Roberto Lopes
Editor de Opinião da Revista Forças de Defesa
A proposta é tentadora: vender um pacote de armamentos às Forças Armadas iraquianas que poderia representar o ingresso no país de algumas centenas de milhões de dólares em divisas – mas os riscos são altos também, e o governo Dilma Roussef não parece disposto a corrê-los.
Este é o resumo da situação criada pela visita a Brasília, no dia 2 de junho, do novo ministro da Defesa do Iraque, Ibrahim Al-Jaafari, que se reuniu com o seu colega brasileiro Jaques Wagner, na presença do chefe do Departamento de Oriente Médio do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Carlos Ceglia, e do embaixador iraquiano no Brasil, Adel Al Kurdi.
Até poucas semanas atrás, o ex-Primeiro-Ministro do Iraque Ibrahim al-Eshaiker al-Jaafari, de 68 anos, vinha exercendo o cargo de Ministro do Exterior, mas, recentemente, o governo do presidente Fuad Masum o removeu para a Pasta da Defesa – que necessita de apoio internacional para combater os terroristas do Estado Islâmico (EI) atuantes no território iraquiano.
Al-Jaafari desembarcou na capital brasileira com o discurso de que Bagdá gostaria de ver o Brasil alinhado às potências que condenam e ajudam a combater o EI. Mas tanto o Itamaraty como a área de Assuntos Estratégicos do Ministério da Defesa brasileiro, chefiada pelo general Gerson Menandro Garcia de Freitas, temem que uma aproximação do Brasil com o Iraque, nesse momento, possa atrair para o país – que se prepara para promover os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro – a vingança de algum grupo terrorista ligado à selvageria do EI.
Lista – De acordo com uma reportagem do correspondente do site IHS Jane Defence Weekly em Washington, Inigo Guevara, os iraquianos teriam interesse em obter turboélices de ataque ao solo Embraer A-29 Super Tucano, blindados de transporte de pessoal do tipo VBTP-MR Guarani, de tração 6×6, viaturas leves Agrale Marruá, 4×4, baterias Astros 2 de foguetes de saturação, armas anti-tanque de 84 mm e radares de defesa aérea tática Bradar M60 SABER.
O Poder Aéreo apurou que representantes do governo Masum já haviam conversado sobre o assunto, rapidamente, com o ministro Jaques Wagner, durante a LAAD 2015, na segunda semana de abril – ocasião em que ficou acertada a viagem do ministro Al-Jaafari viria ao Brasil.
Em Brasília, os dois trocaram declarações protocolares.
Al-Jaafari: “A guerra contra o terrorismo não é uma guerra convencional. Buscamos os países amigos e democráticos para defender aqueles que estão sofrendo com esse fenômeno”, disse o chanceler iraquiano.
Jaques Wagner retrucou: “o Brasil tem tradição, de longa data, de paz e solidariedade. Expressamos nossa total solidariedade ao Iraque em face das atrocidades que estão sendo perpetradas no país”.
Tudo aparentemente muito claro e inequívoco, mas também descompromissado… O mais provável é que a diplomacia brasileira só autorize as vendas dos armamentos brasileiros na metade final de 2016 – se, até lá, os iraquianos mantiverem seu interesse nesses produtos.
Perspectivas – Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde), a chamada Base Industrial de Defesa (BID) movimenta cerca de 6,5 bilhões de dólares ao ano (3 bi em exportação e 3,5 em importação), gerando 30 mil empregos diretos e uns 100 mil indiretos.
E a despeito da desaceleração dos investimentos do governo nesse segmento industrial, a expectativa é de que, até o final desta década, cerca de 40 mil novos postos de trabalho sejam criados na BID.
O mercado mundial de Defesa gira em torno de US$ 1,5 trilhão por ano. A participação brasileira nesse bolo foi pequena: em 2014, o ministério hoje comandado por Wagner só autorizou exportações de armamentos no valor de, aproximadamente, US$ 600 milhões.
Fumaça produzida por ataques aéreos no norte do Iraque, dez meses atrás
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