14 de abr. de 2025

Yuan cai ao menor nível frente ao dólar desde 2007

As apostas contra o yuan cresceram após o Banco do Povo da China cortar pela sexta sessão consecutiva a taxa de referência da moeda

Yuan, moeda da China (Foto: Pixabay)

                     Bloomberg

A China está permitindo a desvalorização do yuan frente às principais moedas globais como forma de apoiar sua economia fragilizada, em meio à intensificação da guerra comercial com os Estados Unidos.

Na última quinta-feira (9), o yuan onshore atingiu o menor nível frente ao dólar desde a crise financeira global, antes de reduzir parte das perdas com a expectativa de uma reunião entre as principais lideranças chinesas para discutir estímulos econômicos. A moeda também recuou para o menor patamar em 15 meses frente a uma cesta de moedas dos principais parceiros comerciais.

As apostas contra o yuan cresceram após o Banco do Povo da China cortar pela sexta sessão consecutiva a taxa de referência da moeda — ainda que de forma gradual — sinalizando a intenção de Pequim de enfraquecer o câmbio gerenciado para impulsionar as exportações. Essa taxa fixa define o limite de oscilação diária da moeda em 2% para mais ou para menos no mercado onshore.

A desvalorização do yuan frente à cesta de moedas torna os produtos chineses mais baratos em relação às exportações de outros países, o que aumenta sua competitividade. Isso pode compensar parte do impacto das tarifas de 125% impostas por Donald Trump, que ameaçam paralisar o comércio entre as duas maiores economias do mundo.

“É razoável que a China adote uma estratégia de enfraquecimento gradual da taxa de referência do yuan”, disse Ju Wang, chefe de estratégia cambial e de juros para a China no BNP Paribas. “Isso permitiria uma desvalorização constante frente à cesta, uma forma eficaz e menos disruptiva de lidar com as tarifas.”

No mais recente capítulo da crise comercial, Trump passou a isolar a China como principal alvo de sua ofensiva tarifária, ao mesmo tempo em que suspendeu tarifas sobre dezenas de outros países. Em resposta, Pequim impôs tarifas de 84% sobre todas as importações dos EUA e prometeu “lutar até o fim” contra as medidas americanas.

O impasse aumenta o risco de que a China adote retaliações além das tarifas, o que pode manter a pressão para nova desvalorização do yuan.

“O PBoC manteve estável a taxa de referência do dólar-yuan para ancorar o sentimento do mercado, enquanto enfraqueceu o índice da cesta do yuan para melhorar a competitividade das exportações chinesas frente aos parceiros comerciais fora dos EUA”, disse Ken Cheung, estrategista-chefe de câmbio para a Ásia no Mizuho Bank. “Parece que as tarifas abrangentes dos EUA suspenderam boa parte do comércio bilateral, e a China deve se concentrar agora em puxar o índice da cesta do yuan para baixo.”

Até o momento, Pequim evitou uma desvalorização agressiva da moeda, como alguns esperavam, devido aos custos elevados dessa medida, apesar do possível ganho nas exportações. Uma queda acentuada pode afetar a confiança nos ativos chineses e agravar o atrito com os EUA.

Trump já acusou a China de manipular sua moeda para neutralizar os efeitos das tarifas. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, classificou o país como o “pior infrator” do sistema comercial internacional e afirmou que Pequim não deveria desvalorizar sua moeda diante das tarifas.

“Uma desvalorização acentuada do yuan seria perturbadora demais para os mercados e para os parceiros comerciais da China. Não vemos esse cenário como provável”, afirmou Wei Liang Chang, estrategista do DBS Bank. “A China pode entender que é necessário manter boas relações com seus parceiros, diante de um sistema global de comércio cada vez mais fragmentado.”

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