Agência Aleac - “Linda aos 99 Anos” foi o slogan escolhido pelo deputado e líder do Governo, Moisés Diniz (PCdoB), para a sessão solene que comemorou os 99 anos de aniversário de Tarauacá nesta quinta-feira, 26, e homenageou 75 de seus filhos ilustres. A galeria do povo e o plenário foram tomados por tarauacaenses residentes ou espalhados pelo território acreano que se destacam ou se destacaram na política, na economia, no meio acadêmico, intelectual, artístico, sindical e religioso.
Autor do requerimento que solicitou a realização da homenagem, Moisés informou que a sessão pelos 99 anos da fundação de Tarauacá na Capital do Acre, foi para dar uma noção do que deverá ser a sessão especial pelo 1º Centenário que será realizada na própria cidade em 2013. “Para os 99 anos, nós criamos uma comissão que fez uma prospecção das personalidades tarauacaenses para serem homenageadas e, certamente, esquecemos algumas que vão ser lembrados em 2013”, observou Moisés.
Um dos homenageados, o prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim, nascido em Tarauacá e criado na capital, terminou seu pronunciamento aos prantos por lembrar que seus pais, quase da idade do município, não puderam vir à solenidade por problemas de saúde. Da mesma idade que Tarauacá, o soldado da borracha Manoel Silveira Cunha, ex-vereador daquele município, totalmente lúcido, lembrou quando desembarcou de um vapor para cortar seringa em 1943, no meio da Segunda Guerra e aos 30 anos da fundação da cidade.
As lembranças também emocionaram os deputados tarauacaenses Helder Paiva (PR) e Walter Prado (PDT). Helder, 1º vice-presidente da Mesa Diretora da Aleac, foi homenageado pelo presidente Elson Santiago (PP) que abandonou o discurso escrito e improvisou ao transferir-lhe o comando da solenidade. “Como cruzeirense, transfiro a presidência para este filho ilustre de Tarauacá, que é o nosso 1º vice-presidente Helder Paiva”, declarou.
Helder lembrou da mudança da família - os pais e nove irmãos - em busca de melhores condições de estudos. Walter Prado, depois de chorar a morte dos pais mortos pouco antes da realização da cerimônia, revelou publicamente, pela primeira vez, que nasceu em um seringal a um dia de barco de Feijó e, portanto, é feijoense, mas registrado em cartório de Tarauacá. “Num dia como estes não podemos esconder nada”, justificou.
Além de Raimundo Angelim, receberam homenagens o prefeito do Bujari, Edvaldo Teles (Padeiro); políticos com mandato como Juracy Nogueira, presidente da Câmara de Rio Branco, e Carlos Coelho, suplente de Senador; ex- deputados, como Nilson Mourão, atual secretário estadual de Justiça e Direitso Humanos, e Manoel Machado, que foi presidente da Aleac; empresários, como Hugo Rocha, da sorveteria Ki Legal e Roberto Moura (TV Gazeta); profissionais liberais como o advogado Sanderson Moura; magistrado como a juíza Shirley Hage e militares como o coronel Gualter Craveiro.
Hélder Paiva veio de Tarauacá com família de nove irmãos
O 1º vice-presidente da Aleac, deputado Helder Paiva (PR), nasceu em Tarauacá em 1957 e pouco depois mudou-se para Rio Branco com toda a família para estudar. “Éramos 10 filhos, hoje graças a Deus todos se destacaram nesta cidade, uma prova de que quem busca alcança. Eu lamento não ter passado a minha infância em Tarauacá, mas acompanho de perto e ajudo sempre que posso”, disse em seu pronunciamento abrindo as homenagens pelos 99 anos da fundação do município.
Moisés Diniz: “tenho o umbigo em Cruzeiro e o coração em Tarauacá”
O líder do Governo, deputado Moisés Diniz, autor da iniciativa de realizar a sessão pelos 90 anos de Tarauacá, comentou em pronunciamento na solenidade que todos pensam que ele é filho daquela cidade, embora nascido em Cruzeiro do Sul . Mas ele comentou que tendo se casado e construído sua família em Tarauacá, pode dizer que tem o umbigo em Cruzeiro e o coração em Tarauacá.
Moisés comentou sobre a época em que era vítima de preconceito na cidade, por ser comunista - “algumas pessoas se benziam quando passavam por mim” - e dos tempos em que era inspetor de Ensino e não conseguia ser recebido nem pelo secretário estadual de Educação. “Quando precisávamos de uma resma de papel tínhamos que vir para a Capital e então quem nos ajudava era o presidente da Aleac, o deputado Manoel Machado, que fretava três ou quatro aviões para mandar material escolar para Tarauacá”, revelou Moisés.
O deputado concluiu seu pronunciamento lendo um poema intitulado “Linda aos 99 Anos” onde diz que falar sobre Tarauacá é como amar uma mulher, atravessar um rio, descobrir segredos da mata virgem, vencer o medo. “Tarauacá é uma cidade de povo resistente, acolhedor, festivo, combativo... da mulher bonita e do abacaxi grande, terra de dois rios, afável, bela”.
Concluindo, Moisés deseja em seu poema que os 99 anos de Tarauacá sirvam para aproximar corações e construir fraternidade e que nenhuma criança durma nas ruas, que nenhum mendigo deixe de ter seu pão e abrigo, que nenhuma mulher seja agredida no seu corpo e na sua honra, que nenhum idoso fique sem um abraço e que nenhuma dor fique sem um alívio.
Padre Asfury revela que nasceu de trigêmeos
Em seu discurso na solenidade pelos 99 anos de Tarauacá, o padre Asfury revelou que nasceu em uma parto de trigêmeos e que sua mãe teve sete filhos em apenas três partos. “Um de trigêmeos e dois de gêmeos”, explicou. Ao todo, ele revelou ter 16 irmãos. Seus avós nasceram no Líbano, na época sob domínio do Império Turco e imigraram para o Brasil no final do século 19. Seu pai já nasceu brasileiro, em Belém, e mudou para Tarauacá no início do século 20. “Minha família deve grande parte de sua sobrevivência à Lagoa do Corcovado, a despensa de Tarauacá”, lembrou ele.
“Eu fiquei pensando no que ia falar aqui, pois o que eu sei fazer é rezar missa”, confessou o padre. Ele revelou, também, que nunca foi um aluno brilhante e que o seu maior incentivador para o sacerdócio foi seu colega de seminário, quase um irmão, o ex-deputado Nilson Mourão. Mas, ao contrário do que disse, Asfury revelou que dentro da Igreja Católica foi brilhante sendo um dos primeiros construtores da Comunidades Eclesiais de Base da Diocese de Rio Branco, que acabou transformando toda a configuração política do Acre ao organizar os trabalhadores e os seus sindicatos e os excluídos em geral.
Prefeita Marilete: “Estamos tentando melhorar a vida do povo”
A prefeita de Tarauacá, Marilete Vitorino, que assumiu o cargo em março de 2011 depois da cassação do prefeito titular Vando Torquato, fez pronunciamento na sessão solene pelos 99 anos de fundação do município, afirmando que sua administração está tentando melhorar a vida do povo. “Ao assumir aquela cidade, primeiro reestruturamos a municipalidade, colocando-a em dia, pagando todas as suas contas e cortando todos e quaisquer demandos, primando pelo zelo com a coisa pública”, afirmou.
De acordo com a prefeita, foram corrigidos problemas que atravessaram e permaneceram durante toda uma existência. “E para tanto é preciso, com muito zelo e determinação, rumar em direção ao centenário com um olhar para o futuro, de um novo tempo de progresso e esperança para nosso povo”, declarou.
Marilete conta que a cidade, como a maioria das zonas urbanas do Acre, sofre as consequências do êxodo de milhares de famílias que viviam nos seringais para as periferias, construindo suas casas em áreas alagadiças. “Isso gera uma demanda por serviços como saneamento, luz e emprego”, argumentou.
Ela finalizou afirmando que, como filha da terra, dedica-se diuturnamente a trazer dias melhores. “Quem ama cuida e estamos cuidando. Depois de reestruturar a gestão estamos prontos para alavancar o desenvolvimento”, afirmou, conclamando seus conterrâneos a esquecer os partidos políticos e contribuir para uma Tarauacá sempre melhor.
Manoel Moraes lembra dos tempos em que viveu em Tarauacá
O deputado Manoel Moraes (PSB) nunca tinha visitado uma cidade do interior quando foi designado para assumir um posto na extinta Sudhevea em Tarauacá em 1982. “Cheguei lá preocupado, mas logo me deparei com um povo educado, cavalheiro, amigo e mulheres lindas, onde encontrei minha companheira com quem estou há 25 anos”, revelou em seu pronunciamento sobre o aniversário de 99 anos de Tarauacá.
Eleito deputado pela região de Xapuri, Moraes viveu em Tarauacá entre 1982 e 1991. “Neste tempo eu tive oportunidade de conhecer todos os seus rios e igarapés para fazer o meu trabalho na Sudhevea. Também não posso deixar de falar de meus amigos de futebol e políticos como o Cleudo, o Torres, o seu pai que tinha uma banquinha no teatro. Enfim era um ótimo lugar para se viver. O único problema é que não tinha estrada e hoje nós temos a felicidade de sair de Rio Branco às cinco horas da tarde e chegar em Tarauacá às onze da noite”, comentou Moraes, lembrando que mesmo assim ainda há gente que reclame da estrada.
João Maurício/Foto: J. Simão