Logo depois do almoço, Mário atravessa a Rua Caldas Júnior para ir à redação do Correio do Povo buscar a correspondência e tomar o habitual cafezinho. Distraído, não vê o Chevette que dá marcha a ré para sair do estacionamento, nem é notado pelo motorista.
Socorrido por dois homens, imediatamente é colocado no carro, que segue rápido para o Hospital de Pronto Socorro. Depois de acender um cigarro, segurando a perna que doía e sem perceber que o automóvel que o levava era o mesmo que o atropelara, Mário pergunta ao preocupado motorista:
- Anotaram o número da placa?
E o tranquiliza:
- É para jogar na loto.
********************
No atropelamento, Quintana quebrara o fêmur esquerdo e deveria submeter-se a uma cirurgia para colocação de prótese. Os médicos preocupavam-se com a idade dele, 79 anos, e anteciparam que a recuperação poderia ser lenta. Ele permaneceria alguns dias no hospital. Paciência, ora bolas!
- Lá vou ter bastante tempo para trabalhar. Só que agora meus poemas vão sair de pé-quebrado...
E ao saber que a prótese seria de platina:
- Ah! Agora sim, vou ser um poeta de valor...
********************
Início de mais uma madrugada. Mário chega à pensão em que morava, Barros Cassal, perto da Avenida Independência, e é mal recebido pelos cachorros. Reage aos latidos com todos os palavrões disponíveis. Na calçada, os pintores Waldeny Elias e Gastão Hofstaetter, que passaram a noite bebendo com ele e vieram deixá-lo em casa, assistem à cena.
E meio à gritaria, abre-se a janela e surge a dona da pensão:
- Mas o que é isso, seu Mário! O senhor, um homem tão culto, dizendo essas barbaridades!
Ele se defende:
- É que a senhora não sabe os nomes que os seus cachorros estão me dizendo...
********************
Depois do almoço, Mário Quintana e o jornalista J. Prado Magalhães. da Folha da Tarde, fazem a digestão caminhando pela Rua da Praia. Ao chegarem à Rua da Ladeira, Mário tem sua atenção despertada por uma nova placa de trânsito colocada ali: “Esquina perigosa”. Num tom irônico, quase distante, observa:
- Vejam só. Como se a esquina pudesse ser perigosa. Perigosos são os motoristas, ora bolas...
*******************
Autografa um de seus livros com a tranquilidade costumeira, dizendo uma coisa ou outra para as crianças da fila, quando é apresentado a um ministro de Estado de passagem por Porto Alegre e que estava ali para cumprimentá-lo. Curvando o corpo o político confessa, tentando ser gentil:
- Gosto muito dos seus versinhos.
E Quintana, abrindo aquela sua expressão típica de incredulidade, revida no mesmo instante:
- Muito obrigado pela sua opiniãozinha.
********************
O desconhecido espalhou sobre a mesa do poeta cerca de cem folhas de papel almaço repletas de sonetos manuscritos:
- Seu Mário, vim trocar algumas ideias com senhor.
- Não aceito – disse Quintana -, vou sair perdendo!
(Do livro “Ora bolas”, o humor cotidiano de Mário Quintana – de Juarez Fonseca)
Enviado pelo meu amigo Nilo
Socorrido por dois homens, imediatamente é colocado no carro, que segue rápido para o Hospital de Pronto Socorro. Depois de acender um cigarro, segurando a perna que doía e sem perceber que o automóvel que o levava era o mesmo que o atropelara, Mário pergunta ao preocupado motorista:
- Anotaram o número da placa?
E o tranquiliza:
- É para jogar na loto.
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No atropelamento, Quintana quebrara o fêmur esquerdo e deveria submeter-se a uma cirurgia para colocação de prótese. Os médicos preocupavam-se com a idade dele, 79 anos, e anteciparam que a recuperação poderia ser lenta. Ele permaneceria alguns dias no hospital. Paciência, ora bolas!
- Lá vou ter bastante tempo para trabalhar. Só que agora meus poemas vão sair de pé-quebrado...
E ao saber que a prótese seria de platina:
- Ah! Agora sim, vou ser um poeta de valor...
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Início de mais uma madrugada. Mário chega à pensão em que morava, Barros Cassal, perto da Avenida Independência, e é mal recebido pelos cachorros. Reage aos latidos com todos os palavrões disponíveis. Na calçada, os pintores Waldeny Elias e Gastão Hofstaetter, que passaram a noite bebendo com ele e vieram deixá-lo em casa, assistem à cena.
E meio à gritaria, abre-se a janela e surge a dona da pensão:
- Mas o que é isso, seu Mário! O senhor, um homem tão culto, dizendo essas barbaridades!
Ele se defende:
- É que a senhora não sabe os nomes que os seus cachorros estão me dizendo...
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Depois do almoço, Mário Quintana e o jornalista J. Prado Magalhães. da Folha da Tarde, fazem a digestão caminhando pela Rua da Praia. Ao chegarem à Rua da Ladeira, Mário tem sua atenção despertada por uma nova placa de trânsito colocada ali: “Esquina perigosa”. Num tom irônico, quase distante, observa:
- Vejam só. Como se a esquina pudesse ser perigosa. Perigosos são os motoristas, ora bolas...
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Autografa um de seus livros com a tranquilidade costumeira, dizendo uma coisa ou outra para as crianças da fila, quando é apresentado a um ministro de Estado de passagem por Porto Alegre e que estava ali para cumprimentá-lo. Curvando o corpo o político confessa, tentando ser gentil:
- Gosto muito dos seus versinhos.
E Quintana, abrindo aquela sua expressão típica de incredulidade, revida no mesmo instante:
- Muito obrigado pela sua opiniãozinha.
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O desconhecido espalhou sobre a mesa do poeta cerca de cem folhas de papel almaço repletas de sonetos manuscritos:
- Seu Mário, vim trocar algumas ideias com senhor.
- Não aceito – disse Quintana -, vou sair perdendo!
(Do livro “Ora bolas”, o humor cotidiano de Mário Quintana – de Juarez Fonseca)
Enviado pelo meu amigo Nilo
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