28 de jun. de 2024

O “pânico profundo” da esquerda com as “fraquezas gritantes” de Joe Biden

Analistas alinhados ao Partido Democrata reconhecem constrangimento com perfomance do candidato no primeiro debate



Claire McCaskill, ex-senadora do Partido Democrata pelo estado do Missouri e atualmente analista da MSNBC, apontou na emissora de TV o fracasso de Joe Biden (foto) em sua única missão no debate de quinta/feira, 27, o primeiro de 2024 entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos:


“Primeiro, a parte fácil. Donald Trump é um mentiroso, um caráter falho, maldoso, babaca, muito antipático, e isso estava óbvio nesta noite.

Agora, a parte difícil e de partir o coração (…), mas meu trabalho é ser realmente honesta. Joe Biden precisava fazer uma coisa nesta noite e não fez. Ele tinha que tranquilizar a América, garantindo que ele estava à altura do trabalho, na idade dele. E fracassou. Isso significa que Joe Biden não será o candidato? Eu não sei.

Acho que saberemos muito mais em algumas semanas sobre como isso vai se desenrolar, como as pesquisas vão se desenrolar. Mas acho que algumas coisas estão acontecendo agora.

Acho que não sou a única pessoa cujo coração está despedaçado. Há muita gente que assistiu a isso hoje à noite e se sentiu terrível por Joe Biden. E você tem que perguntar: como chegamos até aqui? Como chegamos ao ponto de estarmos gastando tanto tempo falando sobre a vice-presidente, em vez de falar sobre o presidente? E não sei como o resto dessa história está escrito. Não sei o que pode ser feito para consertar isso. Algo pode. Trump é tão terrível que isso pode até se consertar sozinho.

Mas, com base no que estou ouvindo de muitas pessoas, e algumas delas estão em altos cargos eletivos neste país, e você pode imaginar onde elas servem, há muito mais do que lamentação nesta noite. Acho que as pessoas sentem que estamos enfrentando uma crise.

Essa pode ser uma situação sobre a qual todos conversem nos próximos dias. Acho que esse é um momento em que [os principais conselheiros de Biden] Ted Kaufman, Mike Donilon e Ron Klain terão que ter uma conversa franca com o presidente sobre a capacidade dele de transmitir força. E olha, ninguém é mais fã da [vice-presidente] Kamala Harris do que eu. E, sabe, o Gavin Newsom vem fazendo um trabalho notável.

Os dois estão sinalizando para muitos americanos que estão prestando atenção, como assim eles não estão concorrendo? Como assim o Partido Democrata não os tem como cabeça de chapa, em vez de usá-los para reforçar o que se tornaram, depois desta noite, algumas fraquezas bem gritantes em nosso presidente?”


“Há um pânico profundo”

O jornalista John King, principal correspondente da CNN americana em Washington, abriu nessa mesma linha a roda de análises da emissora de TV que promoveu o debate entre Trump e Biden:

“Neste momento, há um pânico profundo, amplo e muito agressivo no Partido Democrata. Começou minutos após o início do debate e continua agora. Envolve estrategistas partidários e autoridades eleitas.

Envolve arrecadação de fundos, e eles estão conversando sobre o desempenho do presidente, que eles consideram péssimo, que eles acham que prejudicará outras pessoas do partido na chapa.


Eles estão conversando sobre o que deveriam fazer a respeito. Algumas dessas conversas incluem [as questões]: deveríamos ir à Casa Branca e pedir ao presidente que se afastasse? Os democratas proeminentes deveriam tornar público esse apelo?”


“Foi doloroso”

Na mesma roda, Van Jones, ex-assessor especial de Barack Obama, lamentou a perfomance do candidato:

“Foi doloroso. Eu amo Joe Biden, trabalhei para ele. Ele realmente não foi bem. Ele é um bom homem, ama o país, está fazendo o melhor que pode, mas ele tinha teste nesta noite para restabelecer a confiança do país e da base, e ele falhou em fazer isso. E eu acho que muitas pessoas vão querer vê-lo considerando tomar um rumo diferente agora. Ainda estamos longe da nossa convenção e há tempo para que o partido descubra uma maneira, se ele nos permitir fazer isso. Mas o desempenho não foi o que precisávamos de Joe Biden, o que é pessoalmente doloroso para muita gente. Não é apenas pânico, é dor diante do que vimos nesta noite.”


“Envelhecido e frágil”

A jornalista Jerusalem Demsas escreveu na revista The Atlantic: “Em outra época, nenhum aparato partidário teria permitido que um Joe Biden envelhecido e frágil chegasse a este ponto.” Mark Leibovich, no mesmo portal, publicou o artigo “Hora de ir, Biden”, no qual afirmou: “O negacionismo teve seu lugar, mas não é uma estratégia.”

Os títulos das colunas do New York Times também são emblemáticos:


THOMAS L. FRIEDMAN (o editorialista do jornal que palestrou no ‘Gilmarpalooza’): “O presidente Biden é meu amigo. Ele deve sair da corrida”.

FRANK BRUNI: “Biden não pode continuar assim”.


PATRICK HEALY: “Estou ouvindo muita ansiedade dos democratas sobre a perfomance de Biden no debate”.

NICHOLAS KRISTOF: “Presidente Biden, é hora de desistir”.


Choque coletivo de realidade

Em suma, foi um choque coletivo de realidade, que atingiu até esquerdistas brasileiros.

A esquerda finalmente se deu conta de que a senilidade de Biden não é uma narrativa da direita que pode ser rebatida ou superada com outra narrativa, mas um estado gritante e indisfarçável de declínio cognitivo, perda de memória e redução da capacidade física, incompatível com a energia necessária para o exercício da presidência e a disputa eleitoral.

Seja bem-vinda, ao menos neste caso, ao mundo das análises honestas.

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