China e Japão compram C3, lembra Diones Salla. Nem todos os genótipos são conhecidos
MONTEZUMA CRUZ
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BOTUCATU, SP – A China rejeita todas as bebidas com álcool C4, substância produtora de metano e danoso à saúde humana, lembrou esta semana o extensionista e pesquisador Diones Assis Salla, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Acre. Doutor em agronomia na área de concentração em energia na agricultura, ele afirma que existe um potencial mercado para a exportação do etanol de mandioca, além do próprio abastecimento nacional e do barateamento do combustível em regiões isoladas no Brasil.
O etanol de mandioca possui moléculas de carbono formadas por três átomos e não produz resíduos, como é o caso da cana-de-açúcar, que produz quatro moléculas de carbono. O C3 já vem numa condição que japoneses e chineses usam na fórmula de fabricação de bebidas.
No balanço energético dessa cultura feito durante o 13º Congresso Brasileiro de Mandioca - Inovações e Desafios, promovido pelo Centro de Raízes e Amidos Tropicais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Salla impressionou pesquisadores, estudantes e extensionistas presentes ao anfiteatro C da instituição: "Não é uma verdade fechada, inquestionável, irrefutável, por isso dou a cara para bater".
Em se tratando de Amazônia, a mandioca não é cultivada sozinha. Nos estados amazônicos, ela está sempre acompanhada do milho, da abóbora, do abacaxi, da melancia e de outras plantas. "Há que se considerar aspectos sociais e ambientais", defendeu. Segundo Salla, "gaúcho de nascimento e acreano por adoção", possivelmente a metade dos genótipos de mandioca ainda sejam desconhecidos. "Qual a mandioca que cultivam os índios isolados do Acre, na fronteira com o Peru?" – provocou.
O coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa e Transferência de Tecnologia da Embrapa Amazônia Oriental, Raimundo Brabo, lamentou que no Pará só dendê faça parte da pauta de alternativas econômicas viáveis. Defendeu a inclusão da mandioca, cuja produção em roças sem fogo tem crescido nas regiões Nordeste e do Baixo Tocantins.
mandi190709b Segundo estudos de Salla, em megajoules a cana-de-açúcar apresentou um custo energético menor do que o da mandioca e o milho, no processamento de uma tonelada de matéria-prima. Entretanto, tem um custo maior do que estas quando relacionada ao etanol produzido. Embora apresentem custos energéticos diferenciados nas diferentes etapas do processamento industrial, a mandioca e o milho possuem o mesmo dispêndio energético final.
* Conheça o estudo do pesquisador Diones Salla. Clique aqui.
Comparando sistemas de produção de etanol de mandioca com os da cana-de-açúcar e do milho, Salla mostrou ensaios e os demais balanços de massa gerados no processamento industrial da matéria-prima amilácea. "As evidências estão aí: o processamento dessa matéria-prima ocorre dentro dos moldes sustentáveis, praticamente sem impacto ambiental", assinalou.
No seu trabalho desenvolvido no laboratório do Cerat, na Fazenda Lajeado, Salla constatou: a mandioca consome menos energia do que a cana-de-açúcar e do milho, no processo de obtenção do etanol. "Em todos os quesitos", ele garantiu. "Nos exames das energias exportadas do agroecossistema, referentes aos macronutrientes contidos nas raízes da mandioca, nos colmos da cana-de-açúcar e nos grãos de milho; no dispêndio energético para a produção agronômica e para o processamento industrial das matérias-primas por litro de etanol produzido; na manutenção dos equipamentos industriais de processamento das matérias-primas em análise; e nos balanços energéticos finais apresentados pala mandioca, pela cana-de-açúcar e pelo milho.
A mandioca também foi testada como fornecedora de carboidratos, mas dos nove projetos financiados no início do Proálcool, restou apenas uma unidade produtora de etanol de amidos no Médio Paranapanema (SP), lembrou o presidente do Congresso, professor doutor Cláudio Cabello. A fábrica utiliza o amido de milho, considerando-se as naturais variações de custos que apresentam essas matérias-primas.
"No Brasil a utilização da mandioca como fonte de carboidratos para produção de etanol sempre foi considerada, tomando-se como referencial a cultura da cana-de-açúcar, que lhe concorre com vantagens nada desprezíveis", reforçou o pesquisador e vice-diretor do Cerat, que abordou a produção do bioetanol de raízes de mandioca em usinas de pequeno porte. Mesmo assim, a agroindustrialização da mandioca não vem despertando maior interesse para investimento de capital privado.
Obstáculos: ciclo, defensivos e mecanização
BOTUCATU – A produção brasileira de fécula de mandioca em 2008 foi de 546,5 mil toneladas, o que representa um consumo em torno de dois milhões de toneladas de raízes. O excedente está sendo consumido na forma in natura: farinhas, polvilho azedo e outros produtos. Por causa do excesso de oferta, as agroindústrias existentes não estão consumindo toda a produção de raízes nas regiões onde estão instaladas. Isso provoca uma depressão nos preços e desestímulo que poderá afetar a próxima safra.
Para Cláudio Cabello, esse efeito periódico de alta produção versus baixa produção a cada três anos já é sentido na cadeia produtiva e impede planejamentos estratégicos de longo prazo para fortalecê-la. "Ao lado da agroindústria, os investimentos precisam ter retorno. Aumentar as possibilidades de absorção deste excedente de raízes de mandioca em regiões onde esta cultura se identifica com a região parece ser mais um avanço na direção de estabilização dessas oscilações periódicas, prejudiciais a todos", assinalou.
O pesquisador José Osmar Lorenzi, do Instituto Agronômico de Campinas tem buscado identificar e estabelecer parâmetros agronômicos e fitotécnicos relevantes para produção de mandioca em escala de 6.500 ha. "Os desafios são enormes devido ao ciclo da planta ser em torno de 11 a 15 meses; inexistência de 48 defensivos; manejos testados; mecanização da colheita; aplicação de defensivos e outros. "Para a cultura da mandioca existem ainda fronteiras que não foram suficientemente identificadas e dominadas e daí as suas potencialidades são ainda subavaliadas". (M.C.)
Com 1 milhão de toneladas, US$ 400 milhões
BOTUCATU – A Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca negocia a exportação para a Tailândia de tecnologia brasileira de produção de álcool a partir da mandioca. Aquele país asiático projeta a instalação de cinco usinas construídas com o uso da tecnologia brasileira, com capacidade para produzir experimentalmente 200 mil litros diários de álcool de mandioca cada uma.
A Tailândia é um país essencialmente importador de combustíveis e a produção de álcool de mandioca é vital para seus interesses internos. O país destina a metade da sua produção de mandioca – 3,7 milhões de toneladas – para a extração de amido. A outra metade é transformada em chips: a mandioca é picada em pequenos pedaços e secada ao sol, ficando até três dias em terreiro. Cada 2,2 quilos de mandioca rende um quilo de chips.
Durante visita à Universidade de Bangkok, o industrial Antonio Donizetti Fadel constatou que a Thai Tapioca Development Institute e aquela instituição trabalham no melhoramento e pesquisa de novos cultivares numa fazenda de mil hectares. As duas instituições prevêem para os próximos cinco anos aumentar a produção das atuais 23/24 toneladas por hectare/ano para 35 t/ha.
Fadel se queixa de que há 20 anos não se lançam novas variedades de mandioca na região sul brasileira, e só acredita que o País possa competir se dobrar a sua produção de amido, atualmente em torno de 600 mil t/ano, elevando a capacidade de suas indústrias para um milhão de t. "O Brasil poderá vir a ser um grande exportador de amido de mandioca, natural ou modificado", opinou. Com esse patamar, a balança comercial seria enriquecida com US$ 300 milhões a US$ 400 milhões. (M.C.)
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