Desempregada busca oportunidade de trabalho em Itaboraí |
Patricia Duarte e Rodrigo Viga Gaier - A recessão brasileira chegou ao seu ponto mais agudo no trimestre passado, ao cair 0,6 por cento sobre o período anterior, mas começou a dar alguns sinais de recuperação com desempenhos positivos da indústria e dos investimentos depois vários meses no vermelho.
Isso não significa, no entanto, que a economia voltará a crescer rapidamente e de maneira robusta, já que o consumo ainda sente bastante o peso da inflação e desemprego elevados.
"Chegamos ao fundo do poço pelo comportamento dos indicadores", afirmou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves. "O investimentos teve um movimento importante, ajustando com (o comportamento) da indústria, o que melhora a perspectiva. O mercado de trabalho ainda tem piorado e o consumo vai continuar ruim, pesando sobre a recuperação."
A queda do Produto Interno Bruto (PIB) entre abril e junho, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, marcou o sexto trimestre seguido de contração, o período mais longo da série histórica iniciada em 1996. Na comparação com um ano antes, a economia despencou 3,8 por cento.
Pesquisa da Reuters apontava que a economia teria queda de 0,5 por cento entre abril e junho na comparação com o trimestre anterior e de 3,7 por cento sobre o segundo trimestre de 2015.
A Indústria mostrou expansão de 0,3 por cento no trimestre passado sobre o anterior, interrompendo cinco sequências seguidas de contração. Já a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimentos, subiu 0,4 por cento no período, depois de recuar por 10 trimestres seguidos.
A taxa de investimento ficou em 16,8 por cento do PIB, pior segundo trimestre desde 2003 (16,4 por cento).
"A alta da FBCF e da indústria tem a ver com o aumento da confiança que estimula investimentos", afirmou a coordenadora de contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis. "O ambiente influencia muito os investimentos e a produção a despeito dos juros e crédito caros."
O segundo trimestre foi marcado pela troca de governo, com o afastamento da presidente Dilma Rousseff e Michel Temer assumindo interinamente o comando do país em maio. Com forte discurso de ajuste fiscal, a nova equipe econômica encabeçada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem conseguido melhorar a confiança dos agentes econômicos, pelo menos por enquanto.
Mas os mercados financeiros e o setor produtivo já começam a cobrar ações mais contundentes de Temer, sobretudo para aprovação de medidas de austeridade no Congresso Nacional. Mesmo assim, no terceiro trimestre, a confiança na economia continuou dando sinais de melhora, com destaque para a dos consumidores e da indústria.
RETRAÇÃO
Do lado negativo, Serviços e Agropecuária tiveram quedas de 0,8 e 2,0 por cento no segundo trimestre, respectivamente. O consumo das famílias, no trimestre passado, caiu 0,7 por cento sobre janeiro a março, em meio ao cenário de inflação, juros e desemprego elevados. Esse foi o sexto trimestre seguido no vermelho.
O consumo do governo, no mesmo período, caiu 0,5 por cento, depois de ter subido 1 por cento no primeiro trimestre sobre os três meses anteriores.
"O quadro é bastante difícil ainda e a recuperação deve se concentrar no lado da oferta, na indústria, enquanto o consumo continua mostrando fraqueza", afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, para quem o PIB deve crescer 0,5 por cento no quarto trimestre, mas com o consumo ainda em contração ou avançando muito pouco.
Pesquisa Focus do Banco Central, que ouve semanalmente uma centena de economistas, mostra que a projeção para o PIB neste ano é de contração de 3,16 por cento, crescendo 1,23 por cento em 2017.
No primeiro trimestre deste ano sobre o período imediatamente anterior, o IBGE informou que a economia recuou 0,4 por cento, número revisado para mostrar maior contração que a de 0,3 por cento reportada antes.
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