1 de ago. de 2011

A ÚNICA VERSÃO DOS FATOS

Assistir diariamente a televisão cubana faz com que você entenda bem a única versão dos fatos que o governo conta. Como jornalista, tenho o discernimento que não existe imparcialidade na Imprensa em nenhum lugar do mundo, e que qualquer texto que você leia ou telejornal que assista será sempre uma versão dos fatos.
No entanto a diferença é que, em países democráticos, existem várias versões sobre o mesmo fato. Sempre se pode buscar em outro jornal, site ou até mesmo blog detalhes que interessam naquela notícia, retalhos que ficaram faltando para que você forme o seu juízo de valor. Afinal, é isso que o bom leitor faz: cria a sua opinião com base no que leu.
Aqui, o problema é exatamente esse: não há outra versão que ler. Nunca ninguém discorda, nem acrescenta um fato novo. Não é difícil de entender já que a TV, jornais e sites são todos governamentais. Todos reproduzem o mesmo discurso, às vezes inclusive literalmente. Não é raro ver o Granma, principal jornal daqui, copiar textualmente o discurso lido na noite anterior na televisão.
A versão que cotidianamente recebemos é sempre pró-governo. A população cubana nunca vai ver qualquer crítica ao sistema, mesmo de leve. Só para se ter uma idéia, o programa mais famoso de debates da TV cubana, o "Mesa Redonda", nunca debate nada. São sempre convidados que ficam concordando entre si e concordando mais ainda com o governo. A pior parte para mim, no entanto, nem é essa. É sempre quando falam sobre os outros países.
Todas as vezes que o bloco do noticiário internacional começa, me sento para ver as barbaridades. O mundo todo está um caos, a crise mundial, o desemprego, a greve, os capitalistas selvagens que só pensam em dinheiro. Não estou nem falando dos EUA, que por motivos óbvios são os mais atacados, mas sim do restante do mundo.
Aí entra a segunda parte: e Cuba, como está? Ah, Cuba está uma maravilha, sem problemas, o socialismo é a solução, aqui todas as pessoas vivem felizes. Outro dia, por exemplo, falando sobre imigração, quase me fizeram acreditar que aqui as pessoas entram e saem livremente e que os demais países do mundo são "racistas e xenófobos".
Mas uma coisa me deixa feliz: cada vez mais os cubanos conversam, contestam, tiram suas conclusões. Criam a sua versão, a que é baseada na realidade cotidiana. E são esses "repórteres" que levam as histórias adiante. E que cumprem o papel que, infelizmente, a Imprensa não pode cumprir.

Ana Carolina é jornalista, couchsurfer e autora do blog "Eu moro onde você tira férias"

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Atenção:
Comentários ofensivos a mim ou qualquer outra pessoa não serão aceitos.