Andrew Korybko - Uma derrota russa seria catastrófica para a segurança da China, enquanto uma vitória russa poderia encerrar a bonança de energia com desconto que está ajudando o país a manter seu crescimento econômico em meio à desaceleração — sem falar em acelerar o “Pivô (de volta) para o (Leste) Asiático” dos EUA, com uma contenção mais muscular da China.
O South China Morning Post (SCMP) citou fontes anônimas para relatar que o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, teria dito a seu homólogo da União Europeia que a China não quer que a Rússia perca na Ucrânia, porque todo o foco dos EUA poderia então se voltar para a China. Suas supostas declarações foram interpretadas pela grande mídia como uma admissão de que a China não é tão neutra quanto afirma ser — exatamente como tanto a mídia tradicional quanto a alternativa suspeitavam. Ambas agora acreditam que a China ajudará a Rússia a vencer — ou seja, alcançar seus objetivos máximos —, mas isso provavelmente não é o caso.
Supondo, para efeito de argumentação, que Wang de fato tenha dito o que lhe foi atribuído, isso estaria alinhado com a avaliação feita por ocasião do primeiro aniversário do conflito, em fevereiro de 2023, de que “a China não quer que ninguém vença na Ucrânia”. O SCMP canalizou a essência dessa análise ao escrever que “uma interpretação da declaração de Wang em Bruxelas é que, embora a China não tenha pedido a guerra, sua prolongação pode atender aos interesses estratégicos de Pequim, desde que os EUA continuem engajados na Ucrânia”.
Para explicar: não apenas os EUA não seriam capazes de “pivotar (de volta) para o (Leste) Asiático” para conter a China com mais força — na escala que Trump previa — se o conflito ucraniano se prolongar, como também a pressão contínua sobre a economia russa devido às sanções ocidentais beneficiaria a economia chinesa. A China já importa uma quantidade impressionante de petróleo russo com desconto, o que ajuda a manter seu crescimento econômico em meio à desaceleração que enfrenta — mas isso pode acabar se as sanções forem reduzidas.
Além disso, quanto maior for o papel da China como válvula de escape da Rússia diante da pressão das sanções ocidentais (tanto em termos de importações de energia para ajudar a financiar o orçamento russo quanto de exportações que substituem produtos ocidentais perdidos), mais dependente a Rússia se tornará da China. A natureza cada vez mais assimétrica das relações econômicas entre os dois países poderá então ser explorada para fechar os acordos de energia de longo prazo mais vantajosos possíveis — como no caso do gasoduto Poder da Sibéria II e outros projetos semelhantes.
Esses desdobramentos poderiam restaurar a trajetória de superpotência da China, que foi descarrilada nos primeiros seis meses da “operação especial”, conforme explicado à época — fortalecendo assim sua resiliência geral à pressão dos EUA e tornando menos provável que Washington consiga forçar uma série de acordos desequilibrados ao país. É por esse motivo que Steve Witkoff, enviado especial de Trump para a Rússia, estaria pressionando os EUA a suspenderem suas sanções energéticas contra a Rússia — a fim de privar a China desses benefícios financeiros e estratégicos.
A nascente “Nova Distensão” entre Rússia e EUA poderia restaurar a base de clientes energéticos do Kremlin como primeiro passo, por meio de uma flexibilização gradual das sanções, ampliando assim sua gama de parceiros e, com isso, evitando preventivamente a mencionada dependência russa da China — especialmente no caso de cooperação energética conjunta no Ártico. O objetivo, como explicado no início de janeiro, seria privar a China do acesso a recursos ultrabaratos por décadas, que alimentariam sua ascensão como superpotência às custas dos EUA.
Em suma, uma vitória russa (seja completa ou parcial, por meio de compromissos) poderia encerrar a bonança de energia com desconto que está ajudando a China a manter seu crescimento econômico em meio à desaceleração — razão pela qual Pequim não enviará ajuda militar ou tropas para facilitar isso (além de também temer sanções ocidentais severas). Da mesma forma, o cenário de uma derrota estratégica imposta pelo Ocidente à Rússia seria catastrófico para a segurança da China — o que justifica, por outro lado, as importações mencionadas, a fim de ajudar Moscou a manter sua economia de guerra.



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