10 de nov. de 2018

Fila para prova do Colégio Militar atravessa quarteirão em São Cristóvão


Centenas de pequenos cariocas disputam 59 vagas na instituição pública

Fila para a prova do Colégio Militar em São Cristóvão atravessa quarteirão em São Cristóvão Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Natália Boere - RIO - A camareira Tchaiene Souza, de 31 anos, trabalhou das 19h às 7h deste domingo, no Hospital do Exército, em Triagem, Zona Norte do Rio. Pensa que ela foi para casa descansar após o expediente? Tsc tsc. Mãe de Yuri Marques, de 10 anos, ela correu para porta do Colégio Militar, em São Cristóvão, onde o menino faria a primeira fase do exame de admissão da instituição (20 questões de Matemática).


Ela chegou ao local às 7h30, e a fila já dava volta no quarteirão. Yuri aportou lá com o pai, o motorista Fábio Marques, vinte minutos depois e atravessou o portão da escola às 8h20. O exame começou às 9h.

- Eram centenas de pessoas na minha frente. Fiquei com medo de ele não conseguir entrar. Vi muita gente chorando porque chegou depois das 8h30 e não conseguiu. Chorei de nervoso, de orgulho e de aflição ao ver ele entrando. Foi quando percebi que ele vai ter que encarar o mundo sozinho - contou Tchaiene.
A camareira Tchaiene Souza com o filho, Yuri Marques, de 10 anos Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Separada de Fábio, ela mora com Yuri em Imbariaê, distrito de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O menino cursa o quinto ano do ensino fundamental no colégio particular Seta, cuja mensalidade custa R$ 200. O sonho da camareira é que ele tenha acesso a uma educação pública de qualidade.

- Quero um futuro melhor para o meu filho. A gente colocou Yuri numa explicadora este ano, ele é estudioso, tenho certeza de que vai passar. Ele vai ter que acordar bem cedinho e encarar 1h30 de trem até o colégio, mas vai valer a pena - aposta a camareira.

O Colégio Militar do Rio de Janeiro oferece 45 vagas para o 6° ano do ensino fundamental (três delas reservadas para candidatos com deficiência) e 14 vagas para o 1º ano do Ensino Médio, uma delas para um aluno com deficiência. As inscrições para o processo seletivo foram feitas pela internet, mediante o pagamento de uma taxa de R$ 95, entre 23 de julho e 14 de setembro. 

O policial civil Diego Lessa, de 39 anos, inscreveu a filha Marina Lessa, de 11 anos, no fim de agosto, em busca de "educação de qualidade e gratuita". Ele mora no Itanhangá, e a menina, na comunidade do Vidigal com a mãe, Paula Santos, de quem ele é divorciado. Com muito custo, paga os R$ 1.490 de mensalidade do Colégio São Paulo, em Ipanema, após conseguir uma bolsa de 20%. 

- Policial que tenta ser honesto é pobre. Se ela conseguir uma vaga no Colégio Militar, vou conseguir ajudar a mãe dela, que está desempregada, com outras despesas - afirma Diego, que diz ser o maior incentivador da filha. 

O policial civil Diego Lessa com a filha Marina Lessa, de 11 anos Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Se a menina for aprovada na primeira fase do exame, a família terá de tomar uma decisão difícil. A segunda fase, com questões de Português, será no dia 25 de novembro, mesma data do exame de admissão do Pedro II, outro colégio público com ensino diferenciado onde Diego gostaria que a menina estudasse.

- Estou um pouco na dúvida. Ela tem interesse no Colégio Militar porque sabe que eu fui oficial da Marinha, então tem simpatia. Vamos esperar o desempenho dela para decidir.

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