Desde a primeira reunião da Rede Viroses Emergentes (RedeVírus MCTIC), em fevereiro, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) tem mobilizado unidades de pesquisa, Institutos de Ciência e Tecnologia e laboratórios em resposta à emergência do novo coronavírus (Covid-19). A Rede é um comitê que reúne especialistas, representantes de governo, agências de fomento do ministério, centros de pesquisa e universidades com o objetivo de integrar iniciativas em combate a viroses emergentes.
O ministério está destinando R$ 20 milhões a iniciativas para desenvolver kits de diagnóstico, vacinas, tecnologias para seleção de medicamentos e para estruturação de um banco de amostras do vírus. Da mesma forma, a infraestrutura consolidada por investimentos da pasta permitiu aos centros de pesquisa desenvolver capacidade e montar um corpo especializado para conduzir estudos de ponta.
Sequenciamento
Ganhou destaque o trabalho das pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP) Ester Sabino e Jaqueline Goes de Jesus, que, em 48 horas após o primeiro caso no Brasil, fizeram o sequenciamento do genoma do vírus. A estrutura que tornou o trabalho possível veio com o investimento destinado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTIC), no combate à crise do vírus Zika. É o que afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), Fernando Rosado Spilki.
“Logo no primeiro isolamento foi notável, uma vitória da ciência brasileira que em pouquíssimo tempo já foi possível para grupo sediado em SP realizar o sequenciamento genômico completo do vírus. Essa conquista teve ampla repercussão na mídia e demonstra o quanto o fomento qualifica a pesquisa do país. Foi o investimento prévio voltado ao enfrentamento do Zika vírus que permitiu essa conquista, por exemplo”. Ele complementa que a iniciativa permite acompanhar mutações do vírus e localizar cadeias de transmissão para aprimorar estratégias de combate à pandemia.
Vacinas
Na área de imunologia, o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Investigação em Imunologia (INCT-iii), Jorge Elias Kalil Filho, conta o trabalho realizado pela instituição, criada em 2001, para produzir uma vacina contra a Covid-19.
“O que o INCT-iii e o Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração estão fazendo é a construção de partículas ocas com os pedaços do coronavírus para testar em animais e ver se eles produzem anticorpos neutralizantes. Ao termos resultados positivos, seguiremos com os experimentos até conseguirmos chegar com testes pré-clínicos definitivos para iniciar os testes humanos”, descreve. Ele também fala sobre a rede criada pelo ministério.
“A nossa relação como ministério é muito grande, não só porque ele vai prover recursos, mas, ao criar uma rede, nós temos acesso aos pesquisadores mais competentes no Brasil para interação para que possamos avançar o mais rapidamente”, pontua.
Fármacos
No Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), componente do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização social do MCTIC, estão concentradas pesquisas para possíveis tratamentos ao novo coronavírus. Por meio de ferramentas de biologia computacional e inteligência artificial, os pesquisadores já avaliaram cerca de 2 mil fármacos. Desses, 5 foram considerados promissores e seguem em testes com células infectadas com o vírus.
Rafael Elias Marques, especialista em virologia do CNPEM, detalha: “No LNBio nós juntamos esforços com o CNPEM e profissionais da Universidade de Campinas (Unicamp) para montar uma estratégia de identificar outros remédios que já existem na farmácia que possuam propriedades protetoras contra a infecção pelo coronavírus. Isso a gente chama de reposicionamento de fármacos, pegar um remédio desenvolvido para uma aplicação e tentar achar outras aplicações para ele, justamente para tornar o acesso ao medicamento algo muito mais rápido do que o desenvolvimento tradicional começando do zero”.
Diagnóstico
Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ana Paula Fernandes, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Farmácia, fala da importância do trabalho para o desenvolvimento de testes para o diagnóstico da Covid 19 em parceria com o INCT Vacinas, em atuação desde 2017.
“Nós traçamos estratégias emergenciais para ampliação da capacidade de diagnóstico, geração de testes rápidos para tipagem em larga escala. Embora já se tenha diagnóstico desenvolvido em outros países é importantíssimo que o Brasil detenha a capacidade de desenvolver esses testes e seja autossuficiente nos insumos necessários, até porque temos capacidade técnica, pesquisadores, instituições que podem fazer essa produção no Brasil”, afirma.
RedeVírus MCTIC
A Rede Vírus MCTIC, criada pela portaria MCTIC nº 1010/2020, funcionará como um comitê de assessoramento estratégico que irá atuar na articulação dos Laboratórios de Pesquisa, com foco na eficiência econômica e na otimização e complementaridade da infraestrutura e de atividades de pesquisa que estão em andamento, em especial com o coronavírus e influenza.
O Comitê da Rede Vírus contará pesquisadores especialistas em viroses, além de representantes do Ministério da Saúde e das agências de fomento do MCTIC. Os nomes ainda estão sendo confirmados, mas a Rede terá representantes da Fiocruz, Butantan, USP, Unicamp, UFMG, UFC, CNPEM/LNBio, UFRJ, entre outros.
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