15 de out. de 2012

A FESTA NA SELVA


AC 24HS

- Papai, para onde estamos indo?

- Filho, essa é a melhor parte do passeio. Depois de vermos tantas coisas nessa selva e termos assistido ao julgamento das hienas, iremos fazer um safári.

- As hienas foram condenadas papai? O que foi que elas fizeram? Eu nem prestei atenção!

- Poucos perceberam! É uma pena que não teve a repercussão devida. Muitos ficaram vendo outras coisas.

- Foram condenados?

- Sim, filho! Antes as hienas viviam a raptar carniças e carcaças de restos de animais abatidos pelas grandes feras. Mas de um tempo pra cá, decidiram agir de outro modo e para fazer parte da classe mais alta da pirâmide alimentar, passaram a fazer coisas absurdas. Atos e comportamentos terríveis que deixaram até os mais ferozes caçadores atônitos e assustados.

- O que veremos agora, papai?

- Você irá gostar. Há muitos bichos aqui nessa região. Eu sabia disso. Foi o motivo de ter comprado esse pacote de férias com a Companhia da Mata. Essa empresa está rica. Milionária! Somente ela faz a propaganda desses bichos.

- Tudo bem papai! Espero que o senhor também possa gostar.

- Tome uma bala filho. Beba água, o dia está muito quente.

- Olhe papai! Quantas gazelas a saltitar pelos verdes pastos dessas terras! Parecem felizes, apesar de que há bestas a espreitar seus equívocos e desatentos.

- Sim meu querido. Esses animais são os alvos preferidos de todas as feras que vagam por aqui. Infelizmente, são rápidas, velozes, mas, por que não dizer, ingênuas. Não percebem que precisam se mudar dessas paisagens. Há muito tempo estão aqui. A migração é necessária, pois os campos se desgastam e se corroem. O que foi verde, com o tempo, não passa de palhas secas. É uma pena que elas não percebem isso! Preocupam-se mais com suas funções.

- Por que diz isso papai? Elas são muitas!  Acho que vivem bem. Fazem muita propaganda sobre isso.

Pai, quem são aqueles bichos ali? Não estou reconhecendo muito bem. Acho que nunca os vi.

- São leões, meu filho.

- Leões? Não, pai! O senhor está enganado. Olhe bem, acho que são outros bichos.

- Não, não. São leões sim! Para poder viver nessas planícies, eles precisam se disfarçar. Não viveriam expondo sua essência, seu furor e seus desejos mais íntimos. As presas fugiriam facilmente se vissem a verdadeira identidade dessas feras. Naturalmente, mentem. Vivem assim, pois o engano é sua maior espada.

Olhe que as máscaras não escondem bem suas garras. Os bichos mais atentos não se deixam enganar por essa bela fantasia. Vivem sempre longe delas. Mas infelizmente são poucos assim.

- Papai… e aqueles ali nas margens daquele lago, quem são? Parecem dormir ao sol!

- Você se engana! Aqueles ali, não fazem como os outros crocodilos que vivem no outro lado da savana. São terríveis! Depois que os pássaros pequenos limpam suas sujeiras, tirando dos seus dentes os restos que apodrecem em suas bocas nojentas, eles são devorados. Monstros tão grandes, como podem ter medo de pássaros tão pequenos? Sem contar a ingratidão. Mas na selva que avistamos, essa palavra é o tom maior.

- Verdade, papai. Como podem esquecer que o mutualismo é útil para a própria existência deles.

- Ah meu filho, não se engane: a ganância é igual! O que difere é o tamanho. Aquelas discretas aves fariam pior se tivessem as mesmas medidas. Algumas vezes se confundem e sonham com o dia e que deixem de limpar a boca e possam devorar a própria carne da fera.

- Papai , veja! Do outro lado do lago! Olhe! Aqueles animais parecem sozinhos. Nossa! Como fazem barulhos. Acho que querem cruzar, mudar de lado.

- Já estiveram aqui. São filhos dos mesmos pais. Quando a estação mudou, saíram de madrugada sem ninguém ver e partiram em buscas de melhores dias. Com a imprecisão climática, hoje choram para poder voltar. Poderiam atravessar o lago, mas sabem que os crocodilos não lhes dariam êxitos.

O GUIA DO PASSEIO

Pediríamos que todos fizessem silêncio e que não abrissem nem mesmo pequenas embalagens agora. Passaremos o mais próximo possível da maior fera dessa savana. Ela dorme! Tem o domínio de tudo aqui e, quando algum bicho atrapalha seu sono, ele desperta com muita ira e furor. Ele é vingativo e mordaz. Se a ameaça for maior, não tem constrangimento algum em chamar seus irmãos.

Por FRANCISCO RODRIGUES PEDROSA       f-r-p@bol.com.br

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