26 de mar. de 2020

Na Venezuela, falta até água para médicos lavarem as mãos, dizem ONGs


Pessoas empurram carro sem combustível até posto durante quarentena pelo coronavírus em Caracas 
Foto: Manaure Quintero/Reuters

Daniel Motta Da CNN - Falta o básico para os profissionais de saúde da Venezuela trabalharem nos hospitais e conter o avanço do coronavírus no país, denuncia a organização não governamental Médicos Unidos da Venezuela e a Federação Nacional de Médicos.

Um levantamento também revela que quase 70% dos setores de saúde sequer têm máscaras e sabão para higienização e quase 80% dos estabelecimentos sofre com falta de água potável. Até esta quarta-feira (25) a Venezuela contava 106 casos confirmados de COVID-19, segundo o governo, mas as associações médicas e de direitos humanos acusam Nicolás Maduro de subnotificar a doença.

De acordo com o médico Jaime Lorenzo, representante da associação, a situação tem se tornado cada vez mais crítica na Venezuela desde que surgiu o primeiro caso, mas, segundo ele, o governo de Maduro tem tratado a situação como questão política, ignorando a gravidade do coronavírus.

“É muito preocupante porque aqui, diferentemente de outros países onde quem fala são os ministros da Saúde ou chefe da área de saúde, em nosso país quem fala primordialmente são os políticos e isso é grave, por um líder em saúde sabe o que tem que fazer e entende a linguagem e como transmitir à comunidade, como tranquilizar e isso não acontece aqui”, comenta Lorenzo.

Para o médico, a maneira como o governo tem informado a população sobre o coronavírus não reflete a realidade que o país está vivendo. “Estamos convencidos que há subnotificação da realidade do que está acontecendo. Os diagnósticos estão sendo feitos exclusivamente em laboratórios e a parte clínica, que é essência dos estudos médicos, não está sendo levada em conta por eles. Diferente de outros países que a clínica serve de referência para falar de um caso suspeito”, explica o médico.

Ainda segundo as associações, em toda a Venezuela existem apenas 84 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para tratar os casos e atender outras demandas da saúde pública. Eles estimam que seriam necessários pelo menos 1,3 mil para a população de mais de 30 milhões.

“E todo o sistema de saúde pública tem altas deficiências, os laboratórios não funcionam direito e para fazer as provas, se não temos laboratórios, temos problemas. A parte de imagens, quase não está funcionando, e se falta medicamento para tratar as doenças normais, imagina para tratar o coronavírus com os protocolos de tratamento adequados”, diz Lorenzo.

Os dados do governo venezuelanos também são questionados pela Human Rights Watch.

 “Dos casos confirmados, isso é só uma pequena parte, porque a realidade é que seja muitos mais. O governo venezuelano não é transparente e ele não tem publicado dados epidemiológicos faz muito tempo”, diz Tamara Taraciuk, diretora da Human Rights Watch.

Ainda segundo a HRW, o sistema de saúde da Venezuela está colapsado “ao ponto que os médicos não têm nem água para lavar as mãos”, comentou Taraciuk.

O colapso na saúde, segundo a HRW, fez com que doenças que já haviam sido erradicadas no país voltassem, como a malária e o sarampo.  “As doenças erradicadas voltaram por conta da precarização da saúde, das más condições e da situação das pessoas, dos mais de 5 milhões de venezuelanos que precisaram deixar o país por conta da crise e adquiriram as doenças”, comentou Tamara.

Segundo os dados divulgados pelo governo de Maduro, todos os casos confirmados de coronavírus até agora no país foram importados por pessoas que viajaram para a Espanha, Colômbia, Estados Unidos, República Dominicana, Itália, Brasil e Peru.

Apesar das críticas das ONGss, o governo de Nicolas Maduro alega que as medidas implantadas na Venezuela têm apresentado resultados melhores que o Brasil e Colômbia no combate ao coronavírus. “ 
Em relação à contenção do COVID-19 no continente americano, o Brasil, um país que faz fronteira com o sul do território venezuelano "mostra uma curva não nivelada", como a Colômbia, que está caminhando para um crescimento exponencial, enquanto a Venezuela mantém uma curva achatada graças às medições feitas no paciente zero”, diz a imprensa oficial do governo.

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