"Oi, madrinha. Como vai, madrinha?". Os "afilhados" são ex-detentos do complexo penitenciário do Carandiru. A "madrinha" é a dançarina e cantora Rita Cadillac, 59, que, talvez para muitos da extinta casa de detenção, a figura de musa coubesse melhor no imaginário que o de figura maternal./Foto: UOL
O Soldado da PM acordou cedo. Sua mulher havia feito o café, o pão do dia anterior foi aquecido no fogão e ele, após colocar sua farda e equipamentos, se dirigiu ao Passat que ainda estava pagando e seguiu para o seu Batalhão. Cumprimentou os colegas ao chegar e após a formatura todos foram informados de uma rebelião num presídio.
O coração dispara, ele pensa no tamanho daquele específico sistema prisional e na quantidade de marginais que abriga, cada um mais perigoso e frio do que o outro. Mas é seu dever, sua profissão de fé, seu sustento material. Ele acompanha impávido seus colegas, sempre seguindo ordens superiores, e adentra o presídio.
Em meio aos tiros, homens enfurecidos, fumaça, ele tenta se defender, e nem sabe se algum tiro seu atingiu alguém. Mas prossegue como lhe ensinaram no quartel, arma em punho, disparando sempre que vislumbra uma ameaça, uma arma, vindos em sua direção. O que mais pode fazer? Morrer?
Por um breve momento, pensa na noite anterior, quando brincava no chão da sala, no tapete, com o filho amado. Pensa na noite cheia de amor que sua esposa lhe dedicou. Tudo parece um sonho distante.
Agora tudo acabou. Para o júri sedento de sangue e certamente sob forte pressão, ele faz parte de um grupo de justiceiros, matou os inocentes, que cumpriam pena somente por serem assassinos, estupradores, pedófilos, traficantes, sequestradores, tarados, todos inocentes, que não fariam nenhum mal aos soldados que ali entravam, se conseguissem alcançar alguns deles.
Bom, agora tudo acabou, o filho, a esposa, uma vida que se foi enquanto esse Soldado tentava cumprir seu dever. Ficarão a saudade e as quatro paredes onde será encerrado até que morra numa briga no pátio, de uma doença qualquer ou de pura tristeza e solidão.
Falta cultura e discernimento a este país.
Nota do Blog: Recebi esse texto de um amigo. Gostaria de saber o que os digníssimos membros do juri teriam feito no lugar dos policiais? Gostaria que me respondessem dentro do contexto da época. Sociedade hipócrita.
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