Paulo Wadt - Os resultados de um processo eleitoral depende de inúmeros fatores, como cenário econômico, grau de satisfação da população com os atuais gestores, entrada e saída de eleitores, posicionamento adotado pelos candidatos frente aos principais temas de interesse da população, a abrangência da eleição (cargos para presidente, governador, prefeito ou cargos legislativos), memória eleitoral, tempo de exposição na mídia, entre inúmeros outros fatores não aqui mencionados.
Por isto, qualquer previsão quanto aos resultados eleitorais apresenta elevado grau de incerteza.
Todavia, a aplicação de algumas técnicas estatísticas pode explicar algumas tendências, que se mantido o cenário anterior quanto a percepção do eleitor, resultariam em maior probabilidade de previsão do resultado eleitoral.
Utilizando técnicas estatísticas simples foi realizada a análise dos resultados das quatro últimas eleições (modelo quadrático) e das três últimas eleições (modelo linear) para a cidade de Rio Branco, considerando o total de votos válidos obtido pelo candidato mais votado do bloco 'Frente Popular' e os dois mais votados do bloco de oposição.
A análise do modelo quadrático indica que no período entre 2006 e 2008 houve uma inversão da tendência de crescimento eleitoral da 'Frente Popular', até o ponto de perda da preferência do eleitor em 2010, quando na cidade de Rio Branco o candidato da oposição obteve maior número de votos que o candidato da 'Frente Popular' (Figura 1). A análise estatística indica que para as oposições, 80% da variação dos votos válidos foram explicados pelo modelo quadrático ajustado, e para a 'Frente Popular', 63% das variações do voto válido foram explicadas pelo mesmo modelo ajustado.
A mesma tendência foi observada avaliando-se exclusivamente as três ultimas eleições, onde o modelo linear indica no período de 2006 a 2010 o crescimento da oposição (Figura 2). Neste caso, acima de 93% dos votos válidos foram explicados pelos modelos lineares ajustados.
Ambos modelos projetam que nos últimos anos a 'Frente Popular' vem perdendo apoio entre os eleitores.
Fazendo-se a projeção para a eleição para o cargo de prefeito de Rio Branco deste ano, pelo modelo quadrático a oposição ganharia as eleições com 63,2% (erro de 7,7%) dos votos e a 'Frente Popular' obteria 38,9% (erro de 9,5%).
O modelo linear, apresenta uma tendência mais conservadora, por não incluir a inversão da tendência observada no período de 2006 a 2008. Por este modelo, também a oposição ganharia as eleições, com 54,7% (erro de 0,3%) dos votos válidos e a 'Frente Popular' ficaria com 44,7% (erro de 2,1%) dos votos válidos.
Portanto, as projeções de votos obtidos pela 'Frente Popular' indicam que haverá um segundo turno e que se confirmada a tendência para a distribuição dos votos, em ambos os modelos e mesmo considerando os erros das estimativas, a oposição obterá a maioria dos votos nestas eleições para prefeito do município de Rio Branco.
Isto somente não será alcançado caso a oposição não consiga capitalizar as reais expectativas da população.
Notas do autor:
Os dados utilizados nos modelos de regressão foram obtidos em:
Eleição para Prefeito de Rio Branco em 2004
Frente Popular - Raimundo Angelim: 49,5%
Oposiçao - Márcio Bittar + Bestene: 50,5%
Fonte: http://eventos.noticias.uol.com.br/eleicoes/AC/index-01392.html
Eleição para Governador em 2006 (votos apenas da cidade de Rio Branco)
Frente Popular - Binho Marques: 56,1%
Oposiçao - Márcio Bittar + Tião Bocalom: 42,8%
Fonte: http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/eleicoes-2006/votacao-no-municipio-pais-2006
Eleição para Prefeito de Rio Branco em 2008
Frente Popular - Raimundo Angelim: 50,8%
Oposiçao - Petecão + Tião Bocalom: 47,9%
Fonte: http://placar.eleicoes.uol.com.br/2008/1turno/ac/?cidade=01392
Eleição para Governador em 2010 (votos apenas da cidade de Rio Branco)
Frente Popular - Sebastião Viana: 48,91%
Oposiçao - Tião Bocalom: 50,66%
Fonte: http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tre-ac-2010-resultado-votacao-municipio-rio-branco
Para a construção dos gráficos utilizou-se planilha eletrônica e as estimativas da votação para 2012 foram feitas por meio modelos de regressão logístico com apoio de software estatístico, adotando-se o ano de 2012 como ano zero, o ano de 2010 como ano -2, o ano de 2008 como ano -4, o ano de 2006 como ano -6 e o ano de 2004 como ano -8. No modelo linear foram utilizados apenas os resultados dos anos de 2010 a 2006. A estimativa do valor dos votos válidos e do erro padrão de votos previstos a serem obtidos pela 'Frente Popular' e pela oposição foram calculados obtidos quanto ano = 0.
Os resultados não refletem pesquisa de opinião ou intenção de voto, mas somente uma análise dos dados das eleições anteriores para governador e prefeito na cidade de Rio Branco, AC.
Nota adicional (07 de julho de 2012):
Atendendo sugestão em um dos comentários postados neste blog, fiz a transformação dos dados para tornar a projeção* estatística mais segura. Sem refazer toda a estatística, mas apenas as regressões entre ano da eleição e proporção de votos, foram dados os seguintes tratamentos aos dados:
a) os dados foram transformados em proporção (0 a 1) = p
b) foi calculada a raiz quadrada de cada proporção = raiz p
c) foi obtido o arco seno da raiz quadrada da proporção = p' = arcsen (raiz p)
d) foram refeitas as regressões, obtendo-se as novas equações de regressão.
Regressão de 1o. grau:
Regressão de segundo grau:
*A transformação de dados obtidos em porcentagem é recomendada, embora, alguns autores discutam sua necessidade. Uma das críticas, é que a após a transformação, não se tem a média de determinada proporção, mas sim a média (em radianos ou graus) dos arcos senos das raizes quadradas das proporções (o que para um público leigo é muito mais difícel de interpretar), além de que nem sempre há falta de normalidade dos dados para justificar a transformação dos dados (ver Bianconi et al., 2008).
Todavia, a maior deficiência desta abordagem é que estamos projetando para um período não estudado (2012), tendências e cenários observadas em anos anteriores, o que torna a estimativa insegura pelo fato de que efeitos não existentes anteriormente possam afetar os resultados. De qualquer forma, o que se pode apurar é que, de 2006 a 2010 houve uma tendência de perda do poder eleitoral da Frente Popular, o que já deve ter sido inclusive, objetio de percepção não só do eleitor, mas também de muitos políticos que estão abandonando o apoio ao governo e se juntando à oposição. Portanto, dando mais força ainda há tendência constatada.
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