A economia mundial já deparava-se com o pior colapso desde a Segunda Guerra Mundial logo que o coronavírus começou a ter impacto global em março, bem antes do auge da crise
Chris Giles
Financial Times, de Londres
A economia mundial já deparava-se com o pior colapso desde a Segunda Guerra Mundial logo que o coronavírus começou a ter impacto global em março, bem antes do auge da crise, segundo o índice Brookings-FT mais recente.
Também o Fundo Monetário Internacional (FMI) - que realiza nesta semana, de forma virtual, seu encontro do primeiro semestre - divulgará previsões mostrando a maior contração da economia global desde a Grande Depressão dos anos 30.
Diante do forte declínio dos índices de confiança, da turbulência dos mercados financeiros e da queda livre dos dados da economia real, as demissões e quebras de empresas deixarão marcas profundas na economia mundial e dificultarão sua recuperação por muito tempo, sinalizam os dados.
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disse que 170 de seus 189 países membros terão queda na produção per capita em 2020. “O cenário sombrio vale tanto para economias avançadas quanto em desenvolvimento. Esta crise não conhece fronteiras.”
Há apenas três meses, o fundo previa crescimento em 160 países.
Sem nenhum país imune à crise da covid-19, a recuperação após o fim das medidas de confinamento provavelmente será mais lenta do que se previa, segundo Eswar Prasad, da Brookings Institution, que critica a falta de uma reação coordenada por parte dos governos.
“A incapacidade dos governos nacionais de se unirem em uma época tão crítica, para criar uma frente comum contra esta pandemia evidencia uma perigosa ruptura da cooperação internacional. Isso está prejudicando ainda mais a confiança do consumidor e das empresas, que já estão em queda livre”, diz Prasad. “A economia dos EUA chegou a uma virtual paralisação [...] França, Alemanha e Reino Unido deparam-se com recessões históricas à medida que todos os indicadores de atividade e comércio exterior desabam.”
O índice Brooking-FT de monitoramento da recuperação econômica global (Tiger, na sigla em inglês) compara indicadores de atividade real, mercados financeiros e a confiança dos investidores com suas médias históricas, tanto para países individuais quanto para a economia global como um todo.
O Tiger mostra alguns dos maiores declínios na história em dados dos mercados financeiros, da economia real e da confiança em março, antes do pior impacto nas economias da maioria dos países.
Os indicadores estão se estabilizando só na China, primeiro país a paralisar a economia após surgimento do coronavírus em Wuhan.
“Em alguns aspectos, a economia de planejamento central da China foi construída para suportar melhor choques maciços do que as economias de mercado. Mas não dá para dizer que a China já esteja fora de perigo, especialmente com o desemprego em alta, a probabilidade de que a demanda externa e interna continuem fracas e tendo em vista os riscos de uma segunda onda de infecções.
Muitas outras economias emergentes têm de lidar não apenas com uma crise econômica e de saúde pública, mas também com uma fuga de capitais pior que a da crise financeira mundial de 2008-09 e com uma forte queda na demanda por suas exportações.
A fraca leitura do índice Tiger corrobora outras projeções e indicadores econômicos, que, cada vez, mais sinalizam para o pior momento da economia do mundo em quase um século.
O Peterson Institute of International Economics prevê que o desemprego nos EUA chegará a quase 20% no segundo trimestre e uma queda de 12% do produto interno bruto (PIB) da zona do euro.
No Reino Unido, o National Institute of Economic and Social Research estima que o país chegará no fim segundo trimestre com uma economia 25% menor que a do início do ano.
Economistas estão divididos quanto à velocidade da recuperação após a suspensão das medidas de confinamento, embora todos concordem que isso dependerá da continuidade dos riscos da pandemia e da situação dos sistemas de saúde pública de muitos países.
Karen Dynan, do Peterson Institute, se coloca no lado otimista, que acredita numa recuperação razoavelmente forte. Mas ela alerta para o risco de “contratempos” à medida que o confinamento for gradualmente relaxado.
“Vejo um pico no desemprego em torno a 20%, que cairá rapidamente no terceiro e quarto trimestres, passando a um único dígito no início do próximo ano”, disse.
Prasad é menos otimista. “A demanda foi destruída, há grandes rupturas nas cadeias de produção e, simultaneamente, há uma crise financeira se desdobrando.”
“Diferentemente da crise de 2008-09, que foi desencadeada pela falta de liquidez nos mercados financeiros, esta crise envolve problemas de solvência em muitas empresas e setores, que vão além das finanças”, diz Prasad.
Com os bancos centrais mais ativos e os governos preparando os maiores pacotes de auxílio da história tanto para empresas quanto para consumidores, o FMI dirá nesta semana que provavelmente haverá uma “recuperação parcial” em 2021. Mas Georgieva alerta que o cenário ainda pode piorar se a pandemia continuar a se disseminar.
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