20 de abr. de 2023

Quanto custa um general do Exército brasileiro? Comparamos com os EUA e o resultado foi surpreendente



JB Reis - Uma reportagem de sábado, 15, da Folha de São Paulo trouxe números sobre os rendimentos do atual Comandante do Exército brasileiro, General Tomás Paiva. A matéria mostra ganhos relativos à passagem para reserva do militar e ajudas de custo relativas à mudança de localidade. Os dados financeiros são, conforme mencionado no próprio texto, ganhos legais e que fazem parte da rotina orçamentária não só do Exército, mas também da Marinha e da Aeronáutica.

Citar números, principalmente relativos às finanças de uma determinada classe profissional, e não promover comparações é desperdiçar a informação coletada. Saber quanto ganha um general de Exército no Brasil e não ter um parâmetro mínimo de comparação apequena a pesquisa.

Tendo isso em mente, a equipe da Revista Sociedade Militar visitou os sites do Exército norte-americano, não por questões político-ideológicas, mas simplesmente por que os EUA estão no primeiro lugar no índice do site Global Fire Power com um orçamento de U$ 761.681.000.000 – número maior do que o triplo do segundo colocado, que é a China.

Aqui no Brasil, segundo o Relatório Setorial da Defesa para o Orçamento de 2023 , publicado na Agência Câmara de Notícias, a área de Defesa tem R$ 124,4 bilhões no Orçamento de 2023, que, além de ser 40 vezes menor do que o dos EUA, destina 78,2% (quase R$ 100 bi) somente a despesas com pessoal.

Fomos ao “número um” e procuramos saber quanto ganha o Comandante do Exército mais poderoso do mundo. O General James McConville, Chefe do Estado-Maior do Exército dos Estados Unidos, cargo equivalente ao de Comandante do Exército por lá, tem 64 anos e é militar desde 1981. Lutou na guerra do Afeganistão e na guerra do Iraque, tendo assumido o atual cargo em 2019.

Descobrimos que o General McConville ganha por mês um salário de U$ 16,975 (cerca de R$ 83.345,55), podendo ter auxílios específicos variáveis durante o ano entre U$ 3.363,48 a U$ 207.062,28. Tais auxílios podem ser de moradia, de alimentação, de uniformes, transferências, entre outros. Os números são de uma espécie de “portal da transparência” das Forças Armadas americanas.

Tomás Paiva recebe R$ 24.495,36 líquidos, que, acrescidos dos R$ 16.883,34 referentes à função comissionada CCX 011.8 de Comando da Força terrestre, catapultam o salário do “quatro estrelas” para R$ 41.378,00. Portanto, o comandante do Exército americano ganha pouco mais do que o dobro do seu homólogo brasileiro.

EUA e Brasil têm custos de vida diferentes. Seus orçamentos de defesa estão na razão de 1/40. O salário mínimo do americano é o quádruplo do brasileiro. Segundo o Numbeo, maior banco de dados sobre custo de vida na internet, os EUA têm um custo de vida classificado como 72.4, enquanto o Brasil está em 34.7; já o índice de renda no Brasil é quatro vezes menor do que nos EUA (34.7/8.3), sendo que o valor de referência é a cidade de Nova Iorque (EUA) com 100 pontos.


O “ESCABINATO SALARIAL”

A grande imprensa em geral é bastante mesmerizada pelo poder, e por isso encanta-se facilmente com generais, almirantes e brigadeiros. Não lhe interessam a tropa e suas agruras. Pois, dessa comparação simples de números e salários entre os dois países, descobrimos uma particularidade tão importante quanto a questão salarial. Algo que impacta diretamente no moral da tropa, que é a valorização da experiência acumulada.

Aqui no Brasil, tecnicamente é chamado de “escabinato militar” a forma de composição do Superior Tribunal Militar, que é feita por juízes civis e por “juízes” militares, sendo que estes últimos – carentes de mínima formação jurídica – realizam os julgamentos a partir da experiência que trazem dos quartéis.

Uma coisa que nos chamou atenção em nossa pesquisa foi algo que batizamos de “escabinato salarial” e que pode ser vista no escalonamento hierárquico/salarial das Forças Armadas norte-americanas.

Lá, como aqui, a hierarquia é milimetricamente escalonada entre oficiais (os que comandam) e praças (os que auxiliam os primeiros). Existe nos dois países o mesmo escalonamento vertical, do soldado ao general. Essa escadinha contempla tanto as responsabilidades do cargo quanto o pagamento por elas. Mas, no Exército americano há uma sutileza, que faz toda diferença.


SOLDADO VALORIZADO, EXÉRCITO FORTE. NOS EUA.

Aqui no Brasil, o salário do soldado é menor do que o do cabo, que é menor do que o do sargento, que é menor do que o do tenente, etc., até chegar ao general. Isto seria razoável, se o soldado tivesse acesso via carreira ao oficialato, e depois ao generalato. Mas aqui no Brasil não é assim. Aqui, o soldado só ascende via concurso público de ampla concorrência. A experiência não é valorizada no militarismo brasileiro. Diferentemente dos EUA, não há esse “escabinato” salarial.

Na prática isso pode ser entendido de forma simples imaginando que os círculos de convivência (as categorias de praças e oficiais), como nas Forças Armadas brasileiras, continuam estanques na esfera da hierarquia funcional, mas se interpenetram na hierarquia salarial. A imagem abaixo dá uma ideia mais exata da diferença de valorização entre os militares de lá e os de cá.

Escalonamento salarial no Exército dos EUA – Círculo de praças

Observamos que, apesar de o Suboficial Classe 1 (Warrant -1) ser hierarquicamente superior ao Sargento-Major-de-Exército, financeiramente ele é inferior.

O mesmo se repete com os oficiais na tabela abaixo:

Escalonamento salarial no Exército dos EUA – Círculo de oficiais

O Suboficial (Warrant – 5) recebe mais do que o Coronel. Obviamente que estes números se referem ao pagamento básico, ao “piso” de cada “degrau” da hierarquia. Como dissemos acima, há também os adicionais variáveis ao longo do ano e ao longo da carreira.

Depois da reestruturação da carreira militar no Brasil, feita pelo governo anterior, esse tipo de “escabinato salarial”, isto é, a valorização financeira da experiência militar, foi extinta. Por aqui, o mero adicional de “tempo de serviço” era o que mais se aproximava do sistema americano, mas ele já não existe mais.

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