26 de mai. de 2009

A arte política de ser hábil



Ou sobre o engodo e o engano

Juscelino Kubitschek de Oliveira, em 1950, quando era governador de Minas Gerais, ele reinaugurou um velho hábito posto em prática muito antes como prefeito (nomeado por Benedito Valadares, que fora nomeado por Getúlio) de Belo Horizonte: visitar nos fins de semana a periferia da capital estadual e as zonas pobres das cidades do interior. As visitas eram rápidas, mas inesquecíveis para aquela gente humilde que nunca havia se aproximado de “uma autoridade” e que rodeava o governador em plena rua e aí lhe fazia pedidos ou pequenas queixas.
 Com calma! Vamos com calma que eu vou anotar tudo isso! – dizia Juscelino, pondo ordem na multidão de homens andrajosos e mulheres desdentadas com filhos ao colo, que pediam água encanada, vaga na escola, trabalho, luz elétrica, “a tapação”do buraco na rua, telhas para cobrir a casa, remédios, sempre muitos e muitos remédios, ou “uma ajudazinha” para o enxoval da filha que ia casar-se.
 Anote aí, doutor Penido, o nome completo dessa senhora e tudo o que ela quer. Fale alto e devagarinho, minha senhora... – dizia, apontando para o chefe da Casa Civil, Osvaldo Penido, que o acompanhava e tudo anotava numa caderneta preta.
Logo, sorridente, abraçava a cada um, adultos ou crianças, e deixava o vilarejo acenando para o povo que o aplaudia como um anjo salvador descido diretamente dos céus naquela visita inesquecível.
Todos os sábados, antes de saírem do Palácio da Liberdade para as visitas, Juscelino lembrava em voz alta e solenemente, à vista dos demais auxiliares.
 Doutor Penido, não se esqueça da caderneta que hoje vamos ter povo!
Ao fim do quinto mês, o chefe da Casa Civil, ao despachar com o governador, explicou-lhe que a caderneta estava cheia, com todas as folhas preenchidas, e perguntou:
 E agora, o que eu faço?
 Uai, joga fora e compra outra! – respondeu impassível.
Do livro “O dia em que Getúlio matou Allende” e outras novelas do poder, de Flávio Tavares – Editora Record

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