8 de jul. de 2009

Deputados criam o Dia Estadual da Poesia




Por EZÍ MELO

Projeto do líder do governo, Moisés Diniz (PCdoB), estabelece o dia 20 de abril, nascimento do poeta Juvenal Antunes, para comemorar a data.

No dia do aniversário de nascimento do poeta Juvenal Antunes, 20 de abril, o Acre vai comemorar o Dia da Poesia. A data foi definida em projeto de lei do líder do governo na Assembléia Legislativa do Acre (Aleac), deputado Moisés Diniz (PCdoB), aprovado no início da tarde desta quarta-feira (8), por unanimidade.

Natural do Rio Grande do Norte, Juvenal Antunes chegou ao Acre em 1912, onde exerceu o cargo de promotor público e publicou poesias nos jornais da época. Figura polêmica, boêmio dado às noitadas, Juvenal ficou na história do Acre, onde lançou sua obra “Acreanas” (1922), seu primeiro livro de poesias escrito no Estado.

Antunes era hóspede cativo do Hotel Madrid, localizado à Rua 17 de novembro, onde hoje é calçadão da Gameleira, no Segundo Distrito de Rio Branco. Passava os dias vestido em seu hobby de chambre e recitando versos e poesias. Elogiava a preguiça e desprezava os valores da sociedade à época.

Uma de suas mais conhecidas poesias é sobre a própria preguiça, onde também fala de sua amada Laura, que com ele traía o marido. Confira:

ELOGIO DA PREGUIÇA
(A mim mesmo)

"preguiça amamenta muita virtude"
Bendita sejas tu, Preguiça amada,
Que não consentes que eu me ocupe em nada!

Mas queiras tu, Preguiça, ou tu não queiras,
Hei de dizer, em versos, quatro asneiras.

Não permuto por toda a humana ciência
Esta minha honestíssima indolência.

Está, na Bíblia, esta doutrina sã:
-Não te importes com o dia de amanhã.

Para mim, já é grande sacrifício
Ter de engolir o bolo alimentício.

Ó sábios, dai à luz um novo invento:
A nutrição ser feita pelo vento!

Todo trabalho humano, em que se encerra?
Em, na paz, preparar a luta, a guerra!

Dos tratados, e leis, e ordenações,
Zomba a jurisprudência dos canhões!

Juristas, que queimais vossas pestanas,
Tudo que legislais dá em pantanas.

Plantas a terra, lavrador? Trabalhas
Para atiçar o fogo das batalhas!

Cresce o teu filho? É belo? É forte? É loiro?
- Mas uma rês votada ao matadouro!

Pois, se assim é, se os homens são chacais,
Se preferem a guerra à doce paz...

Que arda, depressa , a colossal fogueira
E morra assada, a humanidade inteira!

Não seria melhor que toda gente,
Em vez de trabalhar, fosse indolente?

Não seria melhor viver à sorte,
Se o fim de tudo é sempre o nada, a morte?

Queres riquezas, glórias e poder?
Para que, se amanhã tens de morrer?

Qual mais feliz? O mísero sendeiro,
Sob o chicote e as pragas do cocheiro...

Ou seus antepassados que, selvagens,
Viviam, livremente, nas pastagens?

Do Trabalho por serem tão amigas,
Não sei se são felizes as formigas!

Talvez o sejam mais, vivendo em larvas,
As preguiçosas, pálidas cigarras!

Ó Laura, tu te queixas que eu, farcista,
Ontem faltei, à hora da entrevista,

E, que ingrato, volúvel e traidor,
Troquei o teu amor - por outro amor.

Ou que, receando a fúria marital,
Não quis pular o muro do quintal.

Que me não faças mais essa injustiça,
Se ontem não fui te ver, foi por preguiça.

Mas, Juvenal, estás a trabalhar!
Larga a caneta e vai dormir, sonhar.

(Cismas, 1908)

Fonte: Notícias da Hora

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Atenção:
Comentários ofensivos a mim ou qualquer outra pessoa não serão aceitos.