7 de set. de 2023

A pecuária tarauacaense. Da independência ou morte aos dias de hoje

Antes, precisamos dar um passeio rápido na história de nosso país

Zebu - Imagem: bahiaredsindi.blogspot.com


               Por Reginaldo Palazzo


Brasil Colônia


Sites como o do CSR da UFMG indicam que as primeiras cabeças de gado a chegar ao Brasil colônia datam de 1534 por iniciativa de Ana Pimentel de Souza, a esposa de Martim Afonso de Souza que mandou vir do arquipélago de Cabo Verde na África.  Os bois zebus como são conhecidos, eram usados nos engenhos de açúcar, a primeira monocultura do país como animal de carga e força motora, além obviamente de comida e couro.

Todavia o blog bahiaredsindi.blogspot.com/2011/08/zebu.html indica que no início do século XIX, houve criadores que tiveram a visão clara do que iria dar-se com o nosso gado indígena de origem européia. Conta-se na Bahia que havendo entrado naquele porto um navio inglês, por motivos não bem explicados, foi o mesmo posto a leilão com toda sua carga para pagamento de dívidas. Nesse leilão também figurava um casal de Zebus vindos da Costa de Malabar, que também fez parte do Leilão, sendo adquirido por um criador de gado.

Não ficou só aí a importação iniciada.

Alguns anos mais tarde, outros Zebus aportaram às costas da Bahia. É crença geral que desta leva se originou o gado a que se chamava “China”. Todos os que se dedicaram à história da nossa pecuária, mesmo os zebuófobos mais acirrados, tecem loas ao gado “China”.

Contudo um comentário na mesma página nos diz que: "Favor anotar a origem correta do nome "Zebu". A palavra espanhola "geba", ou "gebo", bem como a ilha Cebú - não levaram ao nome do gado. Até porque, em latim, "ox gibosus" seria o "boi giboso". Então, seria "Giba" originário do latim "gibum" (corcova). Acontece que o nome não veio de "Giba" e sim do "Gado sagrado", em sânscrito - a língua religiosa da Índia ancestral. "Zri" quer dizer "sagrado"; "Bhu" quer dizer "manifestação sagrada, planeta Terra, a vaca, o animal-símbolo da divindade". A origem está em "Zri-Bhu" e não em "Gebo", "Giba", "Gibosum", "Cebú" (ilha). Há textos longos com essa explicação e não se justifica mais ficar reproduzindo explicações dadas em livros antigos." Rinaldo dos Santos.

Outro blog interessante, o S T R A V A G A N Z A de Leopoldo Costa nos brinda com muitos detalhes, como por exemplo, Robert Southey (1774-1843), relatou no seu livro "História do Brasil", terminado em 1819,  que o gado proveniente de Cabo Verde multiplicou-se rapidamente pela capitania e chegou a haver até muita fartura de queijo e manteiga.

Durante os anos seguintes, aconteceram outras pequenas importações e tem-se noticias de que alguns colonos que vieram para o Brasil nas primeiras expedições, juntamente com os seus objetos pessoais, também trouxeram vacas, porcos, ovelhas e cavalos.

Isso nos diz muito sobre a complexidade do tema.

Continuando portanto sobre nosso tema, após um tempo, o gado se espalhou, o que causou um problema para a coroa portuguesa que se viu obrigada a emitir um decreto que proibia a criação de gado em uma faixa de terra de 80 km, da costa até o interior, para não destruir as plantações de cana de açúcar.


Mesmo na Independência ou Morte ele estava lá

Não há como dissociar o gado em hipótese alguma ao crescimento da nação, por muitos anos foi força motriz desse emergente país.


É obvio que essa pintura é uma visão idealizada do momento do grito do Ipiranga. Naquela época a "estrada" que passava pela serra e ligava Santos a São Paulo era de pedras e devido ao nevoeiro extremamente escorregadia, como pode ser vista nesses frames que eu tirei de um vídeo relacionado ao império brasileiro, e portanto essas travessias eram feitas preponderantemente com mulas.

Observem a curva íngreme e escorregadia


Por isso D. Pedro que nem era 1º ainda,  na verdade era D. Pedro IV em Portugal não estava nem a cavalo.

O pintor Pedro Américo se inspirou em quadros europeus e elaborou muitos esboços antes de realizar essa obra de arte.

Podemos ver o boi na Pintura de Pedro Américo ‘Independência ou Morte’, no canto inferior esquerdo. Como dito, a pintura é uma visão idealizada do momento do grito do Ipiranga, mas isso não diminui em nada a pintura de Pedro Américo, que além de pintor era romancista, poeta, cientista, teórico de arte, ensaísta, filósofo, político e professor. Ele pesquisou nada mais nada menos por 3 anos antes de pintar o quadro, e lá estava ele o boi, ajudando a erguer o nosso país

A arte do período imperial e início da República nos mostra o constante uso dos bois. Debret o pintor francês, os demonstra em diversas obras de sua vida.

Jean Baptiste Debret – Charqueada em Pelotas, Rio Grande do Sul


Em 1825 vamos encontrá-lo em Pelotas, Rio Grande do Sul, grande centro produtor de carne de charque. Não poderíamos deixar de ressaltar também o gado introduzido nas missões gaúchas pelos jesuítas espanhóis que também foi histórica e econômica para a pecuária nacional.

Também podemos citar a grande quantidade de gado, cavalos, burros e mulas que existiam na margem esquerda do Rio Uruguai no início do século XVIII. A Colônia do Sacramento, enclave português no Prata,  exportava mais de 500.000 couros por ano.

Obra de Debret, da década de 1830, mostra a exploração do gnaisse facoidal no Morro da Glória

Desde então, o agro se solidificou e tornou-se um dos setores mais rentáveis da economia brasileira, movimentando o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de 2022 em R$ 1,189 trilhão.



Acre


Foto na segunda metade dos anos 40 no governo de Guiomar Santos. Mostra o desembarque, em Rio Branco (AC), de gado importado de Minas Gerais, que era transportado por aeronave no caso da imagem, por um Curtiss CommandoC-46

Centro de Documentação e Informação Histórica (CDIH)  - Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico - FEM

OBS: Estou aguardando uma posição de um historiador aeronáutico, pois a data pra mim é mais pra frente. Em meados dos anos 40 terminara a 2ª Guerra Mundial. O 1º Curtiss C-46 chegou ao Brasil em 1947 e repassado a FAB em 1948. 


O gado importado da Bolívia (veja  AQUI)


Tarauacá

Vou parafrasear aqui um dos lemas dos tripulantes de Catalina, audazes militares que aquatizaram por essas plagas nos idos de 1940. Ontem, antes de ontem, muito antes de ontem, quando a estrada de terra ainda era inconcebível, Sr. José Higino de Sousa em 1926 já dava os primeiros passos na pecuária acreana trazendo, ensino, trabalho, comida, subsistência e desenvolvimento. 

Filho de Piauienses o Sr. José Higino devido a falta de carne no único açougue existente na cidade dizia sempre em bom tom.

 

"Ainda vou mostrar a essa gente como, também aqui no Acre, se pode criar gado". José Higino de Sousa

 


Sr. José Higino de Sousa, proprietário da Fazenda São José, montado em seu cavalo de nome 'Jaçanã' em 1937

Essa passagem nos é contada pelo seu agora falecido filho, o Sr. José Higino Filho em uma de suas históricas obras literárias tarauacaense - O TRABALHO VENCE TUDO - 


Ser filho de piauiense foi decisivo para sua opção, primeiro pelo que todos nós já sabemos, o nordestino é antes de tudo um forte!
Segundo como nos mostra o CSR da UFMG

 

"...Piauí, esse último estado se transformou, naquela época, no principal centro de pecuária bovina do Nordeste, responsável pelo abastecimento dos centros urbanos do litoral".

 

Portanto a união dessas duas 'peculiaridades' deu o start para que a pecuária acreana galgasse sua posição profissional em que se encontra hoje. Ali foi plantada a semente da região, a fecunda semente do ensinamento. 

Fazenda com gado em Tarauacá - local ainda não identificado. Algumas pessoas diziam que poderia ser do Sr. José Higino, mas conversei com pessoas que moraram lá e me disseram que não


A partir daí nomes como Altevir Leal mantiveram o legado desse piauiense arretado com melhoramento genético.


Matérias relacionadas:

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Tive a oportunidade de entrevistar o Sr. José Higino Filho em 2006 quando o mesmo me contou diversas características da pecuária introduzida por seu pai.

Abaixo alguns trechos:


1-) Seu pai o Sr. José Higino de Souza é considerado por muitos o precursor da pecuária no Acre, já que, a carne inclusive na capital era importada da Bolívia,  por que, ele resolveu criar gado, e onde ele arrumou suas primeiras cabeças? 

Na época quem não pretendesse se dedicar à  exploração da borracha tinha como alternativa a agricultura, atividade, por sinal, não muito estimulante. Pecuária nem se cogitava. Diziam, por exemplo, que esta só era viável onde existissem campos naturais, como era o caso do Nordeste. A experiência, contudo, que meu pai detinha sobre pecuária, trazida do Piauí, fez com que ele se decidisse por essa atividade. Até porque havia grande carência dos produtos dela decorrentes na cidade.


2-) Mas de onde vieram as primeiras cabeças? 

As primeiras cabeças foram adquiridas no próprio município, não sabendo eu dizer de quem teria sido. É importante ressaltar que, embora tenha sido ele o primeiro a se dedicar exclusivamente a esta atividade, não foi o único a desenvolver criação no município. Os coronéis Auton Furtado, no seringal Universo, José Marques, no seringal Paraíso, Vandick Tocantis, no seringal Foz do Muru, o faziam de forma complementar à exploração da borracha e com interesse de suprir mais as suas próprias necessidades. Em Feijó  havia também o coronel França, que chegou a desenvolver pecuária em grande escala, mas só a partir dos anos quarenta começou a participar  do abastecimento de Tarauacá, trazendo por terra, periodicamente, boiadas de 60 ou 80 cabeças.

Para ler a entrevista na íntegra clique no primeiro link acima em matérias relacionadas


Década de 70

Poster do evento em 1977

Fato marcante em relação a pecuária tarauacaaense na década de 70 foi a criação da EXPOTARAUACÁ pelo Prefeito Ennio Ayres 1976/79. 

Esse evento que se tivessem dado continuidade hoje geraria uma renda incomensurável para o município.

O então Prefeito Ennio Ayres hasteando o Pavilhão Nacional em uma das edições


Entre as modalidades apresentadas havia a esperada corrida de cavalo onde o "hipódromo" passa onde fica hoje a rádio Nova Era FM.


O Resgate

Em 28/08/2014 após mais de 30 anos o então Prefeito Rodrigo Damasceno resgatou oficialmente esse importante evento para o município.

Com duração de três iniciando no dia 01 de Outubro, reta final do Novenário de São Francisco  e término no dia 03, teve como atração principal, na segunda noite o show do cantor Léo Magalhães, mas não deixou de ter o tradicional rodeio.


Abaixo vídeo da chegada da Cavalgada em 2014

 

Em relação ao evento de 2015 O então Prefeito Rodrigo Damasceno afirmou:

“Os shows agregados ao rodeio com a performance do locutor e os fogos de artifícios  deram um toque especial que abrilhantou essa festa que voltou para o calendário tarauacaense. Com certeza estaremos de volta com a EXPO TARAUACÁ 2015 nos dias 1; 2; e 3 de outubro, contradizendo quem disse que só resgatamos ela porque era ano de eleição,  além da feira que virá mais forte já que teremos mais tempo para prepará-la”. 


2016 - Em 2016 a Expo Tarauacá foi suspensa por recomendação do promotor de Justiça Eleitoral para que a mesma ocorresse  após o pleito eleitoral.

2022 - Cancelamento da Agro-Expo-Tarauacá em sua edição 2022. A decisão foi tomada depois de longa reunião da administração municipal em decorrência da decisão da justiça que mandou cancelar 3 shows nacionais previstos para a feira.


IV Edição EXPO TARAUACÁ 2022




2023 - Tarauacá Rural Show - 4ª Feira do Agronegócio de Tarauacá


Por iniciativa da Associação e Sindicato Rural de Tarauacá foi apresentado a população tarauacaense e acreana a Tarauacá Rural Show - 4ª Feira do Agronegócio de Tarauacá.

O evento está marcado para os dias 14, 15, 16 e 17 de setembro e informações dão conta que o o próprio Governador participará da cavalgada. Isso é um bom sinal para todo o setor do agronegócio acreano, que seja pequeno, médio ou grande.

Aguardemos a programação.

Matéria sujeita a atualizações conforme informações adicionais.

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