Lígia Ligabue - Jornal da Cidade de Bauru
O engenheiro e coronel-aviador Ozires Silva, que na noite de ontem recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru, sugere que o Brasil fabrique seus próprios aviões caça. Para ele, a polêmica envolvendo a compra de 36 aviões para aparelhar as Forças Armadas poderia ser resolvida se o governo encomendasse as aeronaves à Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), companhia que o bauruense fundou e presidiu.
Indústrias da França, Estados Unidos e Suécia disputam a venda dos aviões que vão renovar a frota da Força Aérea Brasileira (FAB). Para Ozires, que também já foi presidente da Petrobras, o País tem condições de fabricar seus caças.
Questionado se o Brasil tem tecnologia para isso, o ex-ministro é enfático. “Claro que temos. Essa pergunta comecei a ouvir quando fabricamos o nosso primeiro avião. Quando fiz o segundo, perguntaram de novo. No terceiro e quarto, mesma coisa. A Embraer já fez 15 modelos de aviões diferentes, com êxito em todos, e essa pergunta foi feita em todos os momentos”, conta. Ozires destaca que, atualmente, a empresa é a terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo, logo atrás da Boeing e da Airbus.
Ele avalia que não será fácil e até pondera se o investimento será recompensado, mas conclui que o esforço é válido. “É claro que no caso de um avião dessa natureza (caça) podemos até dizer que não compensa o desenvolvimento nacional devido ao preço e ao problema de competição. Está nos jornais que as companhias estrangeiras estão extremamente preocupadas em ganhar essa competição, embora estejamos falando de apenas 36 aviões. Isso mostra que o mercado não é essa maravilha”, avalia.
“Mas acho que compensa (o investimento) se puder fazer de uma forma híbrida. Por exemplo: a FAB escolhe o avião que quer e encomenda esse avião à Embraer. E ela contrata o que precisar da fábrica estrangeira. É um processo para que o aprendizado, o treinamento e o ‘know how’ necessários para fazer esses aviões mais avançados fiquem no Brasil”, acrescenta.
Dessa forma, Ozires destaca que e Embraer ficaria livre para aplicar esse conhecimento nos seus projetos futuros, sem precisar pagar licenças futuras. “Teríamos um avião com nossa marca e que poderia ser exportado para o mundo inteiro. Um avião diferente. E pode até ser civil, mais moderno e competitivo que o produzido no mercado externo”, projeta.
Esse método já foi utilizado pela própria Embraer no passado. “Foi o processo que utilizamos no começo da empresa. A FAB precisava de equipamentos a jato e eu consegui que o Estado Maior da Aeronáutica comprasse aquele avião da Embraer. Foi feito contrato com companhias estrangeiras e o avião foi fabricado aqui. Com o resultado, desenvolvemos nosso avião pressurizado, depois o Tucano. Mais tarde, uma parceria com a Itália rendeu jatos de transporte de sucesso mundial”, diz. “A estratégia foi provada e funcionou. É melhor que comprar caças de uma Boeing, Saab ou Dassault”, afirma.3
Trajetória
Nascido em Bauru em 8 de janeiro de 1931, filho de eletricista, Ozires Silva tornou-se oficial da Aeronáutica e engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Ele capitaneou as equipes que projetaram e construíram os aviões Bandeirante e Tucano. Liderou, em 1970, o grupo que promoveu a criação da Embraer e deu início à produção industrial de aviões no Brasil. Presidiu a empresa até 1986, quando assumiu a presidência da Petrobras, onde permaneceu até 1989.
No ano seguinte, assumiu o Ministério da Infra-Estrutura e, em 1991, retornou à Embraer. Também foi presidente da Varig por três anos (2000-2003) e criou em 2003 a Pele Nova Biotecnologia, primeiro fruto da Academia Brasileira de Estudos Avançados - empresa focada em saúde humana cuja missão é a pesquisa, desenvolvimento e produção de tecnologias na área de regeneração e engenharia tecidual.
Em fevereiro de 1976, a Embraer lançou, pelo documento EP-AX/065, o projeto de um jato de ataque avançado, mais evoluído do que seu projeto anterior do mesmo tipo (Embraer EMB-330). Suas principais características seriam uma turbina "fan" de alta taxa de diluição, asa alta, capacidade de operação em terrenos não preparados, dois canhões de 30mm instalados internamente, comandos assistidos nos dois eixos e oito pontos fixos para armamento.
(Arte JR Lucariny)
Ozires Silva também faz parte de uma série de conselhos e de associações de classe. O bauruense ainda é autor de livros como “Decolagem de um Sonho: História da Criação da Embraer”, “Cartas a um Jovem Empreendedor” e “Nas Asas da Educação: A trajetória da Embraer”.
Unesp homenageia ex-ministro
Ontem, em solenidade realizada no Anfiteatro Guilhermão, Ozires Silva recebeu o título de Doutor Honoris Causa, conferido de forma unânime pelo Conselho Universitário da Unesp após análise de um dossiê com documentos compilados por iniciativa do diretor da Faculdade de Engenharia da Unesp de Bauru, Alcides Padilha, e do vice-diretor, Jair Manfrinato.
Atualmente, Ozires exerce as funções de vice-presidente da Academia Brasileira de Estudos Avançados, presidente da Pele Nova Biotecnologia e diretor de tecnologia da Avamax, além de reitor do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), de Santos.
Antes da receber a homenagem, em entrevista ao Jornal da Cidade, Ozires destacou a importância da formação de profissionais ligados à área de ciências pelas universidades e também da emoção de ser homenageado em Bauru. Para ele, receber a indicação de uma faculdade de engenharia é especial.
“O que notamos hoje na cultura da juventude brasileira não é muito o estudo das ciências exatas, cuja expressão mais clara é a engenharia, que é a especialidade da construção. Sem engenheiros, nada seria construído. Vemos jovens interessados em tecnologia da informação, por exemplo, mas sobretudo na área da operação, o software. Mas sem o hardware e o conhecimento do engenheiro para fabricá-lo, nada aconteceria”, diz.
Ele destaca que enquanto a China forma cerca de 300 mil engenheiros anualmente, o Brasil capacita apenas 23 mil. “Se não nos preocuparmos como o processo educacional, teremos problemas muito mais sérios”, destaca, lembrando que a própria Embraer é fruto de desenvolvimento educacional. “Em 1948 o Ministério da Aeronáutica criou o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o primeiro do setor no País. Hoje a Embraer emprega 1,2 mil engenheiros formados pelo instituto”, conta. Veja os principais trechos da entrevista.
JC - Qual a importância de receber o título de Doutor Honoris Causa?
Ozires Silva - Saí de Bauru aos 17 anos para estudar. E voltar para a cidade para ser homenageado pela minha gente, pela minha terra, é muito emocionante. Já recebi homenagens pelo mundo todo, mas Bauru tem um significado todo especial. É onde nasci, onde tenho meus amigos. E amigos que conheci quando nenhum de nós tinha dinheiro no bolso.
JC - O senhor continua participando da Embraer?
Ozires - Hoje não tenho mais participação na Embraer, mas tenho amigos lá. O presidente atual (Frederico Curado) foi um assessor meu. A diretoria toda trabalhou comigo no passado. Também sou muito procurado por empresas estrangeiras interessadas em aviação que pedem para eu fazer o contato com a Embraer.
JC - Na sua carreira, o que ainda falta conquistar?
Ozires - Não tenho ambições de receber prêmios, nunca tive. Acredito até que as pessoas são muito mais generosas no meu julgamento do que eu realmente mereça. Mas eu não almejo nada. O que me dá satisfação grande, e acho que é da natureza humana, é o dever cumprido e de ter sido criativo, ter captado coisas diferentes.
JC - Atualmente, qual projeto o senhor desenvolve?
Ozires - Estou empolgado com uma empresa de biotecnologia que criei, de tecnologia extremamente avançada. Espero que no meu período de vida eu possa levar essa companhia ao êxito. Tenho coisas diferentes também, mas a mais concreta é essa, a Pele Nova Biotecnologia. Pesquisadores da USP descobriram no látex da seringueira uma proteína que estimula a vascularização sangüínea. Assim, acredito - sobretudo para pessoas mais velhas - numa grande aplicação na debelação de feridas de difícil cura, que precisa de regeneração celular, regeneração tecidual. E na linha de cosméticos, essa proteína pode ser aplicada para estimular a produção de colágeno.
JC - Pensa em se aposentar?
Ozires - O que mais preocupa o idoso é a saúde, e enquanto estiver saudável, vou trabalhando. Não pretendo me aposentar. Acho que o trabalho até rejuvenesce. Sempre vivi na correria, trabalhando, com pessoas me procurando e eu procurando pessoas. Faz com que a gente participe da comunidade. É muito bom.
Indústrias da França, Estados Unidos e Suécia disputam a venda dos aviões que vão renovar a frota da Força Aérea Brasileira (FAB). Para Ozires, que também já foi presidente da Petrobras, o País tem condições de fabricar seus caças.
Questionado se o Brasil tem tecnologia para isso, o ex-ministro é enfático. “Claro que temos. Essa pergunta comecei a ouvir quando fabricamos o nosso primeiro avião. Quando fiz o segundo, perguntaram de novo. No terceiro e quarto, mesma coisa. A Embraer já fez 15 modelos de aviões diferentes, com êxito em todos, e essa pergunta foi feita em todos os momentos”, conta. Ozires destaca que, atualmente, a empresa é a terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo, logo atrás da Boeing e da Airbus.
Ele avalia que não será fácil e até pondera se o investimento será recompensado, mas conclui que o esforço é válido. “É claro que no caso de um avião dessa natureza (caça) podemos até dizer que não compensa o desenvolvimento nacional devido ao preço e ao problema de competição. Está nos jornais que as companhias estrangeiras estão extremamente preocupadas em ganhar essa competição, embora estejamos falando de apenas 36 aviões. Isso mostra que o mercado não é essa maravilha”, avalia.
“Mas acho que compensa (o investimento) se puder fazer de uma forma híbrida. Por exemplo: a FAB escolhe o avião que quer e encomenda esse avião à Embraer. E ela contrata o que precisar da fábrica estrangeira. É um processo para que o aprendizado, o treinamento e o ‘know how’ necessários para fazer esses aviões mais avançados fiquem no Brasil”, acrescenta.
Dessa forma, Ozires destaca que e Embraer ficaria livre para aplicar esse conhecimento nos seus projetos futuros, sem precisar pagar licenças futuras. “Teríamos um avião com nossa marca e que poderia ser exportado para o mundo inteiro. Um avião diferente. E pode até ser civil, mais moderno e competitivo que o produzido no mercado externo”, projeta.
Esse método já foi utilizado pela própria Embraer no passado. “Foi o processo que utilizamos no começo da empresa. A FAB precisava de equipamentos a jato e eu consegui que o Estado Maior da Aeronáutica comprasse aquele avião da Embraer. Foi feito contrato com companhias estrangeiras e o avião foi fabricado aqui. Com o resultado, desenvolvemos nosso avião pressurizado, depois o Tucano. Mais tarde, uma parceria com a Itália rendeu jatos de transporte de sucesso mundial”, diz. “A estratégia foi provada e funcionou. É melhor que comprar caças de uma Boeing, Saab ou Dassault”, afirma.3
Trajetória
Nascido em Bauru em 8 de janeiro de 1931, filho de eletricista, Ozires Silva tornou-se oficial da Aeronáutica e engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Ele capitaneou as equipes que projetaram e construíram os aviões Bandeirante e Tucano. Liderou, em 1970, o grupo que promoveu a criação da Embraer e deu início à produção industrial de aviões no Brasil. Presidiu a empresa até 1986, quando assumiu a presidência da Petrobras, onde permaneceu até 1989.
No ano seguinte, assumiu o Ministério da Infra-Estrutura e, em 1991, retornou à Embraer. Também foi presidente da Varig por três anos (2000-2003) e criou em 2003 a Pele Nova Biotecnologia, primeiro fruto da Academia Brasileira de Estudos Avançados - empresa focada em saúde humana cuja missão é a pesquisa, desenvolvimento e produção de tecnologias na área de regeneração e engenharia tecidual.
Em fevereiro de 1976, a Embraer lançou, pelo documento EP-AX/065, o projeto de um jato de ataque avançado, mais evoluído do que seu projeto anterior do mesmo tipo (Embraer EMB-330). Suas principais características seriam uma turbina "fan" de alta taxa de diluição, asa alta, capacidade de operação em terrenos não preparados, dois canhões de 30mm instalados internamente, comandos assistidos nos dois eixos e oito pontos fixos para armamento.
(Arte JR Lucariny)
Ozires Silva também faz parte de uma série de conselhos e de associações de classe. O bauruense ainda é autor de livros como “Decolagem de um Sonho: História da Criação da Embraer”, “Cartas a um Jovem Empreendedor” e “Nas Asas da Educação: A trajetória da Embraer”.
Unesp homenageia ex-ministro
Ontem, em solenidade realizada no Anfiteatro Guilhermão, Ozires Silva recebeu o título de Doutor Honoris Causa, conferido de forma unânime pelo Conselho Universitário da Unesp após análise de um dossiê com documentos compilados por iniciativa do diretor da Faculdade de Engenharia da Unesp de Bauru, Alcides Padilha, e do vice-diretor, Jair Manfrinato.
Atualmente, Ozires exerce as funções de vice-presidente da Academia Brasileira de Estudos Avançados, presidente da Pele Nova Biotecnologia e diretor de tecnologia da Avamax, além de reitor do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), de Santos.
Antes da receber a homenagem, em entrevista ao Jornal da Cidade, Ozires destacou a importância da formação de profissionais ligados à área de ciências pelas universidades e também da emoção de ser homenageado em Bauru. Para ele, receber a indicação de uma faculdade de engenharia é especial.
“O que notamos hoje na cultura da juventude brasileira não é muito o estudo das ciências exatas, cuja expressão mais clara é a engenharia, que é a especialidade da construção. Sem engenheiros, nada seria construído. Vemos jovens interessados em tecnologia da informação, por exemplo, mas sobretudo na área da operação, o software. Mas sem o hardware e o conhecimento do engenheiro para fabricá-lo, nada aconteceria”, diz.
Ele destaca que enquanto a China forma cerca de 300 mil engenheiros anualmente, o Brasil capacita apenas 23 mil. “Se não nos preocuparmos como o processo educacional, teremos problemas muito mais sérios”, destaca, lembrando que a própria Embraer é fruto de desenvolvimento educacional. “Em 1948 o Ministério da Aeronáutica criou o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o primeiro do setor no País. Hoje a Embraer emprega 1,2 mil engenheiros formados pelo instituto”, conta. Veja os principais trechos da entrevista.
JC - Qual a importância de receber o título de Doutor Honoris Causa?
Ozires Silva - Saí de Bauru aos 17 anos para estudar. E voltar para a cidade para ser homenageado pela minha gente, pela minha terra, é muito emocionante. Já recebi homenagens pelo mundo todo, mas Bauru tem um significado todo especial. É onde nasci, onde tenho meus amigos. E amigos que conheci quando nenhum de nós tinha dinheiro no bolso.
JC - O senhor continua participando da Embraer?
Ozires - Hoje não tenho mais participação na Embraer, mas tenho amigos lá. O presidente atual (Frederico Curado) foi um assessor meu. A diretoria toda trabalhou comigo no passado. Também sou muito procurado por empresas estrangeiras interessadas em aviação que pedem para eu fazer o contato com a Embraer.
JC - Na sua carreira, o que ainda falta conquistar?
Ozires - Não tenho ambições de receber prêmios, nunca tive. Acredito até que as pessoas são muito mais generosas no meu julgamento do que eu realmente mereça. Mas eu não almejo nada. O que me dá satisfação grande, e acho que é da natureza humana, é o dever cumprido e de ter sido criativo, ter captado coisas diferentes.
JC - Atualmente, qual projeto o senhor desenvolve?
Ozires - Estou empolgado com uma empresa de biotecnologia que criei, de tecnologia extremamente avançada. Espero que no meu período de vida eu possa levar essa companhia ao êxito. Tenho coisas diferentes também, mas a mais concreta é essa, a Pele Nova Biotecnologia. Pesquisadores da USP descobriram no látex da seringueira uma proteína que estimula a vascularização sangüínea. Assim, acredito - sobretudo para pessoas mais velhas - numa grande aplicação na debelação de feridas de difícil cura, que precisa de regeneração celular, regeneração tecidual. E na linha de cosméticos, essa proteína pode ser aplicada para estimular a produção de colágeno.
JC - Pensa em se aposentar?
Ozires - O que mais preocupa o idoso é a saúde, e enquanto estiver saudável, vou trabalhando. Não pretendo me aposentar. Acho que o trabalho até rejuvenesce. Sempre vivi na correria, trabalhando, com pessoas me procurando e eu procurando pessoas. Faz com que a gente participe da comunidade. É muito bom.
Fonte: Blog do Vinna
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