatada por 85% desses profissionais.
Concentração na capital
Mais de 3/4 da equipe de enfermagem (75,4%) se concentra na Capital.
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