19 de jan. de 2009
Idosa é a pessoa que tem muita idade; velha é a pessoa que perdeu a jovialidade. A idade causa degeneração das células, a velhice causa degeneração do espírito. Por isso, nem todo idoso é velho e há velho que nem chegou a ser idoso.
O mesmo ocorre com as coisas: há coisas que são idosas (antigas) e há coisas que são velhas. Um vaso da dinastia Ming (4368-1644 a.C.) pode ser uma antiguidade, uma relíquia que não tem preço; um outro, de apenas cinqüenta anos ou menos pode ser um vaso velho a ser relegado a um depósito. Você é idoso quando pergunta se vale a pena; você é velho quando, sem pensar, responde que não. Você é idoso quando sonha; você é velho quando apenas dorme. Você é idoso quando ainda aprende; você é velho quando já nem ensina. Você é idoso quando pratica esportes ou, de alguma forma, se exercita; você é velho quando apenas descansa. Você é idoso quando ainda sente amor; você é velho quando só sente ciúme e possessividade. Você é idoso quando o dia de hoje é o primeiro do resto de sua vida; você é velho quando todos os dias parecem ser o último de uma longa jornada. Você é idoso quando seu calendário tem amanhãs; você é velho quando seu calendário só tem ontem.
Idosa é a pessoa que tem tido a felicidade de viver uma longa vida produtiva, de ter adquirido uma grande experiência; ela é a porta entre o passado e o futuro e é no presente que os dois se encontram.
O velho é aquele que tem carregado e peso dos anos; às gerações vindouras só transmite pessimismo e desilusão. Para ele, não existe ponte entre o passado e o presente, pois lá existe um fosso que o separa do presente, pelo apego ao passado.
O idoso se renova a cada dia que começa; o velho se acaba a cada noite que termina, pois enquanto o idoso tem os olhos postos no horizonte, onde o sol desponta e a esperança se ilumina, o velho tem sua miopia voltada para os tempos que passaram. O idoso tem planos, e o velho tem saudades. O idoso se moderniza, dialoga com a juventude, procura compreender os novos tempos; o velho se emperra no seu tempo, se fecha em sua ostra e recusa a modernidade. O idoso leva uma vida ativa, plena de projetos e prenhe de esperança. Para ele, o tempo passa rápido e a velhice nunca chega. O velho cochila no vazio de sua vidinha e suas horas se arrastam, destituídas de sentido. As rugas do idoso são bonitas porque foram marcadas pelo sorriso; as rugas do velho são feias porque foram vincadas pela amargura.
Em suma, o idoso e o velho são duas pessoas que até podem ter, no cartório, a mesma idade cronológica. Mas o que têm são idades diferentes no coração.
Autor: Jorge José de Jesus Ricardo, 69 anos,
vencedor do 1° Concurso Literário para a Terceira Idade.
Publicado no jornal Reproposta, da Universidade Aberta à Terceira Idade da USP.
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