2 de jan. de 2019

Bolsonaro assume, reforça compromissos de campanha e evita detalhar medidas na economia



Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu - Jair Bolsonaro assumiu nesta terça-feira a Presidência da República com dois discursos bastante focados em promessas de campanha, como o direito do "cidadão de bem de se defender" ou combate à corrupção e ao socialismo, com muitas menções a Deus e citações mais genéricas sobre economia e o que pretende fazer para enfrentar os desafios nesta área.


No discurso no parlatório do Palácio do Planalto, mais informal, o novo presidente disse que com sua posse o povo brasileiro começa a se "libertar do socialismo" e do "politicamente correto" e voltou a um dos bordões de campanha de que "nossa bandeira jamais será vermelha".

"Só será vermelha se for preciso o nosso sangue para mantê-la verde e amarela", disse Bolsonaro, segurando uma bandeira brasileira, enquanto a multidão em frente ao parlatório gritava "mito".

Em discurso bem mais inflamado do que o feito na cerimônia de posse no Congresso Nacional, Bolsonaro disse ainda que tem o desafio de enfrentar a crise econômica e o desemprego recorde, ao mesmo tempo que afirmou que terá preocupação com o cidadão de bem e tirará o "viés ideológico" da política externa brasileira.

Durante o discurso, as cerca de 115 mil pessoas que estavam na Esplanada dos Ministérios, de acordo com estimativas do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, gritaram também "o capitão chegou" e ovacionaram o novo presidente.

"É urgente acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais, que levou o Brasil a viver o aumento dos índices de violência e do poder do crime organizado, que tira vidas de inocentes, destrói famílias e leva a insegurança a todos os lugares", discursou Bolsonaro.

"Nossa preocupação será com a segurança das pessoas de bem e a garantia do direito de propriedade e da legítima defesa, e o nosso compromisso é valorizar e dar respaldo ao trabalho de todas as forças de segurança."

O discurso de Bolsonaro no parlatório foi precedido por uma quebra de protocolo da primeira-dama, Michelle, que se dirigiu ao público usando a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) acompanhado em voz alta por uma intérprete. Ela agradeceu o apoio da população no período em que o agora presidente ficou hospitalizado por causa da facada de que foi alvo durante evento de campanha em Juiz de Fora (MG), em setembro.

UMA SOCIEDADE SEM DIVISÃO

No Congresso, ao discursar logo após ser empossado, Bolsonaro fez alguns acenos à unificação do país, depois de ter sido eleito na campanha mais polarizada desde a redemocratização. Como no parlatório, falou de reformas e economia, mas sem mencionar especificamente a Previdência, ponto-chave entre as medidas esperadas.

"Reafirmo meu compromisso de construir uma sociedade sem divisão", disse Bolsonaro no discurso logo depois de fazer o juramento e ser empossado pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), ao lado do general da reserva Hamilton Mourão, que tomou posse como vice-presidente.


"Realizaremos reformas estruturantes, que serão essenciais para a saúde financeira e sustentabilidade das contas públicas, transformando o cenário econômico e abrindo novas oportunidades", disse Bolsonaro, que não citou nominalmente a reforma da Previdência.

"Precisamos criar um círculo virtuoso para a economia que traga a confiança necessária para permitir abrir nossos mercados para o comércio internacional, estimulando a competição, a produtividade e a eficácia, sem o viés ideológico", completou, na sua fala de 10 minutos no plenário da Câmara.

Já nesse primeiro discurso fez questão de mencionar seu compromisso com o armamento da população, tema que voltou a tratar nos últimos dias prometendo editar um decreto para garantir a posse de armas de fogo.

"O cidadão de bem merece dispor de meios para se defender. Contamos com o apoio do Congresso Nacional para os policiais fazerem seu trabalho", acrescentou, ao retomar dois temas caros que defendeu na campanha que o elegeu no final de outubro.

O novo presidente reforçou ainda o discurso com a desburocratização e o fortalecimento da democracia.

"Esses desafios só serão resolvidos mediante um verdadeiro pacto nacional entre a sociedade e os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na busca de novos caminhos para um novo Brasil", conclamou.

Durante os vários compromissos em torno da posse, Bolsonaro também respondeu um tuíte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que foi representado nas cerimônias pelo secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo.

"Parabéns ao presidente Jair Bolsonaro que acaba de fazer um ótimo discurso de posse. Os EUA estão com você!", escreveu Trump em sua conta no Twitter.

Bolsonaro retuitou a mensagem do presidente dos EUA e agradeceu. "Senhor Presidente Trump, agradeço suas palavras de apoio. Juntos, sob a proteção de Deus, traremos mais prosperidade e progresso para nossos povos!"

Antes do último evento do dia, um coquetel no Palácio do Itamaraty para as diversas autoridades estrangeiras presentes, Bolsonaro deu posse aos novos 22 ministros.

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